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agosto 08, 2005

A Candonga

O Verão é época de temas fracturantes. Hoje vou propor um tema: Porque é que a candonga é ilegal? Qual é o mal de vender títulos de ingresso, acima do preço tabelado pelo produtor de um dado evento? Aparentemente nenhum. Analisemos a questão:

Suponhamos que, para um dado espectáculo, tendo em conta os seus custos e a análise do mercado que fizera, o produtor do espectáculo havia fixado o preço do ingresso em 20€, a que corresponderiam cerca de 250 espectadores, conforme se pode observar no gráfico abaixo. Para este exemplo, escolheu-se uma curva da procura de elasticidade constante (*), mas ele é válido para outra curva qualquer.

Imaginemos que alguém comprou alguns bilhetes para os vender por 30€. De acordo com a curva da procura existe um mercado para essa transacção: Há pessoas interessadas em adquirir Qb bilhetes àquele preço. E se os quiser vender a 40€, haverá uma procura de Qc bilhetes. Ninguém é “roubado”, visto que quem compra está na disposição de adquirir aqueles bilhetes àquele preço. Os rectângulos verde e azul correspondem ao excedente do consumidor que é apropriado pelos “candongueiros” que compraram os bilhetes. Os sectores a amarelo representam o excedente do consumidor remanescente.
Procura2a.jpg

Imaginemos que esta actividade era legalizada. Que serviço era prestado a troco de fornecer bilhetes a um preço mais elevado? Evitar que o consumidor estivesse em longas filas, tempos infindáveis. Certamente que muitos consumidores preferiam gastar mais 10€ ou 20€ em troca de utilizar o tempo despendido na fila de espera, numa outra actividade mais útil. Que custos adviriam para o “candongueiro legal”? Os custos dos bilhetes (20€), mais a manutenção do seu local de venda, mais o valor do tempo que despendeu. Além desses custos previsíveis, existe ainda o custo, definido probabilisticamente, relativo ao risco de não conseguir vender todos os bilhetes que adquiriu (Imaginemos que o espectáculo era ao ar livre e subitamente apareceram indicações de que as condições metereológicas seriam muito desfavoráveis no dia do evento).

Perguntam os desconfiados: imaginemos que ele açambarcava todos os bilhetes para os vender a 30€, que aconteceria? Bem, nesse caso, de acordo com a curva de procura, ele só venderia Qb bilhetes, ficando os restantes por vender. No caso deste exemplo (elasticidade constante) ele teria exactamente uma receita igual ao custo de aquisição dos bilhetes. Mas perderia tempo, os custos de manutenção da sua loja, etc. Portanto, o açambarcamento era-lhe prejudicial. O açambarcamento só é vantajoso quando os preços foram tabelados, administrativamente, abaixo do que deveriam ser, tendo em conta o equilíbrio da oferta e da procura. O açambarcamento é vantajoso quando o Estado desregula o mercado.

Portanto a candonga presta um serviço – evita o tempo desperdiçado nas filas de espera – a troco de um adicional ao valor do ingresso. É benéfico para o consumidor, admitindo que ele está disposto a trocar essa perda de tempo pelo adicional do bilhete.

Se essa actividade for legalizada, poupa-se o tempo desperdiçado pela polícia a perseguir estes “empresários”, passa a ser uma actividade colectada (por exemplo, uma percentagem sobre o valor do adicional) e é um benefício para a sociedade, nomeadamente se o Estado utilizar essa colecta adicional ou na melhoria dos serviços públicos, ou na diminuição de taxas fiscais. Nunca para continuar a alimentar a voracidade de um Estado que consome ao nível da Escandinávia e presta serviços ao nível da América Latina.

(*) A função é p.q = 5.000, a que corresponde uma elasticidade constante e igual a -1
Procura2e.jpg

Publicado por Joana às agosto 8, 2005 07:18 PM

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Comentários

Joana ao ataque! Lindo! Chamou o Miguel para o reforço? Ou o Sty? Por uma questão de honestidade intelectual só amanhã Joana que hoje já estou a fechar o estaminé e além disso só falo de equações com derivadas parciais se me mostrar as funções originais, que deve estar implicitamente a assumir serem de classe C1, sem alcançar a regularidade que isso implica (?). Ciao.

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 07:25 PM

pyrenaica às agosto 8, 2005 07:25 PM
A função é p.q = 5000, está escrito no texto.
Já não vejo o Miguel há mais de 6 anos!

Publicado por: Joana às agosto 8, 2005 07:32 PM

Tá bem Joana, passou-me essa, então parece fácil comentar, mas só amanhã mesmo. Você podia-me confirmar essa dos sufetas, era engraçado um juiz de mar e outro de terra, não? Quanto à candonga concordo que supre um nicho de mercado, mas que eu preferia que estivesse ocupado por uma multiplicidade de agentes, que pagassem os impostos ao Estado. Adientei esta sem ter lido propriamente o seu texto ;-))

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 07:38 PM

Se a gente começa a meter sotaques...:adiantei

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 07:39 PM

Juiz era uma designação usual entre os povos semitas. Entre os hebreus, antes dos reis quem governava eram os juízes (sophetim) (por exemplo Sansão)

Publicado por: Joana às agosto 8, 2005 07:44 PM

Obrigado. Boa noite.

PS: quando a fiz fiduciária pelo princípio elementar do espelho, também me fiz fiduciário, ou será que me fiz testamentário? Espero bem que não seja esta última. Deuses: não quero. Puf, hoje não dá mais.

