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maio 15, 2005

Sócrates perante a cicuta

Segundo a comunicação social, o Governo prevê apresentar medidas "draconianas" para conter o défice, incluindo, segundo consta, encerramento de serviços públicos, aumento do imposto sobre combustíveis, possível aumento da idade de reforma, igualização ao regime geral de IRS do regime de IRS para os reformados (menos oneroso), a introdução de portagens em algumas SCUT, a aproximação do regime de aposentação dos funcionários públicos ao regime geral, alteração da progressão automática nas carreiras da função pública, alterações ao regime de subsídio de desemprego, nomeadamente a redução da sua duração, e o adiamento de alguns grandes projectos públicos de investimento.

Segundo o Expresso, “perante a má receptividade das suas medidas no Executivo, Campos e Cunha está a aligeirar a proposta de modo a obter a sua aprovação”. O Expresso garante que as medidas propostas pelo ministro das Finanças, Campos e Cunha, "chocaram vários ministros".

Há duas coisas nestas notícias que me “chocam”:

Em primeiro lugar o “choque” dos ministros. Que competência terão os ministros que ficaram “chocados”? Como é possível que não se tenham apercebido da situação em que o país se encontra? Como é possível irmos ser governados durante quatro anos por ministros que não fazem ideia do estado em que o país está e, pior, não fazem ideia do estado em que os respectivos ministérios estão quanto a eficiência, dimensão dos efectivos e correcta afectação destes e cuja reacção, quando confrontados com a realidade, é “ficarem chocados”?

Em segundo lugar, a possibilidade de “perante a má receptividade das suas medidas no Executivo, Campos e Cunha estar a aligeirar a proposta de modo a obter a sua aprovação”. O ministro Campos e Cunha rege-se por critérios de racionalidade económica e financeira ou pelas desordens emocionais dos seus colegas de gabinete?

É duro para um partido que enquanto oposição criticou as medidas de contenção orçamental, que fez uma campanha eleitoral criando a ilusão que com uma “política de rigor” haveria a descompressão pela qual o país ansiava, que prometeu acabar com o discurso da tanga, que baseou as suas promessas no “enterro do PEC”, ser confrontado agora com a crua realidade.

Sócrates recebeu uma herança terrível. E o mais preocupante é só agora se ter apercebido disso. Foi uma herança preparada pelo governo mais desastrado que o país alguma vez teve, e no qual figurava o próprio Sócrates, continuada por um governo sem coragem, face a uma oposição chicaneira, de atacar as questões de fundo, e acabada por um governo armadilhado, cujo principal objectivo era evitar ser demitido no dia seguinte, para que Sócrates recebesse a herança.

Foi um presente envenenado, mas foi envenenado por um governo do qual Sócrates era ministro, envenenado pela política de obstrução permanente da oposição, da qual Sócrates era uma figura proeminente, mobilizando as forças sociais contra medidas que seriam obviamente difíceis, envenenado pela política do “governo sob vigilância” implementada pelo PR como solução interina até o PS encontrar um líder “credível”.

Sócrates está a comer o bolo que envenenou ou ajudou a envenenar. Sócrates está perante a cicuta que preparou.

Esperemos pelo Orçamento Rectificativo para 2005, a apresentar em Junho.

É o Choque Emocional em vez do Choque Tecnológico.

Publicado por Joana às maio 15, 2005 08:19 PM

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Lista dos links para blogues que mencionam Sócrates perante a cicuta:

» Coisas boas - Parte III from GolfinhU2
Um défice orçamental de 7% vai dar muita linha para escrever nos próximos quatros anos por aqui... P.S. Já começou...... [Ler...]

Recebido em maio 15, 2005 08:31 PM

Comentários

E agora que já estamos todos em estado de choque... que tal partilhar com o pessoal o seu pensamento sobre os sobreiros do Ribatejo e a reserva ecológica de Belmonte?
Admito que esteja um bocado engasgada, mas quando se fala de ministros deve-se ir até ao fim. Por uma questão de coerência intelectual, sabe?

