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março 16, 2005

Os Idos de Março de 44AC 1

Antecedentes Políticos e Sociais

Há episódios da História do Mundo onde os destinos do mundo se jogaram de forma dramática. Nunca saberemos qual teria sido a evolução se eles não se tivessem dado. Tudo o que podemos calcular é que teriam sido seguramente diferentes. A derrota dos persas às mãos dos atenienses; a morte prematura de Alexandre Magno; o assassinato de César nos idos (15) de Março de 44 AC, são exemplos. Nunca saberemos como teria evoluído o mundo romano se César tivesse levado a cabo as reformas que havia encetado e que, tudo o indica, estavam nas suas intenções.

O Estado romano não era, de raiz, um verdadeiro Estado territorial. As suas instituições e as suas magistraturas estavam adaptadas ao governo da Cidade Antiga e não de um grande Império. Os seus órgãos governativos tinham funcionado exemplarmente enquanto Roma se circunscreveu à cidade ou ao Latium. Foi a essas instituições, ao sentido do serviço público, às virtudes cívicas e à coesão social que elas desenvolveram que Roma deveu a sua expansão e a sua invencibilidade. A vitória de Roma sobre Cartago não é exemplo de um facto fortuito, pois Roma nunca poderia ter perdido aquela guerra. Basta ver como tanta coisa lhe correu mal nas duas primeiras guerras, os revezes da fortuna que teve, o ter tido pela frente um dos maiores cabos de guerra de todos os tempos, e como conseguiu sempre ultrapassar essas contrariedades e vencer. A sua obstinação e persistência eram uma das facetas mais poderosas das virtudes públicas e patrióticas resultantes do exercício das suas instituições.

Todavia, assim que ultrapassou o estádio da conquista e da exploração hipócrita ou brutal dos vencidos, Roma não soube verdadeiramente que atitude tomar face às suas conquistas. Era essa a contradição em que a República Romana vivia no século I AC. A cidade era um molde demasiado estreito para aí refundir o mundo. A partir do fim da 2ª guerra púnica, os governadores e os publicanos submeteram as províncias e inclusivamente os países «protegidos» a uma exploração desenfreada. Fazendo frutificar no próprio lugar os imensos rendimentos que tiravam da arrematação dos impostos, as sociedades de publicanos não tardaram a monopolizar a actividade creditícia em todas as províncias. As cidades gregas, arruinadas pelas requisições, não tiveram outra alternativa, para fazer face aos seus encargos, senão recorrer aos empréstimos dos banqueiros romanos, ficando assim à sua mercê. Governadores e publicanos operavam aliás com toda a liberdade; com efeito, os seus abusos não podiam deixar de ficar impunes, apesar de uma lei que, em 149, criara, para os julgar, uma comissão de senadores, pois que estes eram ao mesmo tempo juízes e réus.
A tutela da finança romana alargou-se ao decrépito Reino dos Selêucidas, na altura reduzido a pouco mais que a actual Síria, que para pagar a Roma o tributo anual, se viu obrigado a contrair empréstimos aos próprios banqueiros romanos e ao Egipto dos Ptolomeus, que vieram igualmente procurar em Roma uma ruinosa protecção.

Estas exacções provocaram diversas revoltas. As classes populares de Corinto, o principal centro industrial da Grécia de então, tomou o poder na cidade e na Liga Aqueia, até então dominada pelo partido dos grandes proprietários, e arrastou-a para a revolta contra a tutela romana e para o caminho das reformas radicais: abolição das dívidas, libertação dos escravos, lançamento de impostos maciços sobre as classes ricas. Roma interveio. Os seus exércitos esmagaram as forças aqueias, e o senado, para aterrorizar os revolucionários, ordenou que se arrasasse Corinto (146AC), significativamente o mesmo ano em que Cartago era tomada e arrasada.

A situação social na cidade eterna era periclitante. Até então Roma fora governada pela nobreza apoiada pelos cavaleiros. Ambos eram contra as distribuições de terras que a plebe rural reclamava. A classe média havia sido destruída durante as convulsões financeiras decorrentes das conquistas. O afluxo de metais preciosos e de escravos a bom preço havia arruinado a pequena propriedade, a base social de Roma e da sua grandeza. Recusando-se a fazer os sacrifícios indispensáveis para a reconstituição de uma classe média de pequenos proprietários, a nobreza achara melhor garantir-se os votos do partido popular nos comícios, constituindo uma clientela comprada pelas esmolas e pela corrupção eleitoral. Mas as reformas provinciais que tinham em vista limitar os lucros ilícitos dos publicanos levantaram a alta finança contra o senado. A coligação dos poderosos desfez-se, e os cavaleiros voltaram-se para o proletariado, para graças a ele obterem a maioria nos comícios. Para conservar a liberdade de explorar as províncias, os financeiros davam à plebe, como moeda de troca, as grandes propriedades da nobreza.