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 07:55 PM

Excelente post. Quando os bófias me virem chatear por estar a vender bilhetes junto ao Alvaláxia, pespego-lhes com essa curva.

Publicado por: Coruja às agosto 8, 2005 07:57 PM

E digo-lhes que é tempo desperdiçado perseguir “empresários” como eu.

Publicado por: Coruja às agosto 8, 2005 07:58 PM

Joana, fiquei a pensar numa coisa: Sansão é aquele da Dalila? mázinha! Depois morre de saudades ou coisa assim. Lembre-se do "Noites Escaldantes"!

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 08:09 PM

Embora a Joana refira a venda de bilhetes pra um espectáculo, meramente a título exemplificativo, convém esclarecer que o açambarcamento é um crime tipificado para o "mercado de bens essenciais ou de primeira necessidade ou ainda de matérias-primas utilizáveis na produção destes" (art.º 28 do DL 28/84), o que não me parece ser o caso.

É verdade que o açambarcamento era uma prática mais notória (e notada) na altura em que estes produtos tinham preços tabelados.
Mas, atentemos no seguinte: em 2004, os chineses açambarcaram matérias-primas como o níquel, aço, minério de ferro, etc, provocando um súbito aumento do seu preço, com reflexos negativos na indústria portuguesa. Andará o Estado a "desregular o mercado"?

Para terminar:
sabe-se que a especulação é geralmente precedida do açambarcamento. Nós, que tanto especulamos neste blogue, não seremos todos uns grandes açambarcadores?

Publicado por: Vítor às agosto 8, 2005 08:37 PM

pois mas como nos açambarcamos todos uns aos outros ficamos quites, não? A Joana fica é com o encargo de usufruir, acho justo por causa do trabalho investido, distribuir e transmitir em proveito de Portugal. Olhó 5º Império na blogosfera! E todos nós também: eu já ando a pensar como é que vou citar isto lá naquele trabalho.

Seja como for para mim já saímos das contas pequeninas. Existem infinitos tipos de infinito... Caraças é f. largar este blog

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 08:48 PM

pyrenaica às agosto 8, 2005 08:48 PM

"Caraças é f. largar este blog"

Eu estou com esperança.
Inscreveram-me numa clínica de desintoxicação...

E agora: jantar que são horas!

Publicado por: Vítor às agosto 8, 2005 08:51 PM

Pois eu também dia 20 embarco, até lá temos que acabar com os fogos não? Se não levo com eles junto com o roaming, lá!. Pronto agora tenho ali uvas e queijo de Nisa e batatas fritas chocolate e o Infante D. Henrique. O danado queria primeiro conquistar Granada mas lá o dissuadiram, agora vai meter-se por Marrocos à conta do monopólio do sabão...

Muito engraçados são os pareceres, primeiro que eles dissessem uma coisa que se percebesse...

No te preocupes es que me voy a una de Nirvanazito : portinhol.

Publicado por: pyrenaica às agosto 8, 2005 09:02 PM

Quando eu falei em desregular o mercado referia-me ao tabelamento de preços muito abaixo do valor de equilíbrio. Sempre que se fez isso, em todas as latitudes e em todas as épocas, desde que existe economia monetária (Babilónia) e mesmo antes, houve açambarcamentos, mesmo que houvesse pena de morte para tal.

Publicado por: Joana às agosto 8, 2005 09:02 PM

A subida dos preços por exceso de procura é um fenómeno normal, não se podendo considerar açambarcamento

Publicado por: Novais de Paula às agosto 8, 2005 09:24 PM

Por exemplo: parte do aumento do preço do crude deve-se ao aumento muito rápido de consumo de crude por parte da China, devido à sua industrialização. É chato, mas não é uma violação do mercado.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 8, 2005 09:26 PM

A Cadillac vai lançar um modelo de Bicicleta.
O petróleo deve estar mesmo caro!

Publicado por: Coruja às agosto 8, 2005 09:32 PM

A candonga elimina parte do excedente do consumidor, que seria permitido com um preço de equilíbrio competitivo. Essa eliminação não favorece o produtor (como aconteceria com discriminação perfeita de preços), apenas beneficiando o açambarcador. Não há nenhum benefício social com a cadonga (salvo a eliminação de bichas mas a que estará associado um custo de pesquisa de preços pelo potencial consumidor)...

Publicado por: António Maria às agosto 8, 2005 09:36 PM

Depois disto, começo a ver com outros olhos aqueles "empresários" que vendem bilhetes à porta dos Estádios.

Publicado por: c seixas às agosto 8, 2005 10:06 PM

António Maria às agosto 8, 2005 09:36 PM:
O gráfico que apresentei é idêntico, por exemplo, ao de um restaurante que praticasse discriminação de preço, com uma única instalação de confecção de alimentos, mas com salas distintas, com entradas separadas. Uma mais modesta sem grandes exigências de apresentação, com refeições a 20€ e outra com decoração de luxo, velas e empregados vestidos a rigor, com um serviço mais pessoalizado, entradas, etc. para um nível de refeição de 40€ por unidade.
A diferença é que neste caso é o vendedor que discrimina o preço e no caso do post tal é feito por um ou vários intermediários.

Publicado por: Joana às agosto 8, 2005 11:23 PM

Há aqui qualquer coisa que me escapa.
A ABEP nos Restauradores há anos que faz este negócio.

Publicado por: carlos alberto às agosto 8, 2005 11:47 PM

A ABEP e outras agências são pontos de venda adicionais que cobram uma comissão fixa. Julgo que não correm riscos. Se não venderem, os bilhetes regressam.

