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março 20, 2005

Os Bonzos do “Bem”

Ou a Audiência Portuguesa do Tribunal sobre o Iraque

O aspecto mais caricato do folclore pseudo-cívico e pseudo-participativo é o de desenvolver-se segundo uma liturgia pré-determinada, sempre igual, imolando aos mesmos ídolos, socorrendo-se da mesma fé messiânica, indiferente a factos ou a raciocínios. Como toda a religião revelada, é maniqueísta: Os bons são sempre bons, independentemente do “bem” ser representado por ditaduras sanguinárias, por assassinos terroristas ou por aqueles que subalternizam e escravizam as mulheres, desde que se invoquem do anti-capitalismo ou do anti-americanismo. Os maus são, em qualquer circunstância, os defensores da democracia e do mercado livre.

Independentemente das razões invocadas, e eu já aqui debati a questão diversas vezes, a intervenção no Iraque saldou-se pelo fim da ditadura sanguinária de Saddam, pela possibilidade dos iraquianos exercerem o direito de voto, e pelas mudanças positivas que começaram a ocorrer na região – o abandono pela Líbia do seu programa de ADM e abertura das suas fronteiras às inspecções, avanços da democracia na Palestina, Líbano e noutros países da área, o início da retirada síria do Líbano, etc.. Estas mudanças favoráveis têm uma particularidade: terem ocorrido, desde o início da intervenção, contra as previsões dos sacerdotes dos “bons”, e, na maioria dos casos, por pressão das massas árabes.

Em 22-01-04 Rosas postulava no Público que «as forças ocupantes anglo-americanas já não podem sair do Iraque como quereriam. Ou o abandonam expeditamente e a curto prazo, não garantindo o controlo político, militar e das matérias-primas da região, .... Ou prolongam e intensificam a sua presença militar para ver se agarram alguma coisa, e arriscam-se a sair de Bagdad como um dia saíram dos terraços da embaixada de Saigão: pendurados nos helicópteros». E não era a opinião apenas do bonzo Rosas, mas a opinião generalizada de todos os politicamente correctos, de todos os prosélitos do “bem”. Hoje a esquerda americana interroga-se angustiada sobre se afinal não seria Bush que teria razão.

As eleições realizaram-se após uma campanha de descrédito promovida pelos apóstolos do “bem” que controlam a comunicação social, o que é aliás uma consequência necessária da sua missão evangelizadora – só o “bem” deve ser servido às mentalidades frágeis dos gentios. Durante semanas foram transmitidas imagens dramáticas sobre o desastre que se perspectivava nas eleições iraquianas e da certeza do seu previsível fiasco. As opiniões reportadas pelos apóstolos do “bem” eram irrefutáveis. Infelizmente para o “bem” os factos contrariaram mais uma vez as suas ladainhas apostólicas. Os iraquianos, com enorme coragem, afluíram maciçamente às urnas, excepto nas zonas sunitas, onde se concentram os apoiantes do antigo ditador. Mas mesmo entre os sunitas surgem tentativas para que a sua participação futura na democracia iraquiana, não seja menorizada pelo seu boicote eleitoral.

Mas para os bonzos do “bem” os factos são apenas incidentes irrelevantes que não deixam rasto. E assim promoveram a realização este fim de semana (de 18 a 20 de Março) a “Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque” (AP-TMI). A Assembleia Nacional Iraquiana iniciou os trabalhos a 16 de Março – isso é irrelevante para os bonzos do “bem”, a quem a democracia apenas interessa porque lhes permite atacarem os governos democráticos. Os iraquianos discutem em liberdade o futuro do país e as estratégias das diversas forças políticas – os bonzos em êxtase anti-imperialista apenas se interessam na condenação do imperialismo por “ocupar o Iraque e se apropriar ilicitamente dos recursos naturais e dos fundos financeiros iraquianos, em seu benefício, e de subverterem as bases da estrutura produtiva do país” e na execução da sentença, cominada a priori, “da retirada das forças ocupantes e a devolução integral da soberania ao povo iraquiano, condição indispensável da pacificação e democratização do país”. As eleições permitiram a eleição de 86 mulheres entre os 275 deputados, que estão decididas a lutarem pela melhoria da sua condição, mas os bonzos passam displicentemente ao lado de factos irrelevantes para as suas crenças e pretendem com esta “Audiência” mobilizar todos os bonzos para “abreviar o sofrimento do povo iraquiano”.

Quando se “julga” o “mal”, não há lugar para o contraditório. O “mal” é para ser exorcizado, não para ser confrontado. Além do que, como os bonzos afirmaram, seria duvidoso que os “visados reconhecessem os benefícios cívicos deste tribunal". Estes rituais apenas são “julgamentos” pelo rótulo que os próprios bonzos lhes atribuíram. Não são mais que autos de exorcismo do “capitalismo e do imperialismo”.

