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maio 06, 2005

Um pensamento para o fds

O antigo Egipto tinha o duplo privilégio, que sem dúvida explica a sua riqueza fabulosa, de possuir duas espécies de actividades, a construção de pirâmides e a extracção de metais preciosos, cujos frutos, pelo fato de servirem às necessidades do homem sem ser consumidos, não se aviltavam por serem abundantes.

Provavelmente julgam que este pensamento é meu ... se até escrevi, há dias os “Construtores de Pirâmides”!

Mas não. Quem escreveu aquilo foi John Maynard Keynes! E na Teoria Geral, a sua obra seminal. Keynes acreditava que o lucro dos novos investimentos diminuía pelo facto dos investimentos mais viáveis serem assumidos em primeiro lugar, deixando os outros para mais tarde. No fundo, Keynes não acreditava que as inovações tecnológicas proporcionassem uma contínua viabilização de novos investimentos. Vivia-se a Grande Depressão e havia muito cepticismo quanto ao futuro.

E, já agora, deixo a continuação, com a qual Keynes terminou o capítulo 10 – Propensão Marginal a Consumir e o Multiplicador

A Idade Média edificou catedrais e entoou cânticos. Duas pirâmides, duas missas de requiem, valem duas vezes mais que uma — o que porém não é verdade tratando-se de duas estradas de ferro ligando Londres a York. Portanto, assim nos mostramos tão razoáveis, e nos educamos de modo tão semelhante aos financeiros prudentes, meditando bem antes de aumentar as cargas "financeiras" da posteridade pela edificação das casas onde ela viveria, que já nos não é tão fácil escapar aos inconvenientes do desemprego. Temos de aceitá-los como o resultado inevitável de aplicar à conduta do Estado as máximas concebidas para "enriquecer" um indivíduo, permitindo-lhe acumular direitos a satisfações que ele não tenciona exercer em qualquer época determinada.

E no fim de semana também será de leitura obrigatória “Um Governo Derridiano” nos jaquinzinhos

Publicado por Joana às maio 6, 2005 07:47 PM

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Comentários

Com um "pensamento" desses não custa a acreditar que o Keynes seja muito criticado hoje em dia

Publicado por: V Forte às maio 6, 2005 08:36 PM

Nós também estamos cheios de construtores de pirâmides.

Publicado por: Diana às maio 6, 2005 10:51 PM

O país A, que tem um orçamento deficitário, constrói um teatro por um determinado preço - teatro esse que daqui a 50 anos ainda estará a ser utilizado.
O país B, que tem exactamente o mesmo défice, constrói, exactamente pelo mesmo preço, uma bomba inteligente - que se auto-destrói à primeira utilização.
Pela lógica de Keynes, o país financeiramente mais prudente, e o que menos dívidas deixa à posteridade, é o país A.
Mas pela lógica da Joana e do V Forte, John Maynard Keynes não sabia do que estava a falar. Acham que o país mais produtivo, o que menos dívidas deixa à posteridade, é o país B.
E isto porquê? Porque a bomba inteligente, ao auto-destruir-se, torna necessária a construção de outra bomba inteligente, e esta de outra, e assim sucessivamente, cada uma delas a contar para o PIB quando é construída mas não deduzida ao PIB quando rebenta: é o moto-contínuo, finalmente descoberto pelos neoliberais.

Publicado por: Zé Luiz às maio 7, 2005 12:06 AM

Deve ser da hora, mas penso que você está completamente des-sintonizado.
Onde é que eu dei a entender semlhante coisa?
Aparece cada um!

Publicado por: V Forte às maio 7, 2005 12:37 AM

V Forte:

Parece-me que a tradução da Joana não é lá grande coisa, mas sempre dá para entender que, segundo Keynes, não estamos a prejudicar a posteridade se à despesa que fazemos hoje corresponder nom futuro património que elas possam utilizar.

A isto você reage pondo o pensamento de Keynes entre aspas. Destas aspas infiro que para você o pensamento de Keynes nem o nome de pensamento merece. A inferência não me parece abusiva.