Publicado por: David às agosto 9, 2005 12:02 AM

Eu pensava que a candonga era uma forma de concorrência imperfeita e logo punivel pelos códigos do liberalismo... Estará a Joana a inclinar-se para a concorrência imperfeita? O senhor padre da sua igreja neo-liberal não a irá excomungar?...

Publicado por: Albatroz às agosto 9, 2005 12:30 AM

Prezada Joana, com referencia ao exemplo que apresentou a proposito do grafico que ilustra este seu tema, aplicando-o a uma teorica situacao de um restaurante com duas salas com precos diferentes para os respectivoa consumidores, quase que sou levado a pensar que ja viveu em Sao Paulo, Brasil ! Na realidade, ha 20 anos atras, ainda era uma tradicional saida a noite ir ao Restaurante do CEASA (o gigantesco Centro Abastecedor de Sao Paulo de todos os produtos horticolas, Verduras, legumes, etc), para comer a gostosa e bem confeccionada SOPA DE CEBOLA, gratinada ou nao. So que esse restaurante tinha dois saloes distintos: um para os clientes de classes media e alta e outro para os proprios trabalhadores do Mercado e outros clientes de menores posses. So que a sopa - e os outros pratos - eram rigorosamente iguais nas duas salas . Mas os precos de venda eram na ordem de 2 para 1, ou seja pelo menos o dobro na sala elegante dos praticados na sala popular...
Ainda hoje tenho saudades (gastronomicas !) dessa sopa de cebola, que nem na Franca comi melhor.... So que nunca me lembrei ate hoje de fazer um grafico com curvas para perpetuar momentos tao agradaveis....

Publicado por: Alkayross às agosto 9, 2005 02:50 AM

A proibição da candonga é uma forma de defesa do consumidor, nomeadamente do consumidor de poucos recursos. Caso a candonga fosse legalizada, todos os bilhetes seriam comprados pelos candongueiros, que os revenderiam a alto preço. Eventualmente todos os bilhetes seriam vendidos, mas pessoas com menos recursos não teriam acesso a eles.

Numa economia de mercado com grandes desigualdades de rendimentos, como a nossa, pode facilmente acontecer isto: os preços dos bilhetes são colocados muito acima do custo do espetáculo, e mesmo assim os bilhetes vendem-se todos, dada a existência de muitas pessoas muito ricas. Mas as pessoas de recursos mais limitados ficam sem acesso.

Pode-se no entanto argumentar que a candonga deveria ser legalizada, dado que o assistir a espetáculos não é um bem essencial, que requeira proteção do consumidor.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 09:52 AM

Eu gostaria de ver a Joana defender a aplicação destas teorias a bens mais sensíveis, por exemplo: o estacionamento automóvel. Consideremos o caso da EMEL, por exemplo. Em vez de ter aqueles parquímetros que estão sempre avariados, a EMEL poderia sub-alugar os seus espaços de estacionamento a quem os quisesse gerir. Esse alguém alugava o estacionamento aos automobilistas, pelo maior preço que pudesse; por exemplo, na Baixa de Lisboa o preço poderia chegar aos 3 euros por hora. Esse alguém contratava um segurança armado, pronto a patir as fuças a qualquer automobilista que tentasse estacionar sem pagar nos seus lugares, ou que tentasse estacionar em lugar não autorizado naquela zona.

Considere a Joana a implementação de um tal sistema, e veja as reações de repulsa que obteria. "O estacionamento é um bem público", argumentar-se-ia. "As pessoas precisam de estacionar o carro, não devem ser obrigadas a pagar 3 ou 4 euros por hora", dir-se-ia. "Tem sempre que haver alguns lugares onde não se pague", diriam outros.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 09:59 AM

Luís Lavoura em agosto 9, 2005 09:52 AM:
Como provei no post, se houvesse açambarcamento (o candongueiro comprava tudo), ele teria prejuízo.
Só ganha se comprar uma parte pequena do total.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 10:07 AM

É que, se a Joana quer analisar temas fraturantes, com a candonga não fratura nada. Eu por exemplo, que já nunca vou a espetáculos dado o alto preço deles, tanto se me dá que haja candonga como não, que seja legal como ilegal.

Para temas fraturantes, analise a Joana o estacionamento automóvel. Desconsidere os arrumadores que, apesar de muito mal vistos, são uns tipos porreiros: cobram um preço fixo pelo estacionamento, independentemente do tempo que o carro lá fique, e só riscam os automóveis, em vez de lhes furarem os pneus ou de partirem a cara ao automobilista. Imagine que, em vez de arrumadores, cada rua era guardada por um vendedor de estacionamento que cobrava o preço que quisesse. Esse vendedor estava acompanhado de um segurança que tinha o direito legal de espatifar o automóvel (furando os pneus, partindo o pára-brisas, atirando-lhe uma lata de tinta para cima) que estivesse estacionado sem pagamento. O vendedor cobrava, a cada hora do dia, o preço que achasse adequado. O segurança vigiava também os locais de estacionamento não autorizado (paragens de autocarros, passeios, cruzamntos, etc), e espatifava os automóveis que neles se atrevessem a estacionar.

Isto sim, Joana: isto seria VERDADEIRAMENTE FRATURANTE!!!