Esta aliança «da esquerda» não era consequente, porque havia clivagens nela. Não se pode ser «democrata» intra-muros e agiota e gatuno fora de muros. A revolta de escravos que estalou na Sicília em 135, e que só pôde ser dominada ao fim de três anos de luta, e, na mesma altura, a revolta de Aristónico, filho bastardo de Átalo III, Rei de Pérgamo (que havia legado, por morte, os seus Estados a Roma), que, para tentar conquistar o poder em Pérgamo e na Ásia Menor, chamou às armas o povo e os escravos, e punha em prática as reformas sociais preconizadas em toda a Grécia pelo partido revolucionário, abolindo as dívidas, libertando os escravos e concedendo o direito de cidade tanto a estrangeiros como aos libertos, incitou os extremistas do partido popular em Roma que chegou a preconizar a constituição de uma frente revolucionária, em que participariam o proletariado e os escravos. Era óbvio que a classe equestre nunca aceitaria semelhante política. O extremismo do partido popular retirou-lhe a base social de apoio e facilitou que se gorassem as tentativas de reformas de Tibério e Caio Graco e que estes fossem impunemente assassinados.

Esta aliança acabou por ocorrer, cerca de duas décadas depois, em 108AC, e por razões paradoxais. A classe financeira era partidária da guerra contra Jugurta, rei da Numídia, para vingar a morte de alguns mercadores romanos (e de passagem, adquirir mais uma província). O senado queria a paz. Mas a classe equestre convenceu a plebe que a vitória das armas romanas poderia proporcionar a distribuição de terras em África, e a guerra foi levada por diante.

Foi a coligação da finança com o partido democrático que fez perder ao senado, pouco entusiasmado com a guerra, a sua posição dominante nos comícios e levaram à ascensão de Mário ao consulado e ao comando militar. Coube a Mário, paradoxalmente o chefe do partido democrático, a criação de um exército profissional. Doravante, as legiões não seriam já a nação em pé de guerra, mas um exército profissional, ávido de saque e a soldo dos seus generais. Ou seja a aliança «da esquerda» chefiada por um líder do partido democrático teve como objecto a guerra, conduziu à profissionalização do exército e criou em Roma o hábito sanguinário, até então inexistente, de cada facção, logo que chegada ao poder, massacrar os adeptos da facção oposta.

Para vencer a oposição senatorial, Mário, depois de campanhas militares vitoriosas contra os Númidas, os Címbrios e os Teutões, e sendo nomeado cônsul pela sexta vez, fez com que os comícios, para constrangerem o Senado a ceder, votassem uma lei De majestate, que permitia dar-se a morte a todos os cidadãos culpados de crime contra a majestade do povo romano. Era entregar a Mário e ao partido democrático, de quem era o ídolo, a vida e os bens de todos os cidadãos. Seguiram-se horríveis carnificinas. Desencadeou-se a guerra civil entre o senado e o partido democrático, guerra que degenerou numa revolução dos proletários romanos. Aterrorizados, os cavaleiros aproximaram-se da nobreza. A revolta foi abafada, e à coligação dos partidos da esquerda sucedeu um governo da direita. Todavia a semente da guerra civil e da apetência pelos massacres dos opositores ficou latente na sociedade romana.

A guerra contra Mitrídates, para a qual Roma havia sido empurrada pelas provocações montadas pelos publicanos contra o Rei do Ponto, criou mais uma crise social gravíssima. Mitrídates, com grande habilidade política, chamou às armas os democratas de todos os países gregos e apelou ao massacre dos Italianos residentes na zona. A população grega e asiática, farta das exacções romanas, respondeu ao seu apelo massacrando 80.000 Italianos (88AC). Mitrídates instalou o seu quartel general em Atenas que, como toda a Grécia, o recebeu de braços abertos. A guerra que Mitrídates conduzia tomou o aspecto de cruzada democrática, libertando os escravos, abolindo as dívidas e dando o direito de cidade aos metecos e aos estrangeiros.

A revolta dos países da Grécia e da Ásia Menor, onde a finança romana investira tanto, provocou em Roma uma crise financeira, dentro em breve seguida por uma crise fiscal. Além disso, a perturbação que os piratas, aliados de Mitrídates, causavam à navegação, e a guerra na Itália, sublevada em virtude de não lhe haver sido concedido o direito de cidade, como tantas vezes fora prometido, provocaram a escassez e a fome em Roma com os consequentes movimentos populares. Para conseguir recursos, o senado secularizou os bens dos templos e desvalorizou a moeda em 50% do seu valor. Mas o resultado desta medida foi o pânico na bolsa que tornou ainda mais precária a situação financeira. A braços com as mais graves dificuldades, devidas ao ódio que suscitara por todos os lados, Roma mandou Mário contra os Italianos revoltados, e Sila, chefe do partido aristocrático, contra Mitrídates. Os Italianos foram vencidos, embora Roma lhes tivesse de seguida concedido a cidadania romana.