A “Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque” não tem rigorosamente nada a ver com o povo iraquiano. Ignora olimpicamente o que lá se passa. Provavelmente até gostaria que os terroristas, a quem chama, delicadamente, militantes da resistência, causassem ainda mais sofrimento ao povo iraquiano. A AP-TMI tem apenas a ver com as crenças messiânicas dos bonzos que a integram. É um ritual litúrgico. É uma praxe catártica para drenar periodicamente os humores segregados pelos traumas da orfandade de Lenine e dos amanhãs que cantam.

É a expiação rancorosa em lausperene.

Publicado por Joana às março 20, 2005 06:34 PM

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Comentários

É um tribunal para julgar os américas criminosos e os seus lacaios

Publicado por: Cisco Kid às março 20, 2005 11:24 PM

Joana,
Não tarda muito tem por aqui os seus amigos, armados com mocas de Rio Maior, a esfolar vivos os bonzos! É o que dá, haver defensores da paz e da guerra.
Entretanto podemos dormir descansados porque o sr Deputy Secretary of Defense Paul Wolfowitz, vai deixar o Pentágono para se instalar no Banco Mundial. Agora é que os neoliberais devem estar felizes :
o cheiro a bota da tropa vai-se instalar em força na economia mundial; é o 2 em 1 para os amigos da administração americana.

Publicado por: zippiz às março 21, 2005 12:05 AM

A Joana é inteligente por isso aconselho-lhe a leitura do seguinte texto (que pode ser encontrado no endereço seguinte: http://riverbendblog.blogspot.com/ com o título "And Life Goes On..." de 12 de Fevereiro de 2005)

"Last week my cousin needed to visit the current Ministry of Higher Education. After the ministry building was burned and looted, the employees had to be transferred to a much, much smaller building in another part of the city. My cousin’s wife wanted to have her college degree legalized by the ministry and my cousin wasn’t sure about how to go about doing it. So I volunteered to go along with him because I had some questions of my own.

We headed for the building containing the ministry employees (but hardly ever containing the minister). It was small and cramped. Every 8 employees were stuck in the same room. The air was tense and heavy. We were greeted in the reception area by a bearded man who scanned us disapprovingly. “Da’awachi,” my cousin whispered under his breath, indicating the man was from the Da’awa Party. What could he do for us? Who did we want? We wanted to have some documents legalized by the ministry, I said loudly, trying to cover up my nervousness. He looked at me momentarily and then turned to the cousin pointedly. My cousin repeated why we were there and asked for directions. We were told to go to one of the rooms on the same floor and begin there.

“Please dress appropriately next time you come here.” The man said to me. I looked down at what I was wearing- black pants, a beige high-necked sweater and a knee-length black coat. Huh? I blushed furiously. He meant my head should be covered and I should be wearing a skirt. I don’t like being told what to wear and what not to wear by strange men. “I don’t work here- I don’t have to follow a dress code.” I answered coldly. The cousin didn’t like where the conversation was going, he angrily interceded, “We’re only here for an hour and it really isn’t your business.”

“It is my business.” Came the answer, “She should have some respect for the people who work here.” And the conversation ended. I looked around for the people I should be respecting. There were three or four women who were apparently ministry employees. Two of them were wearing long skirts, loose sweaters and headscarves and the third had gone all out and was wearing a complete “jubba” or robe-like garb topped with a black head scarf. My cousin and I turned to enter the room the receptionist had indicated and my eyes were stinging. No one could talk that way before the war and if they did, you didn’t have to listen. You could answer back. Now, you only answer back and make it an issue if you have some sort of death wish or just really, really like trouble.

Young females have the option of either just giving in to the pressure and dressing and acting ‘safely’- which means making everything longer and looser and preferably covering some of their head or constantly being defiant to what is becoming endemic in Iraq today. The problem with defiance is that it doesn’t just involve you personally, it involves anyone with you at that moment- usually a male relative. It means that there might be an exchange of ugly words or a fight and probably, after that, a detention in Abu Ghraib.

If it’s like this in Baghdad, I shudder to think what the other cities and provinces must be like. The Allawis and Pachichis of Iraq don’t sense it- their families are safely tucked away in Dubai and Amman, and the Hakeems and Jaffaris of Iraq promote it.

At the end of the day, it’s not about having a Sunni or Shia or Kurd or Arab in power. It’s about having someone who has Iraq’s best interests at heart- not America’s, not Iran’s, not Israel’s… It’s about needing someone who wants peace, prosperity, independence and above and beyond all, unity."

A autora deste texto é uma jovem iraquiana que certamente não concordaria com a visão cor-de-rosa da Joana quanto à situação das mulheres no Iraque pós-Sadam Hussein. Mas, é claro, a dita iraquiana deve ser filha de algum antigo alto funcionário de Sadam Hussein, e conhece a situação no Iraque muito pior do que a Joana...


Publicado por: Albatroz às março 21, 2005 12:15 AM

É fascinante ouvir o jornalistas falar em "Tribunal" como se semelhante criação tivesse alguma legitimidade. Que tal fazermos o Tribunal dos que venderam armas a Saddam?

Publicado por: lucklucky às março 21, 2005 12:18 AM

Visão côr de rosa!? Só espero que não apoies o Hezbollah no Líbano como Miguel Portas...