Infiro também, do facto de o seu sobranceiro desdém por John Maynard Keynes se basear nas citações da Joana, que você acha, ao contrário dele, que despesa é despesa, independentemente de o que se adquire com ela poder ou não ser utilizado pela posteridade. Esta inferência também não me parece abusiva.

É claro que Keynes é muito criticado hoje em dia - não por ser um pensador menor, como você imagina e a Joana gostaria que imaginássemos - mas porque o seu pensamento não é o que mais convém à direita dos interesses que domina a comunicação social e parte do mundo académico.

Publicado por: Zé Luiz às maio 7, 2005 07:20 PM

... [errata] ... se à despesa que fazemos hoje corresponder no futuro património que ela possa utilizar.

Publicado por: Zé Luiz às maio 7, 2005 07:22 PM

Joana,

O seu anterir "pensamento" parece ter tido muito mais exito :)

Publicado por: Mario às maio 7, 2005 08:56 PM

Não é propriamente Keynes que é atacado hoje em dia, mas os seus seguidores e um certo dogmatismo que impuseram durante décadas, que envergonhariam o próprio Keynes.

Mas por cá o keynisianismo ainda é rei e senhor e continua a ser o receituário de quase todos os partidos políticos de esquerda e direita.

Publicado por: Mario às maio 7, 2005 08:59 PM

Mário:
É propriamente Keynes que é atacado hoje em dia. E é atacado em nome dum certo dogmatismo que se quer impor em benefício de uns e em detrimento de outros.

Publicado por: Zé Luiz às maio 8, 2005 04:13 PM

Se bem entendo a Joana (e posso estar a entendê-la mal) os keynesianos estabelecem uma distinção entre o que se produz para permanecer - isto é, para continuar a ser útil e a constituir «riqueza» para lá do tempo necessário à sua amortização - e o que se produz para consumir imediatamente.
Parece-me que a Joana considera esta distinção irrelevante; e que para os neoliberais a utilidade das coisas se esgota na sua transacção.
Se assim é (estou a especular, não a pôr palavras na boca de ninguém) - então a coisa mais útil do mundo é o dinheiro. Tudo o resto se subsume à categoria de «pirâmides».
Será isto o famoso monetarismo, tão em voga há vinte anos?

Publicado por: Zé Luiz às maio 8, 2005 05:21 PM

"Keynes acreditava que o lucro dos novos investimentos diminuía pelo facto dos investimentos mais viáveis serem assumidos em primeiro lugar"

Tanto quanto entendo e julgo, esta "crença" é a base da teoria marginal da economia, a qual foi desenvolvida no século 19 e na qual, naturalmente, Keynes estaria treinado.

Ou seja, aquilo em que "Keynes acreditava" era aquilo em que todos os economistas modernos da sua época acreditavam.

Mas talvez o meu entendimento esteja errado, e nesse caso a Joana pode-me corigir.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 9, 2005 09:55 AM

Eu já tinha lido algures que a Teoria Geral de Keynes era um livro particularmente opaco e difícil de ler. Pude constatá-lo nestes dois trechos.

De qualquer forma, talvez escritos no original inglês fossem mais entendíveis.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 9, 2005 09:57 AM

Nota:
Fiz copy& paste de uma tradução brasileira.
Mas não está assim tão hermético.

Publicado por: Joana às maio 9, 2005 01:07 PM

Para o caso de alguém querer ler o capítulo todo:

http://www.marxists.org/reference/subject/economics/keynes/general-theory/ch10.htm

Publicado por: Daniel às maio 9, 2005 03:21 PM

"não acreditava que as inovações tecnológicas proporcionassem uma contínua viabilização de novos investimentos"

No capítulo assume-se capital constante e trabalho variável, basicamente trata-se do curto prazo. No curto prazo é comum e razoável assumir tecnologia constante, daí que a inovação tecnológica não seja tida em conta para os novos investimentos.

Publicado por: Daniel às maio 9, 2005 05:33 PM

Publicado por: teen boot camp às junho 11, 2005 11:19 PM

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