# : - ))

Publicado por: (M)arca Amarela às maio 15, 2005 08:51 PM

Como afirmou o seu correligionário político Ganhão, o problema da decisão foi o "timing". Quanto à decisão em si, ele está de acordo com a decisão e eu também.
Relativamente a Belmonte todas as entidades locais e regionais estão de acordo. Havia uma reserva "ecológica" de água estagnada que vai ser recuperada.
Parvoíces dos ambientalistas deixados à solta nos institutos do Estado.
Se não começassem a desclassificar áreas, hoje não havia nem uma central eólica.

Publicado por: Joana às maio 15, 2005 10:15 PM

Nota: a desclassificar áreas sob pressão dos governos, pressionados pelos promotores das eólicas (capitalistas satânicos!!) e pelo protocolo de Quioto.

Está respondido?

Publicado por: Joana às maio 15, 2005 10:17 PM

Pois é. Sócrates tem um terrível precedente. O da cicuta.

Publicado por: soromenho às maio 16, 2005 12:23 AM

Joana às maio 15, 2005 10:17 PM

Duas observações:

1 - O citado Ganhão não é meu correlegionário político, nem de coisa nenhuma

2 - Quanto à questão de fundo, o Ministério Público irá esclarecer se é uma questão de timing, de modus operandi, ou mão na massa.

Mas não se precipite porque parece que há mais

# : - ))

Publicado por: (M)arca Amarela às maio 16, 2005 01:38 AM

"Relativamente a Belmonte todas as entidades locais e regionais estão de acordo"

Creio bem que sim. No caso de Belmonte trata-se efetivamente de um empreendimento turístico (bungalows, um aparthotel, etc).

Mas o caso de Benavente é totalmente diferente, Joana. Aí, creio que todas as entidades estão em desacordo. (É claro que a Câmara Municipal acha bem, mas outra coisa não seria de esperar.) Em Benavente não se trata de um empreendimento turístico mas sim, essencialmente, de um empreendimento imobiliário (segunda habitação). Não traz qualquer valor acrescentado ao país, sobretudo não traz qualquer capacidade de atração de turismo estrangeiro. Destina-se basicamente à classe média-alta de Lisboa, para lá comprar casas de fim-de-semana ou, ocasionalmente, mesmo de semana inteira.

Confundir os dois casos é um erro crasso da comunicação social. Pelos vistos a Joana, no seu ódio irracional à esquerda e aos ambientalistas, e no seu amor incompreensível pelo PSD-CDS, cai no mesmo erro crasso.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 16, 2005 09:53 AM

Ó Luis Lavoura, você enquanto diz coisas acertadas e isentas muitas vezes. Outras... Aqui, você faz afirmações gratuitas imbuidas de forte conteúdo ideológico. Declara você:
1) São segundas habitações, (adivinho-lhe um rilhar de dentes) como se isso fosse pecado.
2) Não atrai turismo estrangeiro. Quem julga você que joga golfe? Quem julga você quem são muitos dos proprietários das casas junto aos campos de golf?
E não me venha em defesa dos ecologistasinhos como se fossem os únicos com razão.
Para compensar os 2 mil e tal sobreiros está prevista a plantação de 4 vezes esse número.
Por outro lado, digo-lhe mais, caçador que sou e que muito me orgulho, defendo intransigentemente a existência de grupos ecologistas que têm a capacidade de nos alertarem para os desmandos praticados contra a Natureza, mas ao mesmo tempo condeno, sem reservas, a incompetência de quem legisla mediatisticamente baseado em fundamentalismos suportados por pressupostos pseudo-dramáticos, mor das vezes sem qualquer base científica.

Publicado por: JMTeles da Silva às maio 16, 2005 10:53 AM

...de vez em quanto... e não enquanto.

Publicado por: JMTeles da Silva às maio 16, 2005 10:56 AM

...de vez em quando... e não enquanto.

