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julho 14, 2005

A Teoria dos Preços há 170 anos

Ou como tudo era simples e depois se complicou

Nas suas Instituiçoens de Economia Política, escritas no exílio, mas impressas já em Portugal, em 1834, Ferreira Borges desenvolve a certa altura uma teoria da formação dos preços no mercado, mais descritiva e menos matemática que a actual, mas sem ser diferente nos conceitos gerais. Vejamos o que ele escreve:

Borges_EcPol-32b.jpg

Borges_EcPol-34b.jpg

Nota: as imagens não estão muito nítidas porque não quis pressionar demasiado o livro por ser uma edição com 171 anos. A citação de Malthus (cf. Pg 34) evidencia que Ferreira Borges tinha andado a ler os clássicos ingleses, o que infelizmente não sucede com a quase totalidade dos economistas actuais.

A expressão gráfica deste “arrazoado” está a seguir.

PrecosCPP.jpg


Na figura (i) a receita marginal (Rm) correspondente ao preço de equilíbrio do mercado (p) é superior ao preço , que é o preço correspondente ao mínimo do custo médio (CMT) que coincide, sempre, com a intersecção com o custo marginal (Cm). O empresário tem um lucro adicional correspondente ao rectângulo verde (no CMT considera-se incluída a remuneração do factor capital – o lucro normal). Na figura (ii) a empresa tem a função de custo igual à média do mercado. As curvas Cm, CMT e Rm (que em concorrência perfeita é uma recta paralela ao eixo dos X) intersectam-se no ponto de equilíbrio geral do mercado. O empresário não tem lucro adicional. Na figura (iii) a função de custo do empresário obriga-o a vender abaixo do custo [Nota: a quantidade q é a quantidade óptima, corresponde sempre à intersecção de Rm e Cm e demonstra-se que maximiza os resultados da firma em quaisquer circunstâncias]. Tem um prejuízo que é dado pelo rectângulo vermelho. Parte desse prejuízo é solvido pela sua própria remuneração do capital e o resto será solvido quer por atrasos no pagamento à SS, no pagamento dos salários, etc.. Se o empresário não melhorar a sua função de custo ou o preço de equilíbrio de mercado não subir, ele não se poderá manter muito tempo no mercado e irá à falência.
CustoLagrange.jpg

Os mais prevenidos, ou com outras possibilidades, deslocalizarão entretanto a produção quando perceberem que atingiram o ponto de não retorno.

Claro que os economistas, que precisam de fazer jus ao dinheiro que recebem, empenharam-se em complicar tudo. Ao lado, o intróito à determinação das funções de custo, tal como é apresentado nos manuais de Microeconomia.

Não apresento o resto para não ferir os espíritos mais sensíveis!

Publicado por Joana às julho 14, 2005 11:40 PM

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Comentários

Não há dúvida que tem piada ler estes textos antigos, Há uma certa ingenuidade.
Também eram os primórdios da Economia.

Publicado por: David às julho 15, 2005 12:14 AM

Joana: parabéns pelo serviço que presta dando a conhecer estes "clássicos" do nosso pensamento económico, de quem ninguém se lembra, injustamente.

Publicado por: Novais de Paula às julho 15, 2005 12:28 AM

Lembro-me da dedução dessas funções pelos lagrangeanos. Bons tempos.

Publicado por: Novais de Paula às julho 15, 2005 12:30 AM

Foi pena a Joana só ter posto o princípio. Pela primeira vez estava a perceber essa coisa dos custos.

Publicado por: Coruja às julho 15, 2005 12:56 AM

Excelente este blog

Publicado por: Sergio às julho 15, 2005 02:03 AM

Excelente este blog

Publicado por: Sergio às julho 15, 2005 02:04 AM

Isso era no tempo da troca de 1 fanega de centeio por 3 alqueires de trigo.

Mas porque não previa ele a subida das duas mercadorias ? pois diz:
Uma só pode subir, baixando a outra. Mas podem as ambas subir... de igual modo (ficariam na mesma entre si, mas valorizadas em relação a outras) ou até mesmo uma que suba mais do que outra.

Parece que só calcula 2 mercadorias .
Se compararmos 3 mercadorias. Centeio, trigo, e feijão.

Publicado por: Templário às julho 15, 2005 03:40 AM

Em vez de estar a escrever estas coisas complicadas num blogue, a Joana poderia exercer os seus talentos escrevendo um livro de economia para o grande público. Sempre ganhava com os direitos de autora algum dinheirinho para compôr o orçamento familiar.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 15, 2005 09:37 AM

Não me parece complicado (excepto a fotocópia do canto inferior direito) e é bom para cultura geral e para ficarmos a conhecer melhor pessoas de que só sabíamos as ruas.