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 10:09 AM

Esse sistema já existe, embora não fosse criado pela EMEL ... aconteceu.
Em muitos locais da EMEL continuam a operar os arrumadores, que é uma forma de candongueiros.
Os parquímetros estão avariados porque são assaltados para roubarem moedas.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 10:10 AM

O Luís Lavoura não deve vir a Lisboa há muito tempo. Na Avenida da Liberdade os parquimetros estão todos a funcionar e agora há uns rapazes fardados de vermelho e branco com uns computadores que registam as matrículas dos que não pagam e à terceira ou quarta vez sem pagar bloqueiam os carros.

Se calhar o que sugere foi mesmo o que aconteceu, a emel deve ter subalugado as ruas e estes trabalham a sério.

Publicado por: Pedro Marques às agosto 9, 2005 10:12 AM

Alkayross às agosto 9, 2005 02:50 AM:
São formas clássicas de discriminação de preço.
Outra é a dos bazares árabes. Cada cliente paga aquilo que está disposto a pagar, através do regateio. Neste caso é uma discriminação individual. O vendedor apropria-se de todo o excedente do consumidor, admitindo que o regateio acaba quando o comprador está satisfeito e não se prolonga para além disso.
Mas pode não ser assim. Por exemplo: eu estaria disposta a adquirir uma peça por 20€. Mas prevejo que se regatear, obtenho por menos. E continuo a regatear. Nessa situação fico com parte do excedente do consumidor, apesar da discriminação de preços

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 10:18 AM

Joana, eu não me refiro a arrumadores que, tal como eu disse, são uns tipos porreiros: não cobram o estacionamento à hora, e só fazem uns risquinhos nos automóveis, que custam dez-reis de mel coado a reparar. Refiro-me a um verdadeiro aluguer de estacionamento, a preços de mercado - altos, e ao minuto.

Pedro Marques, eu não venho a Lisboa há muito tempo, de facto: vivo em Lisboa, nunca de cá saio. E verifico que Lisboa está cheia de carros estacionados em locais ilegais, ou de carros estacionados sem pagar. Com enorme prejuízo para quem circula de carro, e ainda maior prejuízo para quem anda a pé, como eu.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 10:19 AM

Considere a Joana, por exemplo, o que fazer aos prédios devolutos nos centros das cidades. É óbvio que, se eles forem todos reconstruídos e vendidos como habitação, não terão saída: o mercado da habitação está saturado, e poucas pessoas querem viver no centro da cidade. Uma solução ótima seria reconstruir esses prédios para algo que falta cruelmente na cidade: estacionamento. O prédio devoluto seria reconstruído sob a forma de um silo automóvel, de uma garagem, que depois seria alugada.

Isto seria uma solução muito racional, ótima sob todos os aspetos, mas esbarra com um óbice: o baixo preço prevalecente do estacionamento na cidade. Para que uma solução destas fosse financeiramente viável, seria necessário que os carros fossem proibidos de estacionar em muitas ruas - haveria ampla justificação para isso, em termos de facilidade de circulação - e que o estacionamento passasse a ser pago, e bem pago, mesmo para moradores.

Agora atreva-se a Joana a defender uma tal teoria - impecável do ponto de vista económico - em público, e veja o que lhe acontece.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 10:24 AM

discordo plenamente da análise. Penso que seja mesmo roubar o consumidor. Filas e afins acontecem raramente. Por exemplo vendem-se bilhetes no MB.

digamos que é parasitismo. Imaginem que eu era padeiro e fazia um pão muito bom. um gajo vinha e comprava uma parte do meu pão. depois ia vendê-lo mais caro. era um valor acrescentado não justo. o cadongueiro aproveitava-se de mim e do consumidor e não produzia nada nem praticava qualquer serviço relevante.

Se fosse levar o pão a casa do consumidor, aí já prestaria um serviço, mas o justo seria uma comissão fixa e não o que o comprador estivesse disposto a pagar.

Publicado por: Braveman às agosto 9, 2005 12:24 PM

A minha experiência da candonga, já muito antiga, em estádios de futebol, é que ela não realizava qualquer serviço útil, pelo contrário: esgotava os bilhetes para depois obrigar o pessoal a pagá-los mais caros.

Hoje em dia os estádios de futebol estão vazios, de qualquer forma. Mas o que acontecia, aqui há umas dezenas de anos, é que um adepto chegava ao estádio, ia ao guichet comprar bilhetes, e eles estavam esgotados. Mesmo ao lado havia candongueiros a vender o bilhetes a um preço um bocado mais elevado.

Os candongueiros não prestavam qualquer serviço útil, do tipo evitar filas. Apenas procuravam explorar o consumidor.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 12:31 PM

Pior era chegar ao Estádio e nem haver bilhetes nem candongueiros.
Não acredito que a lotação se esgotasse por os candongueiros comprarem algumas centenas de bilhetes.

Publicado por: Sa Chico às agosto 9, 2005 12:38 PM

Olhe Joana, só vim aqui cumprir parcialmente a ptromessa. Mas enfin, não acho lá muito fracturante, qualquer dia compramos quase todos bilhetes na internet, não? Espero é que essas lojas virtuais paguem o IVA ao Estado. No entanto também acho que todas as actividades voluntárias entre adultos devem ser permitidas. O problema é que se bem me lembro os candongueiros jogam mais com as pulsões dos miúdos.

Eu por exemplo sou completamente a favor da legalização da prostituição para maiores de 18 anos. E, no entanto, já há muitos anos que não uso.

Publicado por: pyrenaica às agosto 9, 2005 12:44 PM

É extraordinário como, nalguns comentários, se procura defender o indefensável! Já não bastam os candongueiros "oficiais", que se intrometem nas cadeias de distribuição, não fazem nada e espetam-lhe com mais uma "margenzinha".