Publicado por: JMTeles da Silva às maio 16, 2005 10:56 AM

JMTeles da Silva às maio 16, 2005 10:53 AM

O fundamento para aprovar projetos turísticos é o facto de eles criarem postos de trabalho e melhorarem a nossa balança de pagamentos, ao atrair turistas estrangeiros. A segunda habitação não é turismo. Não tenho nenhuma raiva contra a segunda habitação, muito simplesmente faço observar que nada justifica que ela seja promovida ou apoiada como sendo um relevante desígnio nacional, que não é. A segunda habitação não cria postos de trabalho nem atrai turistas.

O golfe tem muitos jogadores, estrangeiros e nacionais. O facto de haver algures um campo de golfe não implica automaticamente que esse local está cheio de turistas. O campo de golfe pode ser utilizado, na sua maioria, por portugueses.

É claro que o empreendimento de Benavente terá alguns clientes que serão verdadeiros turistas (nacionais e alguns estrangeiros). Mas o essencial do projeto é simples imobiliário de segunda habitação, tal como, aliás, boa parte dos projetos que em Portugal são classificados como "turísticos".

Num país com um forte problema de competitividade internacional, com uma balança de pagamentos fortemente deficitária, e com um setor da construção civil já demasiadamente empolado, a construção de segunda habitação não deve ser considerada uma atividade prioritária, merecedora de especiais favores governamentais.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 16, 2005 11:07 AM

http://online.expresso.clix.pt/opiniao/artigo.asp?id=24751169

Publicado por: pyrenaica às maio 16, 2005 11:51 AM

Luís Lavoura às maio 16, 2005 11:07 AM:
Construção Civil que tenha retorno: habitação, turismo, autoestradas pagas pelos utentes, etc. é um investimento como outro qualquer.
No caso do golf tem a vantagem de ser um turismo que mantém a capacidade hoteleira utilizada na época baixa e por turistas endinheirados.
Obras públicas feitas sem retorno ´que apenas têm efeitos pontuais. Não possibilitam sustentabilidade.
A única questão é, no caso da habitação, o excessivo endividamento das famílias. Mas essa situação resolve-se com medidas sobre o financiamento em si, e não impedindo que se façam obras. Esta seria uma medida completamente obtusa.

Publicado por: Joana às maio 16, 2005 02:02 PM

De sublinhar ainda que eu apenas discuti as medidas em si, e não a questão do alegada tráfico de influências.

Publicado por: Joana às maio 16, 2005 02:03 PM

Joana às maio 16, 2005 02:02 PM

Eu não ponho em causa que a construção de segunda habitação seja um mau investimento, nem sequer sugiro que seja indesejável. Só não vejo é onde é que está a "imprescindível utilidade pública" que Nobre Guedes declarou para este investimento em particular. O que está em causa não é o investimento que o grupo Espírito Santo pretende fazer; o que está em causa é ele ter sido declarado de utilidade pública, quando de facto é um investimento que nem tem efeitos multiplicativos (spon-offs, etc), nem reduz a dependência externa do país.

Quanto ao golfe: o Belas Clube de Campo também tem um golfe, e é um empreendimento imobiliário, não e turístico. O campo de golfe do empreendimento Espírito Santo não se destina (prioritariamente) a quaisquer turistas, destina-se aos moradores permanentes (ou de fim-de-semana) do empreendimento imobiliário. Eu não manifestei qualquer objeção à existência de campos de golfe, nem em empreendimentos turísticos, nem em empreendimentos imobiliários.

Só afirmo é que aquele empreendimento concreto, em Benavente, tam objetivos fundamentalmente de segunda habitação e, portanto, não tem qualquer interesse nacional relevante.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 16, 2005 02:29 PM

"Segundo a comunicação social, o Governo prevê apresentar medidas "draconianas" para conter o défice"

Se as medidas sugeridas forem implementadas isso constituirá a verdadeira humilhação da direita - será o partido de esquerda a tomar medidas efectivas para controlar o défice.
Se este Governo tomar essas medidas para controlar o défice fica no ar a dúvida:
afinal, para que serve a direita?

Parece que o Governo anterior era melhor a cortar sobreiros do que a cortar despesa. Mas fazia-o por convicção religiosa, ou seja, em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.

