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agosto 29, 2005

Produtividade à beira-mar

Estamos na época estival. É a época de férias e é a época em que há mais ofertas de emprego sazonal (*) – empregados no sector de restauração em zonas balneares, nadadores salvadores, secretárias, processadoras de texto e outros para substituírem temporariamente algum pessoal que foi de férias, etc.. Enquanto observo as ondas, pequeninas, a espreguiçarem-se lentamente pela areia, imagino o que farão estudantes que precisam arranjar um emprego no Verão para ajudar a custear a sua actividade discente. Que hipóteses encararão? Provavelmente as escolhas mais óbvias: nadador-salvador ou lavar pratos e varrer e limpar a cozinha em algum restaurante nas zonas balneares.

Que factores influirão a oferta de trabalho desses estudantes?:
1) O tradeoff (escolha entre soluções onde a escolha de uma, implica a não escolha da outra) entre trabalho e lazer. Quanto mais baixo for o salário menos interesse eles terão em sacrificar o tempo de férias.

2) Nível geral de desemprego. Se a taxa de desemprego for elevada, haverá, provavelmente (em Portugal nada é certo, pois os mercados estão de tal modo distorcidos, que o seu comportamento é cheio de surpresas), maior oferta no mercado de trabalho. Os estudantes encontrarão a concorrência dos desempregados e o salário de equilíbrio descerá.

Estes factores afectam igualmente todos os estudantes que pretendam emprego estival, portanto não têm influência na escolha entre nadador-salvador ou lavador de pratos. Passemos adiante.

3) Oportunidades alternativas noutros mercados. Aqui chegamos à questão da escolha entre nadador-salvador ou lavador de pratos. Qual será a preferência: estar na praia a ver a evolução dos banhistas, metendo conversa com outros jovens e combinando farras nocturnas; ou estar entre as 11:30 e as 24:00 (com um descanso entre as 15:30 e as 18:00) ao calor dos equipamentos de cozinha, encerrado entre pratos, travessas e panelas?

É natural que estes estudantes aceitem com maior agrado um emprego de nadador-salvador que de lavador de pratos. Neste entendimento os concessionários das praias serão induzidos a proporem um salário mais baixo (porque têm mais facilidade em recrutarem candidatos) que os proprietários dos restaurantes. Há um diferencial compensatório – uma diferença salarial que resulta das características não monetárias dos diferentes empregos.

Não me parece que a qualificação aqui seja importante. No Sotavento algarvio, quando há Levante içam a bandeira vermelha e apitam, apitam imoderadamente; quando não há, ficam placidamente a contemplar o horizonte e os corpos a bronzear. Eu tenho o exemplo desta praia. Um dos nadadores-salvadores deve ter 1,60m, incluindo os 5 cm de cabelo eriçado com gel. Obviamente que se houver um sinistro ele usará de preferência o apito e só à força será arrastado para a água, preocupado sobre quanto lhe irá custar uma ida urgente ao cabeleireiro para repor o statu quo ante. O outro, alto e espadaúdo, oferecia-me segurança até ter observado um nadador-salvador veterano, que foi à praia por causa de um evento turístico, lhe estar a explicar, por palavras e gestos, como se tirava e metia o braço na água, os movimentos dos braços debaixo de água, qual o ângulo que cada mão deve fazer quando entra na água, etc., enfim … as técnicas elementares do crawl. A partir daí, ele passou a ser motivo de preocupação e não de conforto. Se ele cair da mota de água terão que ser os banhistas a ir resgatá-lo, enquanto o colega fica a assobiar aflitivamente junto à arrebentação,

Todavia estas explicações poderão deixar confusos aqueles que ouviram dizer que uma empresa maximizadora de lucro, num mercado concorrencial, contrata trabalhadores até ao ponto em que o valor do produto marginal do trabalho seja igual ao salário. Alguns estarão a interrogar-se sobre se não deveria ser o valor do produto marginal do trabalho do nadador-salvador ou do lavador de pratos que ditaria o salário respectivo.

Ora as duas condições (1– o salário ajusta-se para equilibrar a oferta e a procura de mão-de-obra; 2 – o salário é igual ao valor do produto marginal do trabalho) ocorrem simultaneamente. Qualquer factor que altere a oferta ou a procura de mão-de-obra deve alterar o salário de equilíbrio e o valor do produto marginal do trabalho no mesmo montante, porque eles devem ser iguais.