Já que valem todos os argumentos:
Pior, pior, era um tipo chegar ao estádio e o Pai Natal ter roubado bolas e bilhetes...

Publicado por: Vítor às agosto 9, 2005 12:45 PM

Emendando a minha mensagem anterior: os candongueiros prestavam, potencialmente, um serviço útil: garantiam que um adepto arranjava sempre bilhete, mesmo que chegasse ao estádio pouco tempo antes do início do jogo. Os bilhetes raramente se esgotavam completamente: continuavam sempre disponíveis na candonga, ainda que a preço progressivamente mais elevado.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 12:46 PM

Braveman às agosto 9, 2005 12:24 PM:
No caso do seu exemplo, a candonga não funciona. A menos que o padeiro vendesse o pão a um preço mais baixo do que seria o preço de equilíbrio.
O seu candongueiro arriscava-se a ficar com a maioria do pão em stock.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 12:52 PM

Luís Lavoura às agosto 9, 2005 12:46 PM:
Está a ver que descobriu algumas virtudes!
E diga lá se não é injusto a polícia perseguir essa gente?

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 12:53 PM

Quanto àquela curva, se eu bem percebi tem y=pq, o valor total nominal dos bilhetes emitidos com y =5000 logo pq=5000 equiv. a p=5000/q, tanto faz uma é a forma implícita outra a forma explicita de uma hipérbole, em que se afirma que a quantidade comprada é inversamente proporcional ao preço do bem: é um modelo de referência, admissível, pertinente, mas apenas um modelo. Atire-lhe com uma flutuação provocada por uma frase de Jesus ou de Buda, etc, e aquilo faz uma onda...

Há coisas que não têm preço.

Publicado por: pyrenaica às agosto 9, 2005 01:02 PM

Lembrei-me agora: então não estará na altura de fazermos alguma coisa engraçada a esse propósito? Nós inaugurámos a abolição da pena de morte civil, podíamos avançar com a prostituição a recibo verde, ou não? Hum

Publicado por: pyrenaica às agosto 9, 2005 01:29 PM

É que pode apetecer-me voltar a usar.

Publicado por: pyrenaica às agosto 9, 2005 01:37 PM

Joana às agosto 9, 2005 12:53 PM

Claro que acho injusto a polícia perder tempo a perseguir candongueiros.

Mas ainda acho mais injusto perseguirem as mulheres que trabaham em casas de alterne ou na prostituição, ou os estrangeiros que e dedicavam no Martim Moniz a vender chamadas de telemóvel à borla, depois de terem descoberto os códigos de software das companhias.

A minha opinião (contrária, bem sei, à de muita boa gente) é que a polícia deveria era gastar mais tempo a colocar bloqueadores nos carros mal estacionados. Menos esforço a perseguir candongueiros, mis a perseguir automobilistas.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 02:21 PM

Luís Lavoura às agosto 9, 2005 02:21 PM:
Quem pirateia os códigos de software das companhias para uso próprio ou para venda está a cometer um roubo.
Na prostituição temos que distinguir as prostitutas, que prestam um serviço (alugar o corpo), daqueles que vivem à conta delas, as drogam e as exploram.

Publicado por: Hector às agosto 9, 2005 02:52 PM

"Quem pirateia os códigos de software das companhias [...] está a cometer um roubo."

Eu diria que está apenas a utilizar a inteligência para ganhar a vida. E está a favorecer os consumidores, foncendo-lhes telefonemas mais baratos. São as companhias de telemóveis que têm a obrigação de produzir software de qualidade e impenetrável. Têm a obrigação de demonstar mais inteligência. Não têm nada que ir pedir a ajuda do Estado para ele as proteger de indivíduos que apenas estão a procurar servir melhor o consumidor.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 03:07 PM

Se queremos uma sociedade competitiva e progressiva, devemos apoiar e admirar aqueles que, sem meios técnicos nem cintíficos nenhuns, conseguem, com a sua inteligência, com o seu trabalho, com a sua perseverança, quebrar o código de software de uma companhia de telemóveis. Devemos desprezar e escarnecer uma companhia de telemóveis que, com toda a sua expertise, com todos os seus técnicos bem pagos, não é capaz de fazer um software seguro. E que depois ainda tem a lata de vir pedir a nós todos, contribuintes, que demos dinheiro para perseguir o esperto que lhe furou o código.

Como não utente de telemóvel, protesto contra esta utilização do meu dinheiro de contribuinte para proteger uma companhia que nada me diz respeito.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 03:10 PM

Luís Lavoura em agosto 9, 2005 03:07 PM:
O tipo que lhe assalta o seu automóvel e o põe a trabalhar sem chave de ignição também "está apenas a utilizar a inteligência para ganhar a vida".

Publicado por: Hector às agosto 9, 2005 03:13 PM

Hector às agosto 9, 2005 03:13 PM

Sim, mas eu tranco o meu automóvel e ponho-lhe um dispositivo de segurança. Se eu o deixasse destrancado só na chave, não me poderia queixar de mo terem roubado.

As companhias de telemóveis tinham uma merda de software, que qualquer imigrante sem instrução, vindo de Angola ou do Bangladesh conseguia furar. E depois queriam (e obtiveram!!!) que fosse o Estado a gastar a sua polícia, paga por todos nós, para as proteger!!!