Mário, regressado vitorioso da sua campanha, pôs-se novamente à frente do partido democrático e entrou com o seu exército em Roma, onde organizou as proscrições e o massacre dos aristocratas. A sua morte (86AC) evitou o prolongamento desse massacre. Entretanto, Sila, vencedor de Mitrídates, impunha aos Estados deste o enorme tributo de guerra de 20.000 talentos (cerca de 750 milhões de euros à cotação do ouro, ou 5 a 6 vezes mais em termos de paridade de poder de compra). Senhor destes recursos, Sila regressou a Roma, apoderou-se do poder e reeditou as proscrições de Mário em escala porventura maior. Um jovem proscrito teve a vida poupada mercê da coragem então demonstrada (82AC), que Sila soube apreciar: Júlio César.

Sila estabilizou provisoriamente a situação, mas após a sua renúncia (79AC) sucedeu a revolta dos escravos de Spartacus (75-71), a tentativa de desforra de Mitrídates, apoiado na Grécia pelo partido revolucionário, e no mar pelos piratas. A anarquia regressou. Roma, bloqueada pelos piratas, passava fome e a gravidade da situação social fazia com que os capitais emigrassem. O partido da finança entrou novamente numa coligação com o partido democrático. O senado, cujo poder Sila havia restaurado, foi novamente vencido. E os comícios levavam ao consulado aqueles que, pela demagogia, conseguiam obter o favor das massas. Crasso, o mais típico representante da finança das negociatas, e Pompeu, que fazia a sua entrada na política, foram eleitos cônsules em 70.

Em 67, os cavaleiros conseguiram decidir os comícios a confiar a Pompeu o comando supremo do Mediterrâneo. A unidade de comando deu imediatamente os seus frutos. Pompeu bateu Mitrídates definitivamente, liquidou com o reino selêucida e fez dele a província da Síria (64), e destruiu as frotas dos piratas. Ao mesmo tempo, Cícero, cônsul em 63, decretando em Roma o embargo ao ouro, detinha o êxodo dos capitais provocado pelo temor da revolução social. Graças às suas vitórias e conquistas, Pompeu elevara os rendimentos da república de 8.000 para 14.000 talentos.
Roma parecia momentaneamente salva. Mas os tributos exigidos às províncias dominadas eram de tal modo pesados que estas só podiam pagá-los pedindo empréstimos, a juro muito elevado, aos próprios banqueiros romanos. Graças a este subterfúgio, as prestações puderam ser pagas durante alguns anos, mas não tardaria a resultar daí uma formidável quebra financeira, que iria contribuir para lançar a república numa crise que lhe seria fatal.

Roma tinha chegado a uma encruzilhada. As instituições da Cidade Antiga eram completamente inadequadas à governação de um Estado territorialmente extenso. E Roma, a cidade, uma democracia mais alargada que a maioria das democracias europeias do século XIX. Os seus principais magistrados – cônsules, pretores e censores – eram eleitos pelos comícios centuriais que incluíam todos os cidadãos. Era uma democracia censitária na medida em que o voto era por centúrias (havia 193) distribuídas por 5 classes, de acordo com a riqueza, e as classes mais ricas ou aristocratas “tinham” mais centúrias (os não possidentes estavam todos numa única centúria). Era uma espécie de votação “ponderada” pela riqueza.

Não era possível continuar como até então, com um governo “democrático” intra-muros e saqueando as conquistas “fora de portas”. Nem era possível manter permanentemente as conquistas a serem “conquistadas”, nem era possível conciliar intra-muros a “democracia” com o saque exterior. A perversão das espoliações e exacções nas províncias perverteria, como perverteu, o funcionamento da democracia intra-muros, tornando-a numa caricatura. Algo teria que mudar, nem que fosse para que continuasse tudo na mesma. Foi aliás esta a hipótese que acabou por vingar com a ascensão ao poder de Augusto. A reforma de Augusto permitiu um fôlego de 2 séculos, até ao reinado de Marco Aurélio.

O assassínio de César impediu que se soubesse o que poderia ter acontecido se a mudança tivesse constituído uma ruptura com as instituições anteriores.


Ler igualmente:
Os Idos de Março de 44AC 6
Os Idos de Março de 44AC 5
Os Idos de Março de 44AC 4
Os Idos de Março de 44AC 3
Os Idos de Março de 44AC 2

E como complemento sobre o mesmo período:
Orçamento de Estado para 14 AD
O Mercado de Trabalho

Publicado por Joana às março 16, 2005 08:05 PM

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Comentários

Que boas férias de Páscoa!!!!!

Publicado por: Coruja às março 28, 2005 12:55 AM

Em política nunca se sabe o que teria acontecido de acontecesse o que não aconteceu.

Publicado por: Domino às março 28, 2005 11:38 PM

Só se consegue meter comentários pelo pop-up!