Por exemplo, quando há falta de mão-de-obra de um dado tipo (ou com uma determinada qualificação) o salário aumenta e também o valor do produto marginal do trabalho, sem qualquer aumento da produtividade medida em termos físicos. Quando foi a construção da Expo98, entre 1995 e 1998, os engenheiros civis, a partir de um certo nível de qualificação, eram pagos a “peso de ouro” e mesmo assim era difícil arranjá-los. Isso não significava que a produtividade desses engenheiros, medida em termos físicos, fosse 30% ou 40% superior à do ano anterior. Apenas o produto marginal do trabalho desses engenheiros, em termos monetários, se ajustara às novas condições do mercado.

Todavia isto só é válido para sectores que produzem bens ou serviços não transaccionáveis com o exterior. Nos sectores abertos ao exterior, a curva da procura é condicionada pelo preço de mercado do bem produzido, fixado pela concorrência em economia aberta e globalizada, e é por isso que salários acima de um certo valor liquidam a competitividade da empresa (refiro-me ao salário englobando todas as remunerações sociais, incluindo aquelas que são pagas directamente pelas empresas). É o que está a suceder nos sectores menos qualificados dos têxteis e do calçado, que fecham as portas, ou se deslocalizam.

Não é o que acontece nas escolhas que apresentei. O nadador-salvador, baixinho e de cabelo eriçado com gel, não está sedeado aqui, a salvar banhistas no Lido de Veneza ou no Hawai. Quanto ao lavador de pratos, também não está no restaurante da esquina a lavar pratos para um restaurante suíço. Os seus salários estão condicionados pelas curvas de oferta de trabalho locais que por sua vez estão condicionadas pelas curvas de oferta de trabalho dos sectores abertos ao exterior. Se eles estivessem no Lido de Veneza ou no Hawai ganhariam muito mais, embora neste último caso, se forem da Baywatch, precisassem de um salário robusto para cobrir os riscos das catástrofes diárias e os custos das cirurgias plásticas.

Ou seja, são os sectores abertos ao exterior que definem a produtividade do trabalho num dado país. Os restantes sectores alinham obrigatoriamente por estes. Portanto os nossos salários estão ligados à produtividade física dos trabalhadores dos sectores abertos ao exterior. Poderá haver flutuações, mas em termos globais é assim que sucede.

Jorge Sampaio e o nadador-salvador, baixinho e de cabelo eriçado com gel, têm coisas em comum: o seu salário está ligado à produtividade dos trabalhadores da Auto-Europa e assobiam porque não sabem agir ou quando agem, disparatam. Diferem numa coisa: se a Auto-Europa fechar, Jorge Sampaio receberá uma reforma elevada (a menos que os cofres do Estado se exaurirem) enquanto que o nadador-salvador baixinho terá que ir apanhar conquilha.


(*) O que levou a Ana Sousa Dias, que ignora estes fenómenos complexos, a advertir solenemente o Prof. Marcelo, quando ele ontem falava no desemprego, que este havia diminuído entre o 2º e o 3º trimestres.

Publicado por Joana às agosto 29, 2005 05:23 PM

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Comentários

Se for apanhar conquilha não estraga o cabelo. Sempre é um consolo.

Publicado por: Bsotto às agosto 29, 2005 06:08 PM

O Sampaio deve andar com as orelhas a arder. Ser comparado a um nadador-salvador meia-leca e desajeitado ...

Publicado por: c seixas às agosto 29, 2005 06:46 PM

Uh-uh. O que mais preocupa o Sampaio é mesmo o que por aqui se diz dele.

Publicado por: Sim, sim às agosto 29, 2005 07:01 PM

Instrutivo

Publicado por: Lopes às agosto 29, 2005 08:42 PM

Este post é útil porque há muita confusão quando se fala em produtividade do trabalho. Um barbeiro em Portugal pode fazer tantos cortes de cabelo como em França e receber 40% ou 50%. A sua produtividade do trabalho será por isso 40% ou 50% da produtividade do barbeiro em França.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 29, 2005 09:45 PM

Outra coisa - a nossa produtividade está relacionada com a nossa capacidade de equilibrarmos as nossas contas externas, ou seja, que os nossos sectores abertos sejam concorrenciais, exportando ou evitando importaçãoes.
Isto aliás está implícito no post

Publicado por: Novais de Paula às agosto 29, 2005 09:48 PM

Pronto, ficamos a saber que Joana voltou de férias ! Textos longos e dedicados aos ódios de estimação !

Publicado por: zippiz às agosto 29, 2005 10:20 PM

Vou passar a olhar mais em detalhe para os nadadores salvadores

Publicado por: Sa Chico às agosto 30, 2005 12:09 AM

zippiz: Não sabia que a Joana tinha um ódio de estimação pelos nadadores salvadores.