Publicado por: Filipa Sequeira às julho 15, 2005 10:38 AM

Em relação à qualidade das imagens, experimentei dar um tratamento elementar a uma das imagens em photoshop a a sua legibilidade aumentou bastante.

Publicado por: Mário às julho 15, 2005 10:59 AM

" Claro que os economistas, que precisam de fazer jus ao dinheiro que recebem, empenharam-se em complicar tudo. Ao lado, o intróito à determinação das funções de custo, tal como é apresentado nos manuais de Microeconomia."

Essa é a tradição !!!
Baseada em : o segredo é a alma do negócio, logo quantos menos perceberem esse saber, mais necessidade terão de mim ( o que na realidade faz aumentar o preço, dos seus serviços)

Por isso os médicos escreviam receitas em Latim até ao século XIX, hoje escrevem-nas de maneira que alguns nem eles próprios conseguem ler.

Os Advogados chegam ao delírio com o seu palavreado.

Os engenheiros entendem que só os seus pares os podem compreender.

E os arquitectos, não estão para dar lições de história, para apoiarem suas ideias.


Publicado por: Templário às julho 15, 2005 12:03 PM

Joana, este post é demasiado técnico.
Por este caminho, ou desviamos o assunto para o habitual papel do Estado e desempenho do Governo, ou, para podermos comentar, vamos ter que começar a ler os canhenhos. Anda a tentar "formar para a Economia"?

Publicado por: Vítor às julho 15, 2005 01:16 PM

A fotocópia do método dos multiplicadores de lagrange é do Intriligator, ou coisa parecida? estudei isso há anos. As condições de 1ª ordem só garantem a existência de um ponto de estacionaridade; para ser um minimizante tem que se analisar a hessiana ou então utilizar argumentos de convexidade. Isto supõe condições de regularidade para f que os economistas normalmente passam por cima: f tem de ter derivadas parciais contínuas de 2ª ordem.


Joana tenho andado a tratar de várias outras coisas mas não tarda muito voltamos a discutir a situação económica do pós-1ª guerra.

Que a Alemanha se tenha afundado numa espiral de desvalorização faz todo o sentido, afinal eram os perdedores; já que no clube dos vencedores se veja que a libra e o dólar se aguentam enquanto que o franco e o sobretudo os escudo se desvalorizam substancialmente, cheira-me a esturro: acho que as potências latinófilas foram comidas pelas anglófonas. Não acha? É que o meu avô andou lá na guerra e eu guardei a espada.

Publicado por: pyrenaica às julho 15, 2005 01:37 PM

Actualmente os alunos de economia conhecem a determinação de funções de custo tal como são apresentadas na cópia do manual de microeconomia. Conhecem-nas de forma mecânica e não ficam com a "idea geral do preço". É a mesma situação que a Joana apresenta em "A Maldição da Matemática", basta subtituir "matemática" por "economia" e "alunos do 9º ano" por "estudantes de economia".

Publicado por: Daniel às julho 15, 2005 03:28 PM

http://www.gimp.org/

É uma aplicação para processamento de imagem tipo photoshop mas freeware.


pyrenaica Portugal era um país muito pobre que não tinha condições para entrar na 1ºGuerra Mundial, aliás pouco antes de entrar-mos quase não tinhamos exército . Adicionando a isso tens o caos da Primeira Republica. A França teve muita industria destruídas e também os governos que se seguiram não foram modelos de coisa nenhuma.

Publicado por: lucklucky às julho 15, 2005 04:19 PM

A ideia de Clemenceau era "Le boche payera tout!"

Publicado por: rezingão às julho 15, 2005 04:33 PM

O que é importante é que, contado à F Borges, contado em banda desenhada, ou com matemáticas superiores, o resultado é o mesmo

Publicado por: Rui Sá às julho 15, 2005 05:31 PM

Os franceses quiseram que a Alemanha pagasse uma fortuna em reparações. Lixaram-se porque julgavam que iam viver à conta da Alemanha, esta desenvoveu a indústria e a França regrediu . E no fim apanharam com o Hitler.

Publicado por: lopo dias às julho 15, 2005 05:56 PM

É interessante ver 3 ângulos de análise (embora o 3º só em "cheiro") sobre o mesmo tema.

Publicado por: Diana às julho 15, 2005 07:42 PM

A Inglaterra e os USA tinham sido os menos atingidos pela guerra e tinham as economias mais fortes. Por isso sofreram menos.

Publicado por: Rui Sá às julho 15, 2005 08:40 PM

A do tempo do Borges eu até conseguia perceber

Publicado por: lucas às julho 16, 2005 09:39 AM

Borges? Que Borges? O Ferreira ou o António?

Publicado por: soromenho às julho 17, 2005 03:20 PM

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