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 03:35 PM

Se fosse a si não teria tanta confiança nos dispositivos de segurança. Têm-se feito testes e praticamente não há sistemas imunes

Publicado por: Hector às agosto 9, 2005 04:01 PM

Luís Lavoura às agosto 9, 2005 03:35 PM

Penso que está a levar os seus argumentos para as fronteiras do absurdo.
Não é natural que eu tenha que armadilhar o meu carro para evitar assaltos. Nem é natural que os "hackers" se andem a apropriar do trabalho intelectual dos peritos das empresas de software.
Há um nível de segurança a que, por uma questão de bom-senso, devemos sujeitar os nossos bens.
Mas daí a desculpar o criminoso, quando a vítima não se "armou" o suficiente, vai uma grande distância.

Publicado por: Vítor às agosto 9, 2005 04:07 PM

Além disso, as companhias de telemóveis fornecem ao cliente um telemóvel. Não se podem queixar de esse cliente procurar utilizar esse telemóvel de todas as formas que lhe sejam possíveis e benéficas.

Portanto, uma analogia mais correta seria: eu empresto a minha casa para uma pessoa dormir nela, e deixo algum dinheiro metido dentro duma gaveta não fechada. Verifico mais tarde que esse dinheiro desapareceu. É legítimo eu ir queixar-me à polícia de que a pessoa a quem emprestei a casa me retirou o dinheiro? A polícia pode retorquir: "olhe, não o tivesse lá deixado", ou então "quem é que me prova que a pessoa roubou o dinheiro, que não foi você que lho deu?"

Da mesma forma, se uma companhia de telemóveis dá a um indivíduo um telemóvel que tem um software claramente falível, e depois verifica que o indivíduo se aproveitou disso para fazer umas chamadas à borla, então essa companhia só tem que se queixar de si mesma e da sua estupidez: não tem nada que ir pedir à polícia que persiga o indivíduo.

Destas formas é que as grandes companhias parasitam o Estado.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 04:08 PM

Vítor às agosto 9, 2005 04:07 PM

Não estou a falar de nenhuma apropriação de trabalho intelectual de ninguém. Estou a falar da exploração (e não apropriação) dos defeitos de um trabalho intelectual para prejudicar o seu autor.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 9, 2005 04:11 PM

Publicado por: Joana às agosto 8, 2005

"A diferença é que neste caso é o vendedor que discrimina o preço e no caso do post tal é feito por um ou vários intermediários."

Mas Joana, essa diferença é capital! Os intermediários que arrecadam o excedente do consumidor fazem-no sem proveito do produtor. Ou seja, o benefíco da troca que cabe ao consumidor é reduzido, sem o produtor ver algum benefício. A prazo, como a troca é menos vantajosa para o comprador, isso deverá reflectir-se nas transacções - e os produtores perdem.


Publicado por: António Maria às agosto 9, 2005 04:14 PM

Luís Lavoura em agosto 9, 2005 04:08 PM:
Portanto se eu confio numa pessoa e ela abusa dessa confiança, o culpado sou eu. Não tenho nada que me queixar

Publicado por: Rui Sá às agosto 9, 2005 05:34 PM

Sou culpado de ser trouxa.

Publicado por: Rui Sá às agosto 9, 2005 05:36 PM

Joana:

Deixe-se lá de bronze em pele mimosa e escreva mais um post que a "comunidade" está a esmorecer...

Publicado por: Vítor às agosto 9, 2005 07:01 PM

Luís Lavoura às agosto 9, 2005 04:11 PM:
Você está a tornar-se num radical. Primeiro prometeu anavalhar os pneus do nosso jipe. Agora justifica piatear software e roubar automóveis porque os proprietários não se precaveram comtodos os dispositivos anti-roubo.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 07:45 PM

António Maria às agosto 9, 2005 04:14 PM:
Raciocine de outra maneira. É certo que o produtor não retira nenhum benefício, mas nunca o retiraria, pois não estava em condições de discriminar o preço.
Em contrapartida criou-se uma outra actividade, remunerada, que mesmo que não tenha reflexos fiscais, pelo menos aumento o nível de emprego.
Não estou a defender este negócio, estou apenas no papel de "advogado do Diabo"

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 07:51 PM

O canivete nos pneus do jeep ficou-lhe atravessado!!

Publicado por: Rave às agosto 9, 2005 07:52 PM

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 07:51 PM

"Raciocine de outra maneira. É certo que o produtor não retira nenhum benefício, mas nunca o retiraria, pois não estava em condições de discriminar o preço. Em contrapartida criou-se uma outra actividade, remunerada, que mesmo que não tenha reflexos fiscais, pelo menos aumento o nível de emprego."

Sim, Joana, é verdade, criou-se mais emprego. O problema é que este emprego não é produtivo e acontece à custa dos produtores que, a prazo, enfrentarão menos procura porque os seus serviços proporcionam menos excedente aos consumidores...

Aliás se se deixasse proliferar os candongueiros acho que se caía no problema da "tragedy of commons". Existiriam imensos, cada um com o seu preço "concorrencial" que era preciso verificar (custo de pesquisa dos consumidores).

Não é para a aborrecer mas também acho que o seu exemplo da discriminação de preços no restaurante tem alguns problemas. É que o serviço dos dois restaurantes é distinto, e por isso não é uma verdadeira discriminação de preços - existem isso sim duas ofertas, cada uma com o seu nicho de mercado. A discriminação ocorre quando o produto oferecido é o mesmo - por exemplo descontos do bilhete de cinema para estudantes, descontos da PT para clientes com pouca despesa, etc.