Claro era preferível os filhos de Saddam e não sabemos nós quantos mais altos funcionários do partido raptarem iraquianas...

Existem outros Blogs iraquianos, qual a opinião dominante?

Publicado por: lucklucky às março 21, 2005 12:26 AM

http://www.theaustralian.news.com.au/common/story_page/0,5744,12607859%5E2702,00.html

Bolas deviamos ter deixado Timor para os Indonésios..

Publicado por: lucklucky às março 21, 2005 12:29 AM

Albatroz às março 21, 2005 12:15 AM
O Albatroz é inteligente por isso aconselho-lhe a leitura do meu texto:
As eleições permitiram a eleição de 86 mulheres entre os 275 deputados, que estão decididas a lutarem pela melhoria da sua condição. Portanto:
1 - 86 mulheres em 275 não passa de um facto. É verdadeiro em si.
2 – Escrevi : que estão decididas a lutarem pela melhoria da sua condição e não que a sua vida actual fosse cor-de-rosa.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 09:39 AM

"os defensores da democracia e do mercado livre"

A Joana perdoe-me, mas em algumas partes do seu texto aflora um maniqueísmo quase tão mau como o dos promotores do "tribunal" sobre o Iraque.

É evidente que os EUA não são agora, nem nunca no passado foram, defensores da democracia e do mercado livre. São defensores de algumas democracias nalguns sítios - e de ditaduras noutros sítios, conforme a conveniência, em cada momento - e de algum mecado livre em certos items - mas de mercado regulado, ou até inexistente, noutros, sempre conforme a conveniência.

A título de exemplo, referi aqui mesmo, há poucos dias, o caso da venda do petróleo da Ásia Central (Turquemenistão e Azerbaidjão), que toda a gente sabe que seria feita, da forma mais prática e barata, através do Irão. Mas os EUA pretendem a todo o custo evitar isso. Constroem oleodutos compridos e complicados a traves de terras perigosas, para levar o petróleo para - o Paquistão, um país muito pouco recomendável sob diversos pontos de vista, e a Turquia, um país que também tem um "record" muito infeliz. Isto é o "mercado livre" na versão americana.

Joana, se quer exigir que os outros vejam o mundo sem distorções, veja-o você também dessa forma.

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 10:08 AM

Este assunto nem merece muitos comentários.

Estes "tribunais" mostram aquilo que há de pior na alma humana. Enojam-me profundamente.

Publicado por: Mário às março 21, 2005 10:18 AM

Para a generalidade dos americanos (e outros) a justiça de um empreendimento avalia-se pelo sucesso ou insucesso do mesmo...veja-se o caso do Vietname...só o repudiam porque o perderam...qualquer guerra que façam desde que vencedora torna-se justa até porque ao vencê-la (rápidamente)não dão ao inimigo a mínima hipótese de dar a conhecer à opinião pública mundial a sua versão da história...os vencedores incontestáveis recriam automáticamente a história do conflito...tão simples quanto isto...
O vencedor oculta os seus crimes e amplia os do vencido...

Já agora desafiava a Joana a publicar um artigo sobre a "Guerra dos Boxers"...claro que a Joana arranjará maneira de defender a posição da Inglaterra...

Publicado por: amsf às março 21, 2005 10:47 AM

"Para a generalidade dos americanos (e outros) a justiça de um empreendimento avalia-se pelo sucesso ou insucesso do mesmo..."

É verdade. E e diferente para outros povos? Se o iraque se estabilizar, daqui a uns anos 90% dos portugueses também serão favoráveis à intervenção, independentemente do que pensam agora.

É uma atitude ingénua, mas outra coisa não e de esperar das grandes massas. Mas muito pior é a atitude dos que se acham intelecuais, que para manterem a "coerência", nunca dão o braço a torcer, por mais evidências que existam.

Publicado por: Mário às março 21, 2005 11:19 AM

Excelente análise. Acutilante. Plenamente de acordo

Publicado por: Valente às março 21, 2005 11:33 AM


Publicado por: Mário às março 21, 2005 11:19 AM

Ingenuidade vejo eu dos 2 lados da "barricada"...gosto de pensar que posso conseguir fugir "à ingenuidade da massa" mas se acha que tal não é possível...que estamos condenados irremediavelmente a ver a história na perspectiva do vencedor então que vença o mais brutal pois ninguêm recordará a justeza da causa do vencido...alguêm a recordará mas serão tão poucos que poderão ser calados com um simples xavão...são índios...são escravos...são mulheres...são comunistas...são árabes. Com estas simples palavras fácilmente se apagam os argumentos das minorias...

Publicado por: amsf às março 21, 2005 12:02 PM

Não há dúvida que a intervenção no Iraque produziu mudanças positivas em toda a região, desde a Líbia até ao fim do Mundo...
Só faltou acrescentar á lista o aumento do preço do petróleo.
Que bom!...

Publicado por: Senaqueribe às março 21, 2005 12:21 PM

Publicado por: amsf às março 21, 2005 12:02 PM

Lados da "barricada"?