Publicado por: Sa Chico às agosto 30, 2005 12:10 AM

Por acaso, passar 2 a 3 meses numa praia e ainda ganhar com isso, é capaz de não ser mau

Publicado por: ruizinho às agosto 30, 2005 08:38 AM

Novais de Paula às agosto 29, 2005 09:45 PM

Em contrapartida, a produtividade do trabalho de um operário fabril português poderá ser mais de 100 vezes superior à de um chinês.

Para quem não percebe, isto até pode parecer reconfortante...

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 09:12 AM

Hoje não se aprende nada aqui. São só pequenas vagas e ondulações. Cheira a maresia.
Vou para Nova Orleães.

Publicado por: Senaqueribe às agosto 30, 2005 09:31 AM

O que quer dizer que a solução para o desemprego crescente na nossa Economia, seria declarar o ano inteiro, como época sazonal de verão... Isso ou mandar rebocar o país (tipo Jangada de Pedra) até aos trópicos, e encostá-lo ao Brasil.

É óbvio que estes empregos sazonais não fazem mais nada além de aumentar a insegurança e os baixos rendimentos dos portugueses e retrair ainda mais o consumo... Quando se perceberá que este modelo económico baseado no turismo e na indústria de baixos salários não tem futuro?

Publicado por: rui martins às agosto 30, 2005 10:15 AM

O gajo marca:

Ele é reforma das reformas dos funcionários públicos; ele é listas de colocações dos professores a tempo e horas; ele é alteração do período de dispensa dos candidatos autárquicos.
Mas por aqui só falam do que está mal.
Velhos!

Publicado por: Esquerdalhaço às agosto 30, 2005 12:14 PM

O sistema de colocação de professores utilizado foi o da anterior ministra. Aquela que não quis ir à AR porque já estava farta de política.

Publicado por: sisifo às agosto 30, 2005 12:17 PM

Não podemos ter só empregos turísticos com a população a envelhecer. Nadadores salvadores com 50 anos?

Publicado por: sisifo às agosto 30, 2005 12:19 PM

Assim vou deixar de pagar propinas. Queria um curso de Política e não de Economia.

Publicado por: vitapis às agosto 30, 2005 12:22 PM

E daí, talvez Medicina me interessasse mais.

Publicado por: vitapis às agosto 30, 2005 12:23 PM

Joana, é impressão minha ou neste post deu uma excelente perspectiva do chamado efeito Balassa-Samuelson? O Jorge Sampaio teria de ter muito cuidado como nadador-salvador, porque tem uma pele muito clarinha.

Publicado por: Alexandre M. Matias às agosto 30, 2005 12:43 PM

Em entrevista de ontem ao jornal Público, os autores do PIIP (Valadares Tavares e Victor Martins, ambos funcionários públicos, um no INA outro no ISEG) admitem que a escolha dos investimentos resultou da preocupação em manter emprego no sector da construção - o nosso sector privado isolado da concorrência externa e caracteristicamente "rent seeking".

Já aqui tenho criticado o fundamentalismo das análises Joaninas, mas esta entrevista vem dar razão a muita coisa do que aqui escreveu.

Publicado por: J.A. às agosto 30, 2005 01:05 PM

Um post estival!

Publicado por: V Forte às agosto 30, 2005 02:18 PM

J.A. os entrevistados falam na manutenção de emprego, e não especificamente na construção civil (embora refiram que esse emprego não exige muita qualificação, o que surge em jeito de aparte). Suponho que o critério Nº1 foi o do caracter estratégico do investimento.

O que é o caracter estratégico? Suponho que tem a ver com o estímulo à competividade do país. Claro que se a competitividade for melhorada, isso também se deve expressar em oportunidades de trabalho. Para produzir, ainda são precisos trabalhadores. E também são os trabalhadores que operam as máquinas que produzem máquinas mais complicadas e competitivas. Só que se calhar esses trabalhadores já não são portugueses!

Se nós tivermos máquinas muito competitivas e eficientes poderemos passar mais tempo à beira-mar, a apreciar a apanha da conquilha e a bebermos imperiais ou panachés acompanhados por camarões cozidos. Se bem que os camarões sejam perniciosos porque espevitam comportamentos alérgicos e alteiam os valores do colesterol. Ainda por cima são importados na sua maioria. Pelo menos em Espinho, os camarões aí pescados devem ser insuficientes para o consumo de toda a gente.