Publicado por: Domino às março 28, 2005 11:39 PM

"Além disso, a perturbação que os piratas, aliados de Mitrídates, causavam à navegação, e a guerra na Itália, sublevada em virtude de não lhe haver sido concedido o direito de cidade, como tantas vezes fora prometido, provocaram a escassez e a fome em Roma com os consequentes movimentos populares"

O trigo era a base da alimentacao em Roma, os principais abastecedores de Roma eram a Sicilia e Norte de Africa. A pirataria que assolava o Mar Mediterraneo durante este periodo concentrava-se essencialmente no Mar Egeu, Medio Oriente (Cesar esteve refem algures nas costas da antiga provincia Siria por piratas, apos o o resgate ser pago organizou uma frota, atacou e destruiu o porto de refugiu e crucificou os piratas) e na costa sul de Espanha, o comercio de trigo nao foi portanto muito afectado, pelos motivos expostos acima tambem a guerra civil nao teve efeito na oferta de trigo. Revoltas de escravos na Sicilia ou mas colheitas nestas duas provincias devido ou clima foram o0 principal motivo para a escassez pontual, mas nunca houve fome em Roma no final da Republica, houve sim algumas crises especulativas com o preco do trigo que lesaram de forma significativa o tesouro do Estado, ja que o preco do trigo aos cidadaos de Roma era fixo.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 07:48 AM

Mitridates foi um fraco adversario de Roma. Era um general de qualidade sofrivel que se rodeava de generais muito melhores que ele proprio, no entanto, em momentos cruciais nao os ouvia... o exercito pontico apesar de enorme em numero de soldados era tecnologica e tacticamente inferior ao exercito romano e na verdade, sempre que os romanos avancaram com uma legiao ou duas para a regiao foi sistematicamente incapaz de lidar com a maquina de guerra romana. Mitridates apenas conseguiu figurar na historia porque os reinos orientais que o rodeavam (o medio oriente e os reinos a volta do mar Negro eram reinos orientais) eram liderados por reis ainda mais incapazes que Mitridates e porque Roma teve de lidar com os cimbros, teutoes e pouco depois a guerra civil.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 08:26 AM

Dividir o Senado Romano entre "esquerda" e "direita" ou "democraticos" e provavelmente um erro de palmatoria e no minimo uma interpretacao abusivas das posicoes politicas dos senadores. O senado estava basicamente dividido em duas grandes faccoes: os bonni (Homens Bons ou Homens de Bem) que eram a faccao ultraconservadora do senado que defendia a manutencao do status quo das antigas familias senatoriais e os populi ou populares representados essencialmente por Homens-Novos como Mario, homens sem antecedentes senatoriais, que eram plebeus e nao patricios que haviam feito imensas fortunas atraves de "negocios" (que estavam vedados a classe senatorial e eram vistos como desonrosos para um homem a subir no cursus honorum), estes queriam o seu quinhao de poder no senado e para tal normalmente contratavam tribunos da plebe para agitar as massas populares e fazer passar as leis que mais lhes convinham. No meio disto tudo havia pouquissimas preocupacoes com distribuicao de riqueza ou combate a pobreza ou deixar mercados funcionarem. Os Capite Censi nao queriam saber da politica do Forum que de qualquer das formas nao os afectava muito e so queriam saber se o preco do trigo seria mantido baixo ese haveria trigo suficiente no mercado, com estas duas premissas cumpridas eram olimpicamente dsprezados. Ate ao dia em que alguem se lembrou de os recrutar para o exercito...

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 08:41 AM

Highlander em março 29, 2005 07:48 AM
Relativamente aos piratas não confunda as suas bases, que estavam no Egeu, em Creta e na Cilícia, com o seu raio de acção, que era muito maior e que complicava todo o tráfego marítimo. Muitos notáveis romanos eram capturados e trocados por resgates ou mesmo mortos. Esse episódio da juventude de César é um deles. Aliás, quando Pompeu foi investido em 67 do comando na luta contra os piratas, esse comando ia desde as Colunas de Hércules (Gibraltar), até à Síria e à Cólquida (Crimeia). Portanto o raio de acção e as bases provisórias dos piratas estavam por todo o Mediterrâneo e Mar Negro.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 10:15 AM

Highlander em março 29, 2005 08:26 AM:
Mitridates não foi um fraco adversário de Roma, que travou com ele duas guerras difíceis. Mitrídates era o Rei do Ponto e não um general de raiz. Foi um político hábil pois soube-se rodear, como você diz, de bons generais (Arquelau, Neoptolemo, etc.) e acima de tudo praticou a política social que mais adeptos atrairia à sua causa e que mais dano causaria a Roma.
Quanto à debilidade militar das suas tropas face a Roma, não compare soldados alistados ao acaso, falando dezenas de línguas diferentes e com reduzido treino militar, com as legiões romanas.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 10:17 AM

Highlander em março 29, 2005 08:41 AM
Eu não dividi o Senado em esquerda e direita. Dividi as forças políticas romanas de então, mas pus «esquerda» entre aspas, justamente para assinalar as distâncias de conceitos. O Senado era o representante da aristocracia romana, mas o seu poder estava limitado pelos outros órgãos políticos, entre eles pelos comícios que elegiam os magistrados que governavam Roma. Daí a designação SPQR (Senatus Populusque Romanus), o Senado e o Povo de Roma, para o Estado Romano
Os Capite Censi, que constituíam a última centúria (nº 193), a dos proletários (apesar de constituírem, provavelmente, metade dos cidadãos), abaixo das 5 classes e fora delas, interessavam-se obviamente pela política da cidade. Todavia, como a votação nos comícios era por classes, como eu escrevi, a decisão já estava tomada quando chegava a vez deles de votarem. O seu voto era despiciendo. Era o defeito da democracia censitária romana que assinalei no texto.
Mas há várias maneiras de se fazerem ouvir, entre elas a agitação popular.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 10:19 AM