Claro que assim não vamos lá, nem mesmo com aspas. Passei a ter uma atitude visceral contra um certo tipo de atitudes, que colocam os princípios acima dos factos, que acham que as suas intenções justificam tudo, a mentira, o insulto. É assim que se formam barricadas.

Não estou interessado no que dirá a História, não estarei cá para ver. Preocupa-me bastante mais estes inquisidores modernos. Podem parecer brincadeiras o que eles fazem, mas quem conhecer mais de perto algumas das pessoas envolvidas percebe que se tivessem poder, não hesitariam em massacrar os seus adversários.

Publicado por: Mário às março 21, 2005 12:38 PM

Sou completamente contra a invasão militar de um país por outro, mesmo que em nome de uma retórica humanitária, já descontando a mentira das armas de destruição massiva.

Quantos milhares de inocentes mortos já custou a guerra do Iraque?

A diatadura da família Saud não é pior que era a do Iraque de Saddam?

A razão foi apenas o controlo geoestratégico das reservas de petróleo e o espectáculo-vingança da humilhação do 11 de Setembro.

Felizmente na vida as coisas não são exclusivamente boas ou más e portanto também haverá alguns efeitos benéficos da intervenção como uma maior participação democrática. Mas todos os dias rebentam bombas, todos os dias morre gente inocente, todos os dias prossegue o martírio.

Publicado por: pyrenaica às março 21, 2005 12:42 PM

Não é de forma nenhuma líquido que algumas evoluções positivas que se têm registado nos países árabes se devam à invasão do Iraque, ou em geral à postura agressiva dos EUA. No Líbano houve uma pressão internacional pacífica, semelhante à que se realizou nos casos da Geórgia e da Ucrânia. A Líbia já há muito que vinha sendo submetida a pressão, tanto diplomática como militar e comercial, e provavelmente evoluiu em função basicamente dessa pressão. Na Arábia Saudita e nos outros países do Golfo (Kuwait etc) há uma pressão endógena para a democracia, que está a dar frutos, mas que dificilmente se pode dizer que tem sido ajudada pelos EUA (os quais não têm, que eu saiba, feito qualquer pressão sobre a maior parte deles). A Palestina beneficiou com a morte de Arafat, a qual não foi causada pela invasão do Iraque...

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 12:43 PM

Gostava de saber quem financia este fantástico tribunal.
Estou-me a recordar do Movimento pela Paz promovido pelo Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves entre outros, financiado pelo KGB

Publicado por: Joao P às março 21, 2005 01:00 PM

Luís Lavoura às março 21, 2005 10:08 AM: Quando falei dos "os defensores da democracia e do mercado livre", quis significar que não é possível uma coisa sem a outra.
Isto não quer dizer que, por considerações de Real Politik ou outras circunstâncias, alguns países democráticos se relacionem com ditaduras ou as apoiem. Os EUA têm feito isso, principalmente durante a guerra fria, e a França especializou-se em apoiar as ditaduras mais corruptas que existem. E outros têm feito políticas idênticas, de vistas curtas, na defesa de alegadas vantagens comerciais.
Não concordo com isso. Nem aliás tem a ver com a matéria em questão no meu post.
O meu post é sobre a hipocrisia e o maniqueísmo dos bonzos a que me referi.
Acaso acha que aqueles rituais folclóricos fazem sentido?

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:37 PM

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 12:43 PM

Tire a influência dos EUA na região e veja se alguma coisa tinha a possibilidade de se alterar.

Por mais argumentos que se possam dar, toda a argumentação contra os EUA que se tem visto é pura xenofobia.

Publicado por: Mário às março 21, 2005 01:37 PM

amsf às março 21, 2005 10:47 AM:
Sobre a guerra dos Boxers não, mas estou a pensar fazer algo sobre os Idos de Março de César (mais alguns anos atr´s. Talvez nas férias da Páscoa.
Você anda há algum tempo a criticar factos alegando que a história está a ser escrita pelos vencedores.
Se é assim, então os americanos perderam a guerra do Iraque, pois a comunicação social continua a critic´-los acerbamente.
Se é assim, o muro de Berlim não caíu e o modelo estatizante continua florescente, pois a maioria da comunicação social continua a exaltar as suas virtudes, ou pelo menos a denegrir os outros.
Você não percebe que essa sua argumentação não tem qualquer sustentabilidade?