Publicado por: Ramiro às agosto 30, 2005 02:24 PM

O sector da Construção Civil não é completamente isolado do exterior, pois tem a concorrência internacional, principalmente dos espanhois, por empresas espanholas e/ou por empresas portuguesas que foram compradas pelos espanhois (e também dos franceses e outros em menor grau)

Publicado por: Hector às agosto 30, 2005 02:24 PM

Ramiro às agosto 30, 2005 02:24 PM:
Não me parece que a substituição da Portela pela Ota seja um investimento estratégico.

Publicado por: Hector às agosto 30, 2005 02:27 PM

Hector às agosto 30, 2005 02:27 PM
Os entrevistados dizem que não se debruçaram sobre essas decisões, visto que dois professores universitários não se podem sobrepor à maioria dos eleitores portugueses que votaram num partido que propunha esses gloriosos investimentos. E portanto, como essa decisão estava tomada, Hector, eles não a estudaram. Parece inteligente. Mas o governo deixa vagamente no ar que aquela comissão validou esses investimento. Também deve ser inteligente, claro.

Publicado por: Ramiro às agosto 30, 2005 02:34 PM

Hector às agosto 30, 2005 02:27 PM

Vamos começar por ler aqui:
http://www.gep-mopth.pt/download/PIIP_Relatorio.pdf

e depois cada um ficará no que lhe parece.

PS1: Não li o Público de ontem

PS2 att. de J.A.: "Valadares Tavares e Victor Martins, ambos funcionários públicos". Eu acrescentaria: ambos portugueses de "raça" branca e do sexo masculino...

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 02:37 PM

Claro que o ónus da prova no que respeita à necessidade dos investimentos do PIIP (porquê martelar só na OTA e no TGV?) pende sobre o Governo de Sócrates.
O país não está em condições de fazer investimentos de vulto, nem os portugueses estão em condições de o aceitar, sem que o Governo explique as vantagens de investir (e as desvantagens de não investir).

No entanto, constata-se que diversas vozes se levantam contra o plano de investimentos do Governo, fazendo-o com acutilância tal, que sou levado a pensar que estão na posse de estudos que demonstram que esses investimentos são prejudiciais.

É melhor que o Governo e os contestatários façam rapidamente sair os estudos de que dispõem. Senão andaremos todos (os que duvidam) indecisos entre o Reino (parafraseando o Hector) do "Não me Parece" e o Reino do "Parece-me"...

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 02:54 PM

O TGV não será prpriamente estratégico, mas a ligação ferroviária de Lisboa às outras capitais europeias é importante.

Publicado por: c seixas às agosto 30, 2005 03:18 PM

Vítor, ontem na sua crónica no DN João Cravinho dizia que o TGV era necessário para criar um polo urbano Lisboa-Porto. Parecia que assim a gente pacatamente poderia viver em Lisboa e ir trabalhar no Porto, como quem vai trabalhar ao Porto moarando em Matosinhos. Parecia que isso era o supra-sumo do desenvolvimento.

Na comparação dos projectos de investimento, também estão vias diferentes de desenvolvimento da sociedade e do território. Com o TGV o país rural seria uma seca (uma seca ardida) e a gente viajaria rapidamente sem quase nos darmos conta disso. E sem o TGV? Permaneceremos enclausurados nas carruagens, privando com senhoras que transportam couves imensas em sacas da terra para as poder saborear nas suas casinhas das periferias urbanas?!

Os senhores professores disseram na entrevista que o povo votou e assim escolheu esses emblematicos investimentos. Um maravilhoso aeroporto, moderníssimo, e um TGV que se apanha na Estação do Oriente, que permite fazer o check in, e nos leva às entranhas das aeronaves, conforme dizia há uns anos o Dr. Jorge Coelho. O povo escolheu. Se o povo tivesse escolhido o dr. Santana Lopes, aconteceriam outras maravilhas. Preferimos o modernismo do Doutor Coelho, agora não nos podemos queixar.

É mais ou menos assim que as grandes decisões são tomadas.

Publicado por: Ramiro às agosto 30, 2005 03:28 PM

A propósito da Ota:

pode o governo sff colocar em linha os estudos sobre o aeroporto da ota para que na sociedade portuguesa se valorize mais a "busca de soluções" em detrimento da "especulação" ?

Onde é que eu já li isto? acho que já vamos no segundo mês!

Publicado por: Joao P às agosto 30, 2005 03:45 PM

Para tornar o cenário mais complexo ainda:

Podemos usar metodologias que nos dizem qual o retorno, em euros, por cada euro investido.
E validar este Plano de Investimentos com base nesta e noutras metodologias.