Quanto à questão dos “mercados funcionarem”, os romanos não tiveram aulas de economia, mas sabiam o que acontecia na prática.
A sua afirmação de que “No meio disto tudo havia pouquissimas preocupacoes com distribuicao de riqueza ou combate a pobreza ou deixar mercados funcionarem” ignora todas as lutas sociais que ensanguentaram Roma a seguir às guerras púnicas: as tentativas de reformas dos Gracos, as guerras sociais, etc.
Note que a minha intenção não foi fazer a história de Roma e das suas instituições, mas analisar a acção de César e os efeitos do seu assassinato, e enquadrá-los na situação social da época.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 10:20 AM

"ignora todas as lutas sociais que ensanguentaram Roma a seguir às guerras púnicas: as tentativas de reformas dos Gracos, as guerras sociais, etc."

Quais lutas sociais? As lutas no seio da sociedade romana no final da Republica foram sempre de cariz politico, de luta pelo poder dentro do Senado o sangue de que fala nao e certamente desprezivel mas no jogo politico de entao eram apenas massa populares usadas como armas de arremesso na luta politica. Os Capite Censi em Roma tinham apenas uma preocupacao antes da reforma militar de Mario que era o seu quinhao de trigo apos Mario tornaram-se soldados a soldo do General que lhes garantisse terras apos cumprirem o servico militar.
E e este o problema fundamental e a perdicao da Republica, um exercito que deixara de ser controlado pelo Estado e agora era controlado por generais caprichosos. E este o facto fundamental que permitiu a aparicao de homens como Sila, Pompeu, Crasso e Cesar que de outra forma teriam sido talvez Consules notaveis, talvez nao, mas sem duvida incapazes de abanar as fundacoes da Republica.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 12:44 PM

"Quanto à debilidade militar das suas tropas face a Roma, não compare soldados alistados ao acaso, falando dezenas de línguas diferentes e com reduzido treino militar, com as legiões romanas."

Mas minha cara, se militarmente ele era debil obviamente que era um adversario debil por muito habilidoso e brilhante que fosse politicamente (que apenas o era comparado com os seus vizinhos, porque comparado com os politicos Romanos...). Repito, a principal fonte do sucesso de Mitridates foi mais o demerito dos seus adversarios (incluindo Roma temporariamente) que o merito proprio.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 12:51 PM

Mitrídates era débil, mas foram necessárias diversas guerras para o liquidar. A que foi ganha por Sila; a que foi ganha por Murena, para obrigar Mitrídates a cumprir o tratado de paz; a que ficou "empatada", por Luculus; e a última, onde Pompeu liquidou definitivamente a questão ... isto num período de 24 anos entre o começo das hostilidades e a vitória de Pompeu

Publicado por: Joana às março 29, 2005 02:00 PM

Uma coisa são os líderes políticos usarem as reivindicações sociais como degrau para subirem ao poder, outra é ignorá-las. Toda a história da República é uma história de luta pelo aumento do poder político da plebe (com o fim de ter meios de luta para assegurar a satisfação das suas necessidades económicas), nos primeiros séculos, e pela resolução dos problemas sociais, a seguir ao início das conquistas em larga escala (por volta de 200AC). Você leia as propostas de reforma de Tibério e de Caio Graco; as razões da conjuração de Catilina, as medidas tomadas por César, no seu primeiro consulado, e depois, quando ditador da república.
Você tem uma visão demasiado ligada às lutas na superestrutura política, desconhecendo, ou considerando irrelevante, o que lhe está subjacente.
O facto de não existir então um corpo de doutrina económica, não quer dizer que as reinvidicações das diversas classes sociais e as medidas tomadas por alguns líderes, não se inserissem em ideias e conceitos explicáveis pela teoria económica actual

Publicado por: Joana às março 29, 2005 02:15 PM

"Você tem uma visão demasiado ligada às lutas na superestrutura política, desconhecendo, ou considerando irrelevante, o que lhe está subjacente.
O facto de não existir então um corpo de doutrina económica, não quer dizer que as reinvidicações das diversas classes sociais e as medidas tomadas por alguns líderes, não se inserissem em ideias e conceitos explicáveis pela teoria económica actual"