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:45 PM

Luís Lavoura às março 21, 2005 12:43 PM:
"A Palestina beneficiou com a morte de Arafat, a qual não foi causada pela invasão do Iraque"

Mas se não fosse o novo ambiente que se vive, o moderado Abbas não teria sido o eleito.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:47 PM

Senaqueribe às março 21, 2005 12:21 PM:
O aumento do preço do petróleo só muito parcialmente terá a ver com a instabilidade no Iraque. Aliás, nem sem se terá presentemente a ver com o Iraque. Resulta fundamentalmente do enorme aumento da procura motivado pela industrialização da China, Índia, etc.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:51 PM

pyrenaica às março 21, 2005 12:42 PM
"Mas todos os dias rebentam bombas, todos os dias morre gente inocente, todos os dias prossegue o martírio".
Mas quem as põe são aqueles que boicotaram as eleições, tentaram, pelo terror, que as pessoas não votassem e pretendem assenhorear-se do poder pela força.
Não se reconhecer isso é meter criminosos e vítimas no mesmo saco.
Há uma diferença. As vítimas, no tempo de Saddam, morriam discretamente, aos milhares, mas sem alarido, enquanto França e Rússia continuavam a comerciar e a apoiar (disfarçadamente) o ditador.
Agora morrem em horário nobre.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:58 PM

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:45 PM

"Você anda há algum tempo a criticar factos alegando que a história está a ser escrita pelos vencedores."

Reafirmo que a história é escrita pelos vencedores...no caso do Iraque não é por neste momento a comunicação social ser maioritáriamente contra a invasão do Iraque que a história deixará de ser escrita pelos vencedores...daqui a alguns anos a comunicação social terá um outro osso com que se entreter e este periódo histórico será documentada de acordo com a mentalidade e os interesses conscientes ou não dos vencedores...o que afirmo não tem nada de original...as coisas são assim mesmo...é preciso é que tenhamos consciência disso...

Exemplificando (não se assustem):

Imaginemos que a al-qaeda conseguia lançar o pânico no sistema financeiro internacional e provocava um Outubro de 1929 que levasse à decadência do Mundo Ocidental e (não sei como)à hegemonia da civilização Muçulmana. Acham que o 11 de Setembro seria retratado como um acto odioso?!
Só se fosse o de 1973, no Chile!

Publicado por: amsf às março 21, 2005 02:35 PM

Acaso acha que aqueles rituais folclóricos fazem sentido?

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:37 PM

Podem não fazer sentido tal como não faziam sentido os movimentos anti-esclavagistas, a luta das sufragistas,o movimento ecologista nos anos 60, o Solidariedade na Polónia de finais de 70, a resistência timorense nos anos 80 e 90 até que consigam ter sucesso...ai de minorias passam a maiorias e passam a fazer sentido e são os maiores!!!

Publicado por: amsf às março 21, 2005 03:20 PM

A Joana é inteligente mas deve estar a querer poupar tinta. O que ela escreveu foi:

"As eleições permitiram a eleição de 86 mulheres entre os 275 deputados, que estão decididas a lutarem pela melhoria da sua condição, mas os bonzos passam displicentemente ao lado de factos irrelevantes para as suas crenças e pretendem com esta “Audiência” mobilizar todos os bonzos para “abreviar o sofrimento do povo iraquiano”"

Ou seja, o tom da frase completa era de admiração por, num país árabe, haver 86 mulheres entre 275 deputados, e de crítica aos "bonzos" que não apreciavam o significado profundo desse facto. O que está implícito na frase completa é a crítica a todos os que se indignaram com a invasão ilegal do Iraque pelos americanos, invasão essa que até tinha permitido a eleição de 86 mulheres para o Parlamento. Não venha a Joana agora fazer-se de anjinha. O texto por mim citado mostra como há mulheres iraquianas que receiam vir a ser tratadas como mercadoria estragada, no regime que a invasão americana fomentou. Nós queixamo-nos da violação do direito internacional pelos americanos. Os iraquianos - neste caso, esta iraquiana - queixa-se da violação dos seus direitos cívicos e humanos, causada pela intervenção americana. Confesso que tendo a dar mais importância à opinião desta iraquiana do que às impressões da Joana, que não tem de viver de "burkha"...

Publicado por: Albatroz às março 21, 2005 03:31 PM

Que argumentação idiota, ingénua ou mal intencionada a que defende os cães danados que hoje matam inocentes no Iraque e que pertencem ao mesmo grupo que já os matava na época de Sadam, em quantidades desmesuradamente maiores.

Publicado por: JMTeles da Silva às março 21, 2005 03:50 PM

É um facto indubitável que a situação das mulheres no Iraque de Saddam era uma das melhores e mais avançadas nos países árabes, e até no mundo em geral. É indubitável que atualmente se assiste a uma regressão dos direitos das mulheres no Iraque.

Agora, se é verdade que 86 dos 275 deputados iraquianos são mulheres, isso é obra! Creio não haver muitos países ocidentais - Portugal não, certamente! - em que 30% dos deputados sejam mulheres.

Já agora. No tempo de Saddam também haveria, muito provavelmente, um parlamento iraquiano. Que percentagem dos seus deputados eram mulheres? Convem saber isso, para comparar.

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 04:05 PM

Começa a ser altura de desistir de ler comentários (também não acrescento nada de útil ao escrever para aqui) porque alguns raciocínios são de tal forma enviesados que não passam de exercícios de má fé e estupidez.

Publicado por: Mário às março 21, 2005 04:06 PM

Publicado por: Joana às março 21, 2005 01:58 PM
"As vítimas, no tempo de Saddam, morriam discretamente, aos milhares, mas sem alarido, enquanto França e Rússia continuavam a comerciar e a apoiar (disfarçadamente) o ditador."