Depois, com base noutros critérios e outras metodologias, é possível defender que, afinal, este plano só nos vai afundar ainda mais.

O português médio, que só lê A Bola, passa a correr pela 2 e considera os economistas uns chatos engravatados, não percebe.
Remete para o domínio do político. Do intangível.
E espera que o seu clube vença na próxima jornada...

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 03:57 PM

Vítor às agosto 30, 2005 02:54 PM:
Julgo que está aver a questão ao contrário. As pessoas martelam na Ota e no TGV, porque não estão de acordo com eles (principalmente com a Ota). Não é estarem contra o PIIP.
Já alguém contestou o investimento nas eólicas? Ou na banda Larga?

Publicado por: AJ Nunes às agosto 30, 2005 04:05 PM

Há um pequeno senão : onde é que a Joana foi buscar a ideia de que um nadador-salvador ganha menos que um lavador de pratos? Do que sei, a situação é exactamente a inversa...donde se pode concluir que grande parte da teoria da Joana cai por terra... um nadador-salvador ganha por época (3 meses) um salário na ordem dos 1000 a 1500 euros líquidos mensais... diga-me qual é o lavador de pratos que ganha semelhante maquia que eu vou lá dar uma ajuda....

Publicado por: Xiko às agosto 30, 2005 04:26 PM

A) Ramiro às agosto 30, 2005 02:24 PM

Escreve que "Se nós tivermos máquinas muito competitivas e eficientes poderemos passar mais tempo à beira-mar, a apreciar a apanha da conquilha e a bebermos imperiais ou panachés acompanhados por camarões cozidos."

Então ainda não percebeu que essa deriva já chegou ao fim? Eu sei que é bom sonhar com a manutenção do Estado-Providência, mas já não deve ser para a sua geração (mesmo admitindo que ainda usa fraldas).

Ao contrário do que diz, Valadares Tavares e Victor Martins dão grande importância à manutenção do emprego e à contribuição do sector da construção. Veja este parágrafo retirado da entrevista: "Um grande sector de emprego é a construção, aí [o PIIP] significa manter emprego particularmente nas obras públicas. Conserva também empregos na área do turismo, da reabilitação urbana. Aí há emprego que é emprego tradicional, não muito qualificado."

É claro que na entrevista também falam dos sectores que supõem inovação tecnológica, nomeadamente a eólica, mas em lado nenhum dizem que isso é o principal (e a manutenção do emprego o secundário). Mais uma citação: "Este programa [PIIP] é importante porque conserva empregos. Conservar empregos em Portugal é absolutamente necessário porque o desemprego já é um dos problemas do desequilíbrio das finanças públicas, designadamente na conta da segurança social."

Victor Martins é o coordenador do relatório sobre o Euro 2004, onde se pode ler: ""o impacto do Euro 2004 no PIB não é significativo, como já se esperava. Contudo, dada a situação recessiva da economia, neste período, o impacto não pode ser considerado negligenciável".

Mais à frente atribui ao Euro 2004 a "captação de novos públicos para a cultura", a "divulgação de novas criações e produções artísticas nacionais e internacionais" e a "implementação de uma rede de criação, produção e programação cultural à escala nacional". Se duvida leia em:
http://www.portugal2004.pt/documents/Avaliacao_Economica/Relatorio_Principal_EURO2004.pdf

Não tenha ilusões: esta gente pretende manter emprego artificialmente em função do ciclo político. Foi aliás por isso que foram convidados por Sócrates para "viabilizar" o PIIP.

Outro argumento idiota utilizado pelas duas luminárias é o de que temos de fazer certos investimentos para "não perder" fundos comunitários. Mas a nossa estratégia não deve ser definida de fora, canalizando-a para investimentos que muitas vezes reflectem apenas as necessidades de escoamento de bens de capital da Alemanha e da França. Além disso, na "arena" que é Bruxelas, é sempre possível substituir um tipo de investimento por outro (particularmente se se mantiver um nivel razoável de importações de bens de capital desses mesmos países...)

Hector às agosto 30, 2005 02:24 PM:
O sector da construção civil é um sector protegido da concorrência exterior, não duvide, porque se tratam de bens não transaccionáveis. Mais: é um sector protegido da concorrência tout court. O investidor estrangeiro, através de consórcios ou aquisições de empresas portuguesas (e que continuam a ser portuguesas na tecnologia, na gestão, na cultura) aproveita-se dessa mesma situação; nada muda, a não ser a "nacionalidade" do capital, mas isso para o consumidor (ou para o país em termos de produtividade) não muda nada. Mas talvez eu me engane e você me dê exemplos de aumentos de produtividade neste sector induzidos por essa tal "concorrência"...