Já agora, apesar de tudo, os arrumadores prestam um serviço de sinalização. A Joana quer ir a uma loja e encontrou um lugar a 250 metros, prepara-se para arrumar o seu carro e depois observa um arrumador, muito mais perto da loja a sinalizar um lugar, e aproveita essa oferta. O arrumador prestou-lhe um serviço!

Publicado por: António Maria às agosto 9, 2005 10:52 PM

António Maria às agosto 9, 2005 10:52 PM:
Você parte do princípio que os candongueiros podem fixar o preço à vontade e venderem as quantidades que quiserem. Isso não é verdade. Fixam o preço de acordo com a procura e a quantidade que vendem também depende dessa procura. As pessoas compram-lhes os bilhetes, a um dado preço, se virem vantagem nisso.
A "proliferação" dos candongueiros está limitada pelo mercado, mais que pela polícia.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 11:09 PM

Qualquer discriminação de preço, sem ser a discriminação espacial, obriga a uma ligeira diferenciação da oferta. Senão não convence os clientes a adquirirem mais caro. Repare que o bem (a refeição) é o mesmo. Feito na mesma cozinha, com os mesmos ingredientes e com a mesma qualidade.
Apenas o aspecto formal do serviço é diferente: decoração, indumentária dos empregados, talheres, velas, etc.

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 11:11 PM

Por exemplo, no caso dos arrumadores, se é certo que prestam serviço, também é verdade que, muitas vezes, exercem retaliações sobre quem não quer esse serviço. E muita gente dá dinheiro, não para pagar um serviço, mas para pagar “protecção” ao estilo da Máfia.
Parece-me uma actividade mais perigosa para as pessoas que a dos vendedores de bilhetes no mercado negro!

Publicado por: Joana às agosto 9, 2005 11:13 PM

Numa discriminação de preços os serviços são exactamente iguais! O seu exemplo do restaurante, como dizia, corresponde à destrinça de duas procuras distintas. Nos exemplos que dei, o serviço é rigorosamente igual.

Acho que há um caso em que os candongueiros podem garantir um aumento da eficiência do mercado (se bem que resta saber o efeito a longo prazo, ditado pelo desinteresse acrescido dos consumidores por força da redução do seu preço).

Isso acontece quando o preço é fixado pelo produtor abaixo do preço de equilíbrio. Nesse caso a candonga pode ter o efeito positivo de garantir que as pessoas com um maior preço subjectivo não fiquem fora do mercado.

Claro estou a admitir que o contributo dos candongueiros em termos da estrita intermediação é nulo, ou anulado pelos custos acrescidos de pesquisa.

Publicado por: António Maria às agosto 9, 2005 11:33 PM


O preço nunca é fixado pelo produtor abaixo do preço de equilíbrio (excepto numa situação transitória, por ausência de transparência do mercado). O preçp é "tabelado", administrativamente abaixo do preço de equilíbrio.
E nessa situação há sempre mercado negro.

Publicado por: Joana às agosto 10, 2005 09:47 AM

A actividade do "candongueiro" e o resultado de uma falha a montante. Porque e que quem vende os bilhetes nao aumenta o preco? A candonga so surge quando o preco dos bilhetes esta abaixo do preco de mercado gerando uma oferta superior (as vezes muito superior) a oferta.
Este exemplo e em tudo semelhante ao exemplo dos "concertos de caridade", concertos sem custos para o publico: aparentemente estamos a beneficiar os mais desfavorecidos ao lhes proporcionar um concerto a custo zero, na realidade a unica coisa que estamos a fazer e alterar a moeda de troca porque automaticamente surgem filas interminaveis a porta das bilheteiras, ou caso as bilheteiras sejam robustas o suficiente para processar o numero de pessoas procurando bilhete estes (os bilhetes) desaparecem em poucos minutos. Assim sendo a unica coisa que conseguimos foi seleccionar quem ira ter acesso ao espectaculo ou pela quantidade de tempo que esta disposto a perder na fila, ou pela sua rapidez em chegar a uma bilheteira, o preco continua la so que mascarado na forma de tempo. E isto porque o numero de bilhetes e limitado.
Garantidamente tambem neste "concerto caridoso" surgirao tambem candongueiros a porta do espectaculo a venderem bilhetes a quem nao tenha estado disposto a gastar tempo ou correr ou nao tenha esses recursos a sua disposicao na altura mas estava afinal disposto a gastar dinheiro.

A economia so existe porque existe uma escassez de recursos e e este conceito fundamental que nao e totalmente alcancado por algumas pessoas. Os precos cumprem uma funcao fundamental que e o de regular a procura do consumidor em relacao a oferta, no nosso exemplo, se simplesmente nao existem bilhetes suficientes para a quantidade de pessoas que gostariam de ver o espectaculo de alguma forma estes numeros terao de se igualar, o preco cumpre precisamente essa funcao e de forma elegantemente simples, quanto mais alto menos pessoas estao dispostas a ir ver o espectaculo aproximando-nos progressivamente do numero de bilhetes disponiveis. E tudo isto sem recorrer a violencia que de outra forma poderia surgir. E por isso que quem quer reduzir precos ou combater pobreza deve, melhor dizendo tera necessariamente de se concentrar nos metodos para PRODUZIR mais para que a oferta possa colmatar a procura, os desfavorecidos so existem porque nao ha suficiente para todos.

A "candonga" nao passa do sintoma de uma mercado desiquilibrado por um motivo qualquer (porque e que os precos estao tao anormalmente baixos?) a tentar reencontrar o equilibrio entre oferta e procura atraves neste caso, de um mercado secundario de legalidade e utilidade duvidosas.