As vítimas, no tempo de Saddam, morriam discretamente, aos milhares , mas sem alarido, enquanto os Estados Unidos e a Grã- Bretanha continuavam a comerciar e a apoiar (ostensivamente) o ditador seu amigo.
O Irão que o diga...

Publicado por: Senaqueribe às março 21, 2005 04:16 PM

Entre os "bons" e os "maus" não haverá meio termo? "Medíocres" talvez?

Publicado por: Orlando às março 21, 2005 04:38 PM

Eu não diria que as vítimas de Saddam, morriam discretamente, afinal alguns grupos "folclóridos" denunciavam a situação, simplesmente os interesses destes grupos "folclóridos" não coincidiam com os interesses ocidentais...se coincidissem logo apareceriam "lupas" e "megafones" para mostar ao mundo o quanto diabólico era o ditador de Bagdad.
Os interesses do "Ocidente" coincidiam com os interesses iraquianos pois tinham um inimigo comum...o Irão do Ayathola Khomeiny...aliás Saddam atacou o Kwaite convencido de possuir o apoio tácito desses mesmos cúmplices mas esqueceu que o fornecimento do petróleo não se brinca...

Publicado por: amsf às março 21, 2005 04:45 PM

Para quem não for iraquiano não é fácil perceber o que se passa no Iraque. Talvez mais este depoimento da minha iraquiana favorita ajude a perceber melhor o significado de uma invasão desnecessária:

"I’m a computer science graduate. Before the war, I was working in an Iraqi database/software company located in Baghdad as a programmer/network administrator (yes, yes… a geek). Every day, I would climb three flights of stairs, enter the little office I shared with one female colleague and two males, start up my PC and spend hours staring at little numbers and letters rolling across the screen. It was tedious, it was back-breaking, it was geeky and it was… wonderful.

When I needed a break, I’d go visit my favorite sites on the internet, bother my colleagues or rant about ‘impossible bosses’ and ‘improbable deadlines’.

I loved my job- I was *good* at my job. I came and went to work on my own. At 8 am I’d walk in lugging a backpack filled with enough CDs, floppies, notebooks, chewed-on pens, paperclips and screwdrivers to make Bill Gates proud. I made as much money as my two male colleagues and got an equal amount of respect from the manager (that was because he was clueless when it came to any type of programming and anyone who could do it was worthy of respect… a girl, no less- you get the picture).

What I’m trying to say is that no matter *what* anyone heard, females in Iraq were a lot better off than females in other parts of the Arab world (and some parts of the Western world- we had equal salaries!). We made up over 50% of the working force. We were doctors, lawyers, nurses, teachers, professors, deans, architects, programmers, and more. We came and went as we pleased. We wore what we wanted (within the boundaries of the social restrictions of a conservative society).

During the first week of June, I heard my company was back in business. It took several hours, seemingly thousands of family meetings, but I finally convinced everyone that it was necessary for my sanity to go back to work. They agreed that I would visit the company (with my two male bodyguards) and ask them if they had any work I could possibly take home and submit later on, or through the internet.

One fine day in mid-June, I packed my big bag of geeky wonders, put on my long skirt and shirt, tied back my hair and left the house with a mixture of anticipation and apprehension.

We had to park the car about 100 meters away from the door of the company because the major road in front of it was cracked and broken with the weight of the American tanks as they entered Baghdad. I half-ran, half-plodded up to the door of the company, my heart throbbing in anticipation of seeing friends, colleagues, secretaries… just generally something familiar again in the strange new nightmare we were living.

The moment I walked through the door, I noticed it. Everything looked shabbier somehow- sadder. The maroon carpet lining the hallways was dingy, scuffed and spoke of the burden of a thousand rushing feet. The windows we had so diligently taped prior to the war were cracked in some places and broken in others… dirty all over. The lights were shattered, desks overturned, doors kicked in, and clocks torn from the walls.

I stood a moment, hesitantly, in the door. There were strange new faces- fewer of the old ones. Everyone was standing around, looking at everyone else. The faces were sad and lethargic and exhausted. And I was one of the only females. I weaved through the strange mess and made my way upstairs, pausing for a moment on the second floor where management was located, to listen to the rising male voices. The director had died of a stroke during the second week of the war and suddenly, we had our own little ‘power vacuum’. At least 20 different men thought they were qualified to be boss. Some thought they qualified because of experience, some because of rank and some because they were being backed by differing political parties (SCIRI, Al-Daawa, INC).

I continued upstairs, chilled to the bone, in spite of the muggy heat of the building which hadn’t seen electricity for at least 2 months. My little room wasn’t much better off than the rest of the building. The desks were gone, papers all over the place… but A. was there! I couldn’t believe it- a familiar, welcoming face. He looked at me for a moment, without really seeing me, then his eyes opened wide and disbelief took over the initial vague expression. He congratulated me on being alive, asked about my family and told me that he wasn’t coming back after today. Things had changed. I should go home and stay safe. He was quitting- going to find work abroad. Nothing to do here anymore. I told him about my plan to work at home and submit projects… he shook his head sadly.