Publicado por: Daniel às maio 16, 2005 03:14 PM

Tem toda a razão, Daniel. Ter que vir a esquerda a tomar as medidas que a direita não teve coragem de tomar. Isto se as tomar!

Publicado por: V Forte às maio 16, 2005 03:17 PM

Alguns disseram, logo depois da tomada de posse do actual governo, que este ministro das finanças se iria tornar num dos maiores críticos deste governo, depois de sair em divergência frontal com quase todo o executivo.

Parece que esse momento se está a aproximar.

Publicado por: Mário às maio 16, 2005 04:18 PM

Acho surpreendente que se atribuam responsabilidades ao PSD por o actual governo não querer vender as pratas da casa e assim diminuir o deficit, e impedir uma qualquer punição da UE e o agravamento do rating do Estado.
O Barroso foi mau, o Santana foi péssimo. E depois? Isso resolve a situação? Não resolve.
O PSD está fora do governo e compete ao PS governar. Repito, compete ao PS governar. Repito, porque parece que ainda muita gente não entendeu que compete ao PS governar. E governar implica olhar para a frente e tomar medidas impopulares que vão contra a prodigalidade habitual dos governos pós 25/4. Não é uma questão de direita ou de esquerda, é uma questão patriótica que pode implicar a perda da nacionalidade ou pelo menos da autonomia que nos resta. Já em 1488 D. Joao II teve de mandar importar da Europa desse tempo todas as roupas, móveis,etc., para o casamento do seu filho Afonso porque Portugal não produzia nada. Ninguém trabalha nem faz porra nenhuma.Temos vivido de dinheiro emprestado desde então. Hoje nem povo alfabetizado já temos. Só nos resta a inveja. Inveja dos poderosos, inveja dos ricos, inveja dos cultos,ou melhor, nem sequer inveja nos resta porque a inveja pressupõe querer para si o bem de outrem, e nós nem isso queremos. Queremos apenas que todos vivam na merda. Queremos todos ser funcionários publicos, salário garantido, dois cafézinhos por dia, prestação do carro, telejornal, bola e pantufas. Pois bem, isso acabou. Não há mais India, Brasil ou Africa e até acabarm os fundos da UE. Será que nem agora vamos acordar para a realidade?

Publicado por: Joao P às maio 16, 2005 04:27 PM

Ganda Joao P! É assim mesmo. Tou de acordo.
Estes tipos estão à rasca porque andaram a prometer uma coisa e agora estão a ser empurrados pela tal "Mão Invisível" para fazer o contrário.

Publicado por: Coruja às maio 16, 2005 05:09 PM

As melhores medidas tomadas pelo anterior governo foram precisamente a venda dos anéis ou pratas da casa, como se prefeir.

O Estado não deve ser uma mulher fútil e vaidosa, sedenta de caprichos.

Publicado por: Mário às maio 16, 2005 05:17 PM

A psoriasís vai em crescendo. Terrível.

Publicado por: asdrubal às maio 17, 2005 12:41 AM

"As melhores medidas tomadas pelo anterior governo foram precisamente a venda dos anéis ou pratas da casa"

?!
Foi isso que impediu que fossem tomadas medidas reais para controlo do défice. A única razão possível para se considerar que foram as melhores medidas é a falta de qualidade das restantes medidas.

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 08:17 AM

Houve medidas para controlo do défice corrente: congelamento de salários da função pública, extinção de dezenas de institutos, restrições às admissões, etc.
O problema é que a despesa pública não se resolve apenas com "cortes". Resolve-se com a reorganização dos serviços. Sem essa reorganização, corta-se de um lado ... aparece do outro; sai um funcionário ... são metidos 2 por exigências inadiáveis de serviço fundamentadas pelas chefias intermédias; etc..
Aliás, sem reosganização dos serviços não é possível, nem conveniente, reduzir o pessoal.
Esta é a parte mais difícil, e foi aqui que os governos anteriores falharam (e todos os outros antes).