Publicado por: J.A. às agosto 30, 2005 04:36 PM

AJ Nunes às agosto 30, 2005 04:05 PM

Esse é o cerne da questão.
Porquê discordar apenas da OTA e do TGV? E discordar com base em quê?

PS: não leia nas minhas palavras qualquer tomada de posição sobre os investimentos em causa. Refiro-me apenas à fundamentação das tomadas públicas de posição dos defensores e dos detractores.

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 04:57 PM

J.A. às agosto 30, 2005 04:36 PM

Diz que V. Tavares e V. Martins "falam dos sectores que supõem inovação tecnológica...mas em lado nenhum dizem que isso é o principal"

Mas, digo eu, também em lado nenhum "admitem que a escolha dos investimentos resultou da preocupação em manter emprego no sector da construção".
É que, escrito assim, parece que é esse o objectivo principal...

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 05:04 PM

"Não tenha ilusões: esta gente pretende manter emprego artificialmente em função do ciclo político. Foi aliás por isso que foram convidados por Sócrates para "viabilizar" o PIIP."

Mas será que esses dois senhores não têm um mínimo de carácter e se dispõem a fazer fretes a Sócrates para manter o emprego?
Não terão inteligência suficiente para arranjar emprego de uma forma mais digna?

J.A., não acredito na suas palavras!


Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 05:12 PM

Está excelente. Cada vez que se fala de produtividade de trabalho, ou se escreve sobre ela, vê-se que há muita confusão sobre o exacto significado disso.

Publicado por: luciano às agosto 30, 2005 05:25 PM

Mas isso da OTA e do TGV é pouco, quando comparado com o petróleo nos 70 dólares e a subir.
A culpa é de uma avaria numa qualquer refinaria americana, do mau tempo no Mar do Norte, do crescimento económico chinês, do Katrina, é o mercado a funcionar, etc.

Estes gajos andam a gozar connosco…

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 05:46 PM

Vítor às agosto 30, 2005 05:04 PM

Caro amigo: estes "especialistas" deram uma entrevista, onde disseram que "conservar empregos em Portugal é absolutamente necessário", nomeadamente por causa do défice da segurança social; justificam a escolha de investimentos "porque já foram decididos antes" e porque "não podemos perder fundos comunitários". São tudo patetices mas estão chapadas na entrevista. Eu tenho alguma culpa disso ?

É sabido que a reestruturação industrial terá de causar desemprego: como aconteceu com a Espanha, que chegou a ter um desemprego próximo dos 20 % enquanto Portugal nunca chegou aos 10 %.

Neste momento, fazer essa reestruturação industrial é suicidário em termos eleitorais: daqui a três anos Sócrates perderia as eleições. Sendo assim optou pelo mais fácil: retira uma pequena fatia de rendimento a cada funcionário e com isso (e alguns fundos comunitários) vai tentar sustentar o emprego. E pede a dois "especialistas" em fazer este tipo de favores que assinem por baixo - qual é a dúvida?

Repito: leiam as conclusões do relatório do Euro 2004. O mais idiota dos programas de investimento público aparece ali "pintado de cor-de-rosa: ele é o prestígio de Portugal a aumentar, ele é a "rede de criação, produção e programação cultural", ele é o aumento da auto-estima dos portugueses. Maus investimentos nos estádios ? Nenhum! Quanto aos privados (diz o relatório!) os bancos devem ter feito as contas ao risco, portanto deve estar tudo bem... quanto às Câmaras que se enterraram nos estádios, "não há excesso de endividamento"...
(Se duvidam, leiam o relatório)

Quanto a Valadares Tavares, o formoso prof. da Universidade de Verão do PSD, que oportunamente rumou para as "novas fronteiras"
(http://osestadosdanacao.blogspot.com/2005_02_27_osestadosdanacao_archive.html#110969750054825757)
já recebeu o prémio "Ignóbil do Canhoto" por um estudo incompetente:
http://ocanhoto.blogspot.com/2005/07/ignbeis-do-canhoto-2.html

Não sei que vos diga mais. Eu não sou adepto da desregulamentação, com base na teoria de que o mercado tudo resolverá. Duvido. Mas também não me peçam para ir atrás destes patetas alegres (refiro-me aos 2 "especialistas").