Eu sei que qualquer teoria, nao so a economica, se valida e aplicavel em todos os tempos, isso nao esta em disputa, o que eu discordo totalmente e com a nocao de que a queda da Republica se deveu a uma crise economica que levou a uma crise social, nada mais errado, a economia romana era nesta altura pujante, a provincia de Hispania estava a produzir cada vez mais e mais metais preciosos, a cada batalha ganha uma imensidao de escravos entravam para a economia, novos produtos agricolas eram adicionados ao rol de produtos com cada conquista... caramba, de tal forma era pujante que a Republica aguentou a guerra no Norte de Africa, depois os Cimbros e Teutoes, a guerra com Mitridates tendo a Guerra Civil pelo meio e ainda a pirataria sem ter entrado em bancarota. Nao havia crise economica e nas cidades romanas havia uma qualidade de vida incomparavel, abundancia de trigo, de agua potavel, banhos publicos, espectaculos publicos, como tal nao haviam fundamentos para uma crise, a crise foi criada pela instabilidade politica que constantemente agitava os medos das massas com informacao distorcida ou muitas vezes falseada. Mas mesmo essa crise seria ultrapassavel se a lealdade do exercito tivesse sido mantida, em ultima analise a crise foi militar, mas como na Antiguidade (e ainda hoje se bem que em menor grau) o exercito era um elemento essencial para qualquer actividade politica as sucessivas crises foram sempre de luta politica por poder.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 06:58 PM

"Você tem uma visão demasiado ligada às lutas na superestrutura política, desconhecendo, ou considerando irrelevante, o que lhe está subjacente.
O facto de não existir então um corpo de doutrina económica, não quer dizer que as reinvidicações das diversas classes sociais e as medidas tomadas por alguns líderes, não se inserissem em ideias e conceitos explicáveis pela teoria económica actual"

Eu sei que qualquer teoria, nao so a economica, se valida e aplicavel em todos os tempos, isso nao esta em disputa, o que eu discordo totalmente e com a nocao de que a queda da Republica se deveu a uma crise economica que levou a uma crise social, nada mais errado, a economia romana era nesta altura pujante, a provincia de Hispania estava a produzir cada vez mais e mais metais preciosos, a cada batalha ganha uma imensidao de escravos entravam para a economia, novos produtos agricolas eram adicionados ao rol de produtos com cada conquista... caramba, de tal forma era pujante que a Republica aguentou a guerra no Norte de Africa, depois os Cimbros e Teutoes, a guerra com Mitridates tendo a Guerra Civil pelo meio e ainda a pirataria sem ter entrado em bancarota. Nao havia crise economica e nas cidades romanas havia uma qualidade de vida incomparavel, abundancia de trigo, de agua potavel, banhos publicos, espectaculos publicos, como tal nao haviam fundamentos para uma crise, a crise foi criada pela instabilidade politica que constantemente agitava os medos das massas com informacao distorcida ou muitas vezes falseada. Mas mesmo essa crise seria ultrapassavel se a lealdade do exercito tivesse sido mantida, em ultima analise a crise foi militar, mas como na Antiguidade (e ainda hoje se bem que em menor grau) o exercito era um elemento essencial para qualquer actividade politica as sucessivas crises foram sempre de luta politica por poder.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 06:58 PM

"Você tem uma visão demasiado ligada às lutas na superestrutura política, desconhecendo, ou considerando irrelevante, o que lhe está subjacente.
O facto de não existir então um corpo de doutrina económica, não quer dizer que as reinvidicações das diversas classes sociais e as medidas tomadas por alguns líderes, não se inserissem em ideias e conceitos explicáveis pela teoria económica actual"

Eu sei que qualquer teoria, nao so a economica, se valida e aplicavel em todos os tempos, isso nao esta em disputa, o que eu discordo totalmente e com a nocao de que a queda da Republica se deveu a uma crise economica que levou a uma crise social, nada mais errado, a economia romana era nesta altura pujante, a provincia de Hispania estava a produzir cada vez mais e mais metais preciosos, a cada batalha ganha uma imensidao de escravos entravam para a economia, novos produtos agricolas eram adicionados ao rol de produtos com cada conquista... caramba, de tal forma era pujante que a Republica aguentou a guerra no Norte de Africa, depois os Cimbros e Teutoes, a guerra com Mitridates tendo a Guerra Civil pelo meio e ainda a pirataria sem ter entrado em bancarota. Nao havia crise economica e nas cidades romanas havia uma qualidade de vida incomparavel, abundancia de trigo, de agua potavel, banhos publicos, espectaculos publicos, como tal nao haviam fundamentos para uma crise, a crise foi criada pela instabilidade politica que constantemente agitava os medos das massas com informacao distorcida ou muitas vezes falseada. Mas mesmo essa crise seria ultrapassavel se a lealdade do exercito tivesse sido mantida, em ultima analise a crise foi militar, mas como na Antiguidade (e ainda hoje se bem que em menor grau) o exercito era um elemento essencial para qualquer actividade politica as sucessivas crises foram sempre de luta politica por poder.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 06:58 PM

Mais. A prova suprema de que a crise nao era economica e que apos a queda da Republica forma-se o Imperio, cuja principal diferenca em relacao a Republica e na forma como o exercito Romano e gerido!