Publicado por: Lowlander às agosto 10, 2005 09:52 AM

Joana,

1) Eu escrevi que ando sempre com um canivete no bolso. Não escrevi que tencionava furar os pneus do seu jipe, ou seja de que veículo seja. O canivete pode ser apenas para fazer riscos na pintura.

2) Eu há muito que sou um radical. A minha educação política básica é anarquista.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 10, 2005 09:52 AM

Peco desculpa, a legalidade pode ser duvidosa mas a utilidade e por demais evidente ou nao existiria.

Publicado por: Lowlander às agosto 10, 2005 09:57 AM

Joana às agosto 9, 2005 11:13 PM

Não critique os arrumadores, Joana. A existência de arrumadores é culpa exclusiva do Estado. É culpa exclusiva dos autarcas, que não perceberam, com a devida celeridade, que um bem escasso (o estacionamento automóvel) não pode ser gratuito. Se os nossos autarcas tivessem percebido isto a tempo e horas, ou seja, há vinte anos atrás - quando a Câmara Municipal de Lisboa determinou que a polícia não deveria multar carros estacionados em cima dos passeios - os arrumadores não teriam surgido em primeiro lugar, e não teriam atingido a dimensão de praga difícil de extirpar que atingiram. A culpa da existência de arrumadores é exclusivamente das Câmaras, que não souberam ou não quiseram instalar, desde mais cedo, o princípio básico de que o estacionamento tem que ser pago - e pago de acordo com a lei da oferta e da procura, e não de acordo com preços administrativos baixos, como atualmente acontece.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 10, 2005 09:58 AM

Excepto os poucos que tiveram a coragem de se pronunciar persistiu um grande silêncio sobre a legalização da prostituição a recibo verde, para maiores de 18 anos. Será esta a idade certa?

Publicado por: pyrenaica às agosto 10, 2005 11:34 AM

pyrenaica às agosto 10, 2005 11:34 AM

A legalização da prostituição é, evidentemente, uma necessidade, não só em termos fiscais, mas sobretudo em termos de saúde pública das prostitutas (e prostitutos) e seus clientes. Toda a indústria do sexo tem que ser feita de forma assumida e às claras, sob pena de se encorajar comportamentos de risco e ocasionalmente violentos.

A legalização da prostituição e do proxenetismo (não é possível que toda a prostituição se efetue sem que haja @s correspondentes empresári@s, isto é @s proxenetas) encontra-se no programa do Movimento Liberal Social.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 10, 2005 12:14 PM

Então vamos nisso pá! Eu acho mais giro é a cena do recibo verde, empresári@ por conta própria, quando chegar na conversa com o cliente à história do IVA, com @ prostitut@ a dizer "todos temos obrigação de pagar os nossos impostos ao Estado"...

Que saudades que eu tenho de um filme do Almodovar, daqueles dantes bem-dispostos.

Publicado por: pyrenaica às agosto 10, 2005 12:34 PM

Para haver discriminação de preço tem que haver sempre alguma diferenciação do produto. Nem que seja apenas o nome da Marca.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 10, 2005 12:49 PM

Não sei se isso é comigo Novais De Paula, mas caso seja, não é preciso marca, tod@s @s prostitut@s são naturalmente indivíduos singulares e têm nome. Lá se resolvem fazer empresas, ou cooperativas, isso é com eles, eu acho mais graça aos empresários em nome individual.

Publicado por: pyrenaica às agosto 10, 2005 12:59 PM

Mas Joana, essa diferença é capital! Os intermediários que arrecadam o excedente do consumidor fazem-no sem proveito do produtor. Ou seja, o benefíco da troca que cabe ao consumidor é reduzido, sem o produtor ver algum benefício. A prazo, como a troca é menos vantajosa para o comprador, isso deverá reflectir-se nas transacções - e os produtores perdem.

António maria

Era isto que eu queria dizer.

Publicado por: Braveman às agosto 11, 2005 10:53 AM

Braveman:
Mas, ó meu caro amigo, os candongueiros também prestam um serviço ao produtor, ao reduzirem-lhe o risco de ficar com lugares por vender.
Tanto é assim que o produtor, quando tem para venda um espectáculo de especial interesse, imediatamente faz duas coisas, ambas em prejuízo do candongueiro: aumenta os preços e limita o número de bilhetes disponíveis para cada cliente.

Publicado por: Zé Luiz às agosto 11, 2005 11:19 AM

Discordo do Lowlander quando diz que a candonga só surge quando o preço dos bilhetes está abaixo do preço do mercado. O produtor do espectáculo não fixca o preço dos bilhetes abaixo do preço do mercado: fixa-os em função dum certo número de factores, entre os quais se conta o risco de não os conseguir vender todos.

Ao transferir para o candongueiro este risco, o produtor evita pagar o respectivo prémio, reduzindo assim os custos e baixando assim os preços - que continuam a sern preços de mercado.

Por isso, enquanto consumidor - isto é, enquanto agente económico - não posso deixar de estar de acordo com a Joana. A actividade do candongueiro redunda em meu benefício, como redunda em meu benefício a actividade do arrumador de carrros.

A minha única discordância em relação à Joana vem do facto de eu não ser apenas um consumidor. Sou também um cidadão, ou seja, um agente político. E nesta qualidade sou altamente prejudicado pelas actividades, quer do candongueiro, quer do arrumador - quando mais não seja, pelo facto de eles não pagarem impostos enquanto eu os pago.

Publicado por: Zé Luiz às agosto 11, 2005 01:23 PM

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