Publicado por: Joana às maio 17, 2005 09:41 AM

"a despesa pública [...] resolve-se com a reorganização dos serviços"

Plenamente de acordo. Só que
1) Nessa coisa de organização os portugueses são, em geral, uns nabos (e isto é uma verdade geral, também nas empresas privadas).
2) A reorganização dos serviços só pode ser eficientemente feita por quem os conhece bem, isto é, pelas chefias intermédias. E essas, nem sempre estão motivadas para o efeito.

"foi aqui que os governos anteriores falharam"

Pois. Só que, não se percebe bem como podem os governos ter mão nas suas chefias intermédias e forçá-las a, de forma efetiva, reorganizar os serviços.

Há no Estado uma enorme quantidade de trabalho supérfluo e de verificações redundantes. Eu aqui, quando querio efetuar um pagamento, peço à secretária que faça uma requisição. Ela escreve a requisição e passa-a a outra funcionária, que verifica que tem cabimento e faz a contabilidade, ue por sua vez a passa a uma terceira funcionária, que produz o cheque. Todo o trabalho de verificações e contra-verificações demora 15 dias e é feito, efetivamente, em triplicado. A minha secretária poderia, sem dificuldade, passar ela mesma o cheque (em vez de fazer uma requisição) e fazer a contabilidade. Mas não. Há uma enorme complicação de regulamentos e procedimentos que têm que ser seguidos, e que complicam e entopem o sistema.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 17, 2005 10:18 AM

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 08:17 AM

"Foi isso que impediu que fossem tomadas medidas reais para controlo do défice."

Não. O que impediu tomar as medidas reais foram outros factores:

- Falta de coragem política;
- Falta de competência técnica;
- Inércia do Estado;
- Oposição destrutiva;
- Censura presidencial;
- Consituição da república paralizante;
- Sindicatos, patrões e outros grupode pressao que dependem do défice para sobreviverem;

Chega?

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 10:48 AM

"1) Nessa coisa de organização os portugueses são, em geral, uns nabos (e isto é uma verdade geral, também nas empresas privadas)."

A diferença é que se o Estado é nabo, todos sofremos com isso. Se a empresa é mal organizada sofrem os seus accionistas e colaboradores.

Por ganância, instinto de sobrevivência ou mero racionalismo, o sector privado tem maior tendência a organizar-se. Especialmente se souber que o Estado não remedia as suas falhas.

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 10:51 AM

"Há no Estado uma enorme quantidade de trabalho supérfluo e de verificações redundantes."

Numa empresa onde trabalhei (privada) seguem o mesmo procedimento, não só em cheques mas para todo o género de documentos. Além disso essa empresa tinha sido reestruturada há relativamente pouco tempo, o que confirma a ideia de sermos maus na organização.

Neste caso quem sofria eram os clientes que tinham de esperar e, como todos somos clientes de alguém, todos sofremos com isso. O nosso Estado é o nosso reflexo, não é melhor nem pior que os restantes agentes económicos, é apenas maior e mais visível.


Tenho de concordar que foram tomadas algumas medidas para resolver o problema do défice, mas foram insuficientes em dimensão e profundidade. Além disso, ao utilizar receitas extraordinárias o problema foi suavizado, diminuindo o empenho do Governo e a quantidade de medidas impopulares a serem tomadas.Já se falava em diminuir os impostos quando o défice era quase 3%, quando o objectivo é que o Estado comece a diminuir a dívida pública (ter lucro ou ter uma economia a crescer relativamente mais que a dívida pública). O motivo principal pode ser a falta de coragem política, além de uma resistência natural da administração pública.

Responsabilizar o presidente da república ou a Constituição é um disparate, é esquecer quais as funções de ambos. Os grupos de pressão fazem pressão, é natural (é para isso que servem) e não é necessariamente prejudicial. Se os políticos têm falta de coragem e um bizarro pudor de utilizar o seu poder para fins públicos, a responsabilidade é das democracias carunchosas e da imbecilidade do espaço público, que prefere entretenimento a rigor e verdade.

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 11:41 AM

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