I stood staring at the mess for a few moments longer, trying to sort out the mess in my head, my heart being torn to pieces. My cousin and E. were downstairs waiting for me- there was nothing more to do, except ask how I could maybe help? A. and I left the room and started making our way downstairs. We paused on the second floor and stopped to talk to one of the former department directors. I asked him when they thought things would be functioning, he wouldn’t look at me. His eyes stayed glued to A.’s face as he told him that females weren’t welcome right now- especially females who ‘couldn’t be protected’. He finally turned to me and told me, in so many words, to go home because ‘they’ refused to be responsible for what might happen to me.

Ok. Fine. Your loss. I turned my back, walked down the stairs and went to find E. and my cousin. Suddenly, the faces didn’t look strange- they were the same faces of before, mostly, but there was a hostility I couldn’t believe. What was I doing here? E. and the cousin were looking grim, I must have been looking broken, because they rushed me out of the first place I had ever worked and to the car. I cried bitterly all the way home- cried for my job, cried for my future and cried for the torn streets, damaged buildings and crumbling people.

I’m one of the lucky ones… I’m not important. I’m not vital. Over a month ago, a prominent electrical engineer (one of the smartest females in the country) named Henna Aziz was assassinated in front of her family- two daughters and her husband. She was threatened by some fundamentalists from Badir’s Army and told to stay at home because she was a woman, she shouldn’t be in charge. She refused- the country needed her expertise to get things functioning- she was brilliant. She would not and could not stay at home. They came to her house one evening: men with machine-guns, broke in and opened fire. She lost her life- she wasn’t the first, she won’t be the last."

É tão fácil demonizar o que se não conhece, e racionalizar as enormes vantagens para os iraquianos da "libertação" americana. E ninguém quer saber se os iraquianos queriam ser "libertados", sobretudo desta maneira...

Publicado por: Albatroz às março 21, 2005 04:48 PM

amsf às março 21, 2005 04:45 PM:
Você está a viciar a história. Saddam só sofreu algumas denúncias dos tais "folclóricos" enquanto foi inimigo do Irão do Ayathola Khomeiny, pois este, por ser inimigo dos USA, tinha a admiração dos tais "folclóricos".
Atenção que não estou a falar da Amnistia Internacional, que é um organismo com alguma seriedade.

Publicado por: David às março 21, 2005 05:19 PM

Em 1988 passei algumas semanas em Genebra, na Suíça. Passenado pela cidade, vi uma vez umas folhas A4, fotocopiadas, coladas nas paredes. Tinham uma fotografia, a preto e branco (tudo muito rasca e artesanal), de mortos e um texto explicando que se tratava de curdos assassinados pelo gás químico de Saddam. As folhas estavam assinadas por um grupo iraniano, segundo julgo, ou talvez curdo, ou talvez ambas as coisas.

Eu olhei para aquilo com horror e descrédito.

À altura o assunto estava completamente banido dos media. Era tabu. Os curdos, ou iranianos, na Suíça serviam-se de folhas policopiadas coladas nas paredes para denunciarem aquilo que os poderes ocidentais, sempre bem acolitados pelos seus media, não queriam que se soubesse: que Saddam assassinava a sua população com gás químico.

À época, Saddam era um bom amigo dos poderes ocidentais.

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 05:53 PM

Neste blogue em cada duas linhas, uma carece de um desmentido formal, a outra carece de análise psiquiátrica,,,
os Bonzos(as) "pró-americanos e pró-capitalistas" da Paz andam há séculos a prégar o Bem logo no dia após o cometimento das Ilegalidades,,,
que se lhe há-de fazer?,, é assim que o Ocidente (usando o seu Estatuto Legal) tem feito "fortuna"

Publicado por: xatoo às março 21, 2005 07:30 PM

Albatroz às março 21, 2005 04:48 PM:
Você continua a não ler o que eu escrevi. Nunca defendi a intervenção americana no Iraque (mas também nunca a diabolizei), e se ler textos meus da época, e posteriores (ver na coluna da direita), observará isso. Aliás, tive o cuidado de assinalar isso no texto para não haver falsas interpretações. Infelizmente não foi suficiente.