No entanto, admitoo: provavelmente estarei enganado, e já a seguir alguém nos virá dar exemplos de posições técnicas coerentes e competentes por parte destas duas luminárias.


Publicado por: J.A. às agosto 30, 2005 06:06 PM

Publicado por: Vítor às agosto 30, 2005 05:46 PM

Como diria a Joana, D>S logo p aumenta. O aumento de D-S pode ser actual ou simplesmente prospectivo.

O Partido Socialista ganhou - é natural que os investimentos tenham em conta o emprego. Agora se ganhar o Prof. Cavaco, é natural que os investimentos sejam do grande capital, poupadores de emprego.

Publicado por: Manuel Tangente às agosto 30, 2005 06:08 PM

Peço desculpa por voltar a falar nisto. Como já referi, no relatório do Euro 2004 é dito que o programa não causou problemas às autarquias. Diz-se especificamente (pag. 82): "a preocupação que poderia existir com o endividamento das autarquias, em resultado do Euro 2004, não se confirma (...)".

Porém, na recente entrevista ao Público, o mesmo Victor Martins que coordenou esse Relatório, e sobre o mesmo assunto, diz: "quanto às autarquias, têm de gerir as decisões que tomaram e o seu resultado. No futuro, provavelmente pensarão antes de tomar decisões desta natureza" [refere-se à construção dos estádios].

Notem bem: na última frase encontra-se implícita a ideia de que as autarquias "não pensaram" antes de decidir construir os estádios, mas no Relatório não há uma ponta de dúvida sobre essas mesmas decisões - pelo contrário!

Porque é que é importante frisar isto? É porque são precisamente estas pessoas que aparecem, com o prestígio de que efectivamente disfrutam, a avalizar tecnicamente os investimentos propostos pelo governo. E eu acho que se eles se mostraram "flexíveis" num dado contexto, também o podem estar a fazer quanto ao PIIP.

Se leram a última entrevista de Santana Lopes devem ter reparado numa citação que ele faz de Soares: que em política, quem se safa é quem faz o mal e tapa logo a seguir, como os gatos. É uma bela frase reveladora dum cinismo que raramente alguém assume perante os eleitores. Assim faz o catedrático Victor Martins com esta última frase: tenta tapar um buraco que ele próprio abriu.

Publicado por: J.A. às agosto 30, 2005 06:40 PM

Vítor às agosto 30, 2005 05:12 PM:
Quando um advogado defende uma causa, não significa que acredita no constituinte. Porque haveria um engenheiro e um economista agire de forma diferente?
Não é a questão de fazer fretes.

Publicado por: Rui Sá às agosto 30, 2005 07:12 PM

Xiko às agosto 30, 2005 04:26 PM:
Não acredito que aqueles adolescentes desajeitados ganhem mais que um técnico superior com 3 ou 4 anos de experiência profissional.
Além do mais eles também recebem em espécie: refeições, etc.

Publicado por: Joana às agosto 30, 2005 07:46 PM

Manuel Tangente às agosto 30, 2005 06:08 PM:
O problema do emprego criado através de obras públicas como a Ota, é que ele não é sustentável.
Outra coisa. Os investimentos de maior intensidade capitalista estão normalmente ligados a uma maior qualificação e valor acrescentado. Não podemos querer empregos mais qualificados e desdenhar dos investimentos de maior intensidade de capital

Publicado por: Joana às agosto 30, 2005 07:53 PM

A malta põe-se à bulha, a defender a sua dama, sem ligar aos argumentos uns dos outros

Publicado por: Surpreso às agosto 30, 2005 10:58 PM

Penso que a Baywatch não era no Hawaii, mas sim na Califórnia.

Os critérios da Joana na avaliação de nadadores-salvadores ("alto e espadaúdo", "1,60m") sugerem de resto que ela os observa como se estivesse precisamente a ver a Baywatch.

Espero que, enquanto a Joana observa as "ondas pequenininas" e as caraterísticas físicas dos nadadores-salvadores, alguém a observe a ela.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 31, 2005 09:53 AM

Publicado por: Joana às agosto 30, 2005 07:53 PM

Concordo consigo. E também espero que os filhos dos trabalhadores pouco qualificados, que trabalham no duro a construir infraestruturas, e que, no caso da EXPO98 nem receberam um convite para lá passarem um dia com as suas famílias, conforme li na imprensa na altura, espero que esses jovens, como dizia, obtenham uma educação e qualificação adequadas ao exercício de trabalhos mais qualificados e geradores de maior valor acrescentado. Dessa forma poderemos, mais tarde, desdenhar do trabalho pouco qualificado.