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 07:05 PM

"Mitrídates era débil, mas foram necessárias diversas guerras para o liquidar. A que foi ganha por Sila; a que foi ganha por Murena, para obrigar Mitrídates a cumprir o tratado de paz; a que ficou "empatada", por Luculus; e a última, onde Pompeu liquidou definitivamente a questão ... isto num período de 24 anos entre o começo das hostilidades e a vitória de Pompeu"

Nada do que diz contradiz o que avancei. Sila so nao aniquilou Mitridates porque voltou a pressa para Italia para assegurar o seu futuro politico, Luculus quando a beira da vitoria foi chamado de volta por motivos de logica politica de curto-prazo (sendo um bonni nao recusou a ordem), e MARIO, sem qualquer exercito, apenas com a sua tunica purpura e a ameaca velada que ela representava conseguiu atemorizar Mitridates para este abandonar as pretensoes de por no trono de um reino oriental que neste preciso me escapa o nome alguem da sua confianca. 24 anos foi sem duvida demasiado tempo para um adversario tao debil, mas as guerras Punicas por exemplo demoraram um seculo (pelo que nao e tanto tempo assim) e a Italia estava a passar por um turbilhao politico.

Publicado por: Highlander às março 29, 2005 08:39 PM

Eu acho que você deveria, se tiver paciência, voltar a ler o que eu escrevi (os 6 textos!). Repare por exemplo na questão que coloco “Como explicar que o mundo romano, que manteve uma aparência de prosperidade financeira , embora com altos e baixos, desde unificação italiana, no apogeu da República, até Marco Aurélio, se arruinasse depois tão irremediavelmente?” e repare que a minha resposta a essa questão está em eu ter a opinião que havia uma contradição não resolvida entre as formas institucionais democráticas (embora censitárias) mas apenas adequadas ao governo da cidade e o governo de um império muito extenso.
Numa primeira fase, governando a partir das instituições republicanas da cidade, criou um regime de extorsão nas províncias, e perverteu a democracia na cidade, transformando-a numa caricatura. Numa segunda fase, criou um regime misto, com um princeps que imperava nas províncias (embora em teoria o senado fosse responsável pela nomeação dos procônsules para parte delas) e havia uma caricatura republicana intra-muros. A partir de Cómodo, tornou-se numa ditadura militar, onde o Imperador era o comandante do exército, que obtinha o Imperium através do donativum que distribuía aos soldados. Foi um século em que o Imperium esteve em leilão.
Finalmente houve uma tentativa, tardia, de uma estabilização, através de um regime monárquico, com Diocleciano e Constantino. Mas esse Estado nada tinha a ver com o Estado Romano dos tempos do último século da república e do primeiro século do Império. Quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista de vida urbano muito pouco o diferenciava da Alta Idade Média.
Aliás, se tiver tempo vou abordar o tema dos últimos tempos do Império, a sua degradação económica, a sua insustentabilidade fiscal, etc.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 11:18 PM

Quanto às vicissitudes económicas, os factos são reais e a interpretação é minha. Em estudos sobre aquele tema, poderá encontrar explicações um pouco diversas das minhas, mas não factos diferentes.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 11:25 PM

Este debate sobre a força de Mitrídates não me parece relevante. Mitrídates era rei de um pequeno Estado no nordeste da Anatólia e conseguiu estabelecer uma liga heterogenia aproveitando os restos do reino dos selêucidas e de outros potentados da área. Viveu da sua habilidade política. Cartago era a principal potência do Mediterrâneo quando começaram as guerras púnicas. Na 2ª guerra era uma grande potência, com um império territorial importante devido à conquista de parte da Hespanha e era comandada por um dos maiores cabos de guerra de todos os tempos. Cartago, como potência, acabou aí. A sua destruição, meio século depois, foi um massacre inútil.

Publicado por: Joana às março 29, 2005 11:31 PM

Como é possível uma velharia destas despertar tanto debate?

Publicado por: Ant Curzio às março 30, 2005 12:14 AM

Bem, eu também me meti no debate ...

Publicado por: Ant Curzio às março 30, 2005 12:17 AM

"Este debate sobre a força de Mitrídates não me parece relevante. Mitrídates era rei de um pequeno Estado no nordeste da Anatólia e conseguiu estabelecer uma liga heterogenia aproveitando os restos do reino dos selêucidas e de outros potentados da área."

E de facto irrelevante, mas afinal sempre acaba por admitir que era um fraco adversario (pelo caminho nao se esqueca de perdoar a minha pequena e mesquinha vaidade).

Publicado por: Highlander às março 30, 2005 10:33 AM

"Eu acho que você deveria, se tiver paciência, voltar a ler o que eu escrevi (os 6 textos!). Repare por exemplo na questão que coloco “Como explicar que o mundo romano, que manteve uma aparência de prosperidade financeira , embora com altos e baixos, desde unificação italiana, no apogeu da República, até Marco Aurélio, se arruinasse depois tão irremediavelmente?”"

De facto dei-me ao trabalho de ler, ja agora dividir isto em 6 "posts" e so para exasperar ja me bastam a porcaria dos livros que agora vem sempre em trilogias (pelo menos) agora ainda tenho de levar a mesma dose nos blogues...