Publicado por: Manuel Tangente às agosto 31, 2005 11:02 AM

Joana:
Compreendo-lhe que seja difícil de acreditar que um nadador-salvador ganhe 1500 euros por mês (limpinhos). Esse é um valor médio, para os nadadores-salvadores das nossas praias... se entrarmos no "sub-mundo" dos nadadores-salvadores das piscinas dos hotéis (dos que os têm), então falamos de valores idênticos ou ligeiramente superiores, acrescentados de 3 meses de estadia e refeições...
Uma concessão duma praia acarreta muita despesa... a título de exemplo o valor pedido pela concessão de um bar + 2 nadadores salvadores, por 2 meses (e não os 3 da época balnear) na Praia dos Salgados, junto a S. Martinho do Porto, era cerca de 10000 euros....

Publicado por: Xiko às agosto 31, 2005 12:07 PM

Na zona em que referi, o grafo salarial varia entre 500€/mês e 750/mês, mas estes últimos têm que ter certificações e qualificação que os habilitem a conduzir os sistemas de recreio que puxam "bananas" e "donuts".
Em qualquer dos casos, para a mesma qualificação, põe em dúvida que o emprego de nadador-salvador não é mais apetecível que o de ajudante de cozinha?

Publicado por: Joana às agosto 31, 2005 02:34 PM

A 2ª(ou a última) série da Baywatch era em Hawai.

Publicado por: Joana às agosto 31, 2005 02:46 PM

Manuel Tangente às agosto 31, 2005 11:02 AM:
Não foram só os filhos dos trabalhadores pouco qualificados. Quando Guterres andou a distribuir medalhas pela gente da Expo, só distribuiu aos boys e aos mediáticos. O Departamento de Construção que fez uma obra única no género em Portugal, pois cumpriu os prazos e os custos (as derrapagens ocorreram na Gare do Oriente, que era um projecto autónomo, e nos "eventos", onde houve aquelas trapalhadas todas). Um amigo do meu pai que era do DC chegou a falar que ia escrever à Ordem dos Engenheiros para tomar posição sobre o assunto. Não sei se o fez ou não.

Publicado por: Joana às agosto 31, 2005 02:51 PM

Uma história:
Na Adm. nomeada pelo Guterres para a Parque Expo estava o Saragoça, que tutelava o Dep Construção. Reuniu todos e declarou:
- Imaginem que eu há semanas não fazia a mínima ideia que ia ter esta tarefa. Tinha um gabinete explêndido, a actividade da empresa (ele vinha da Brisa, segundo julgo) não me obrigava a qualquer stress, fazia regularmente viagens ao estrangeiro ...
A meio desta descrição idílica, o Engº Virgílio Borges, Director do DC, interrompeu-o e perguntou:
- Desculpar-me-ia a pergunta, mas esse lugar ainda está disponível?

Publicado por: Joana às agosto 31, 2005 02:59 PM

Claro que o Virgílio Borges foi tão cáustico com o Saragoça, porque sabia que era inamovível - estava à beira da reforma e, sem ele e os técnicos que tinha trazido, não haveria Expo98.

Publicado por: Joana às agosto 31, 2005 03:08 PM

É preciso ter muito à vontade e estar muito seguro para mandar essa boca.

Publicado por: Lopes às agosto 31, 2005 09:11 PM

Interessante o post e essa peripécia na Expo

Publicado por: Luro às setembro 4, 2005 04:51 PM

Joana às agosto 31, 2005 02:46 PM

Escreve-se "Hawaii" com dois i. E lê-se mesmo assim:
"Ha-uai-i", com três sílabas. Ouvi-o pronunciar assim a uma hawaiiana nativa, de língua original.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 10:18 AM

Venho ler este post só por causa do calor e pensar no nadador salvador dentro de água, nem que seja com pé.
É refrescante.

Publicado por: Coruja às setembro 5, 2005 11:54 PM

criticar o trabalho de quem salva alguem e mt bom.entrei no site do isn e vejam as estatisticas.desafio kem kiser a passar dois meses na praia a olhar para os banhistas das 9h da manha as 20h da noite mt vezes sem material adequeado e sem horas de almoco.todos os k criticam o trabalho do nadador salvador(e isto nao ker dizer k todos os ns cumpram a sua obrigacao)deviam passar por um momento de aflicao e certamente k no dia a seguir viriam aki mudar os comentarios.

Publicado por: c às fevereiro 2, 2006 12:57 AM

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