E lamento imenso mas mais uma vez tenho uma discordancia de fundo, dizer que o imperio tinha "uma aparencia de prosperidade financeira" so pode ser um eufemismo. A Republica e mais tarde o Alto Imperio TINHAM objectivamente uma prosperidade financeira caramba, senao a civilizacao nao se teria aguentado por seculos a fio ao contrario das outras "ilhotas de capitalismo". Quando essa prosperidade acabou o Imperio entrou em decadencia e deixou de ser Alto.
No periodo do Baixo Imperio tera provavelmente razao na sua analise (de qualquer das formas nunca tive um especial interesse por me informar acerca desse periodo), o colapso do Imperio do Ocidente teve subjacente uma crise economica profunda nao discordo nesse ponto nem que tera sido agravada ou mesmo criada ate certo ponto por ma administracao. Mas sejamos razoaveis, falta de conhecimentos sobre economia foi sempre um problema ate pelo menos o meio do seculo XX, ate ai os exemplos de boa governacao economica tinham sido ditados por algum senso comum, mimica de bons exemplos, tentativa e erro e muito pouco metodo cientifico...
Pessoalmente creio que a decadencia do Imperio se deveu a uma falta de progresso tecnologico que ditou uma falta de produtos novos para comercializar para substituir os metais preciosos que entretanto acabaram, mas isto e apenas uma opiniao pessoal.

Publicado por: Highlander às março 30, 2005 11:35 AM

"Relativamente aos piratas não confunda as suas bases, que estavam no Egeu, em Creta e na Cilícia, com o seu raio de acção, que era muito maior e que complicava todo o tráfego marítimo"

Peco perdao mas so agora e que li este comentario. Com todo o respeito cara Joana mas deve estar a gozar, estamos a falar da Antiguidade nao do Sec. XVI, XVII ou XVIII. Digamos que a tecnologia naval e de preservacao de alimentos nao eram bem iguais... alem de que lhe pergunto onde e que voce julga que estava concentrada a relativamente pequena armada romana durante o auge da pirataria (comparada com a que foi colocada a disposicao de Pompeu e do que o precedeu Marco Antonio? Antonio? nao me lembro)

Publicado por: Highlander às março 30, 2005 11:55 AM

Quanto ao seu comentário de março 30, 2005 11:35 AM, mantenho o que escrevi. Temos que nos conformar por termos opiniões diversas. É a vida ...
Quanto aos piratas, não percebo a sua dúvida. Os piratas não precisavam de preservar os alimentos durante muito tempo. Bastava terem outros bens transaccionáveis: numerário, objectos diversos, etc. (que roubavam), para trocarem ao longo das costas do Mediterrâneo. Todo o norte de África (excepto a África proconsular) estava fora do controlo de Roma. Roma não conseguia assegurar o controlo permanente das costas da Hespanha e das Gálias. As ilhotas das costas da Ilíria também eram bons refúgios provisórios, etc.
Além disso assaltavam os barcos com transporte de cereais.
O poder dado a Pompeu, para destruir os piratas, além da área marítima que já referi, incluía todos os territórios costeiros até 10 milhas para o interior, o que mostra que a luta contra os piratas não seria apenas no mar. Pompeu dividiu toda aquela imensa extensão em 13 distritos militares, com um legado à frente de cada um, dotado de meios navais e humanos, e agindo de forma a que se os piratas pudessem escapar a uns, esbarrassem com os legados vizinhos.
A sua primeira tarefa foi exactamente limpar o Mediterrâneo ocidental (Sardenha, Sicília e África, para assegurar os transportes de cereais para Roma.
A segunda foi a expedição à Cilícia (a base principal dos piratas) e a Creta.

Publicado por: Joana às março 30, 2005 01:10 PM

Quanto a Mitrídates eu nunca poderia ter simpatia para com um sujeito que, quando teve que fugir da sua capital, mandou matar todas as mulheres do seu harém, para não caírem em poder de Luculo. É o sentido de propriedade da mulher levado ao extremo.

Publicado por: Joana às março 30, 2005 01:12 PM

Só outra coisa. Uma das vigarices que os “naviculari”, (os armadores ou comandantes dos barcos) que transportavam os cereais para Roma, faziam, às vezes, era ficarem com os cereais para eles, encherem os barcos de terra, afundarem-nos e receberem o dinheiro dos seguros.

Publicado por: Joana às março 30, 2005 01:13 PM

"Quanto a Mitrídates eu nunca poderia ter simpatia para com um sujeito que"

Essa da simpatia escapa-me...

Publicado por: Highlander às março 30, 2005 06:56 PM

A extensao de 10 milhas terra adentro tinha simplesmente como objectivo garantir que ele tinha autoridade para atacar as bases de apoio dos piratas.
Quanto ao raio de accao, enfim, chegaram a ameacar algumas rotas de cereais, nao chegou a haver uma escassez prolongada, mas o suficiente para aumentar o preco dos cereais. 1-1

Publicado por: Highlander às março 30, 2005 07:02 PM

Interessante todo este debate. Não sabia que estes temas despertavam tanta curiosidade

Publicado por: Rave às março 30, 2005 10:40 PM

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