O que eu escrevi resumi no último parágrafo: A “Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque” não tem rigorosamente nada a ver com o povo iraquiano. Ignora olimpicamente o que lá se passa. Provavelmente até gostaria que os terroristas, a quem chama, delicadamente, militantes da resistência, causassem ainda mais sofrimento ao povo iraquiano. A AP-TMI tem apenas a ver com as crenças messiânicas dos bonzos que a integram. É um ritual litúrgico. É uma praxe catártica para drenar periodicamente os humores segregados pelos traumas da orfandade de Lenine e dos amanhãs que cantam.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 07:36 PM

Luís Lavoura às março 21, 2005 05:53 PM:
Se você em vez de ler o que andava pelas paredes, consultasse a imprensa de então, veria a simpatia que o Irão tinha e as recriminações de que o Iraque era objecto.
Falo de Portugal, e não da Suiça, obviamente.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 07:40 PM

para os nossos amigos Pyrenaica,Albatroz e Zippiz e outor eventualmente interessados na verdade dos factos,,,
para o caso de não conhecerem, aqui vai um "diário de um Iraquiano em Bagdad" livre de manipulações:
http://secretsinbaghdad.blogspot.com/2005_03_01_secretsinbaghdad_archive.html#111062488729225389

Publicado por: xatoo às março 21, 2005 07:46 PM

Quando os bonzos escrevem “livre de manipulações” referem-se a opiniões que coincidem com as suas.
A existência de uma semiótica e de uma semântica próprias reforça o sentimento de clã, nos regimes democráticos, e a coesão social, nos regimes totalitários.
Todas essas “formações sociais” se baseiam em tipos de retórica específicos e obrigatórios.

Publicado por: Joana às março 21, 2005 07:58 PM

xatoo às março 21, 2005 07:46 PM:
Quem é que lhe assegura que o que está aí, está livre de manipulações?

Publicado por: fbmatos às março 21, 2005 08:57 PM

tem razão
fbmatos às março 21, 2005 08:57 PM
o Paul Wolfowitz legitimado pelo José Manuel Fernandes jamais emprestará um tusto a esses turras,,,

Publicado por: xatoo às março 21, 2005 11:00 PM

"É um facto indubitável que a situação das mulheres no Iraque de Saddam era uma das melhores e mais avançadas nos países árabes, e até no mundo em geral." Até no mundo em geral!? Isto só pode ser uma piada de mau gosto ... Os filhotes de Saddam e não sabemos mais quantos mais altos funcionários do Baath e da Mukhabarat entretiam-se a raptar Iraquianas...Ou quantas estão em valas comuns?

Publicado por: lucklucky às março 22, 2005 12:49 AM

Publicado por: Senaqueribe às março 21, 2005 04:16 PM

"As vítimas, no tempo de Saddam, morriam discretamente, aos milhares , mas sem alarido, enquanto os Estados Unidos e a Grã- Bretanha continuavam a comerciar e a apoiar (ostensivamente) o ditador seu amigo.
O Irão que o diga..."

OK , já que sabe tanto, diga-me quais foram os tanques, aviões ou armas que os EUA venderam ao Iraque? OS EUA vendem Mirage, Shukoi, Migs ? tanques T-72, transportes de tropas BMP, BTR-60?

As armas que os EUA venderam ao Iraque não chegou a 1% das importações de armamento do Regime de Saddam. Nem Saddam sobreviveria ao povo com a ninharia das exportações de armas dos EUA para o Iraque.

E os EUA foram o pais que primeiro teve legislação contra exportação de materiais de duplo uso contra o Iraque (em 1984), só depois veio a Europa atrás.

É certo que não deixariam o Iraque cair ás maõs dos Ayatollah, mas não se envolveram com Saddam como se envolveram por exemplo com Estaline . Com milhões de toneladas de matérias primas, equipamento de suporte(que salvou a URSS) e milhares de tanques e aviões.

Só o Brazil vendeu mais armas ao Iraque do que os EUA. Palavras chave = Cascavel, Astros, Urutu ...


Publicado por: lucklucky às março 22, 2005 01:06 AM

Antes da invasão o Iraque tinha uma ditadura moderna. Agora tem uma ditadura arcaica (mas com eleições, o que, suponho, desculpa tudo). Antes da invasão uma minoria de mulheres sofria às mãos dos filhos de Saddam e da polícia política; agora a TOTALIDADE das mulheres está reduzida a uma cidadania de segunda.
Antes da invasão teria sido possível à Joana trabalhar no Iraque e ser respeitada como profissional. Hoje teria que baixar os olhos e obedecer às ordens de qualquer barbudo semi-analfabeto.
No cômputo geral, e tendo em conta a deriva teocrática que também nos EUA vai fazendo o seu caminho, podemos supor que tudo está a correr pelo melhor no melhor dos mundos...

Publicado por: Zé Luiz às março 22, 2005 10:11 AM

Joana, não falei da "simpatia" dos jornais. Falei da sua obrigação de noticiar coisas que se sabiam, mas que não eram noticiadas.

E não é em Portugal, nos jornais portugueses, que interessava que essas coisas fossem noticiadas. Era nos jornais do mundo desenvolvido.

Se os curdos ou os iranianos punham esses papeis nas paredes de Genebra, era porque as notícias que esses papeis continham não estavam, infelizmente, nos jornais.

Publicado por: Luís Lavoura às março 22, 2005 10:11 AM

Nos países como o Iraque há regimes de ditadura militar, que são maus, ou teocracias, que são piores. Os regimes militares são corruptos e cruéis, prendem e torturam opositores, permitem a uma elite de poderosos o cometimento impune de crimes hediondos - mas permitem a existência duma classe média instruída e moderna que vive a sua vida e exerce as suas profissões sem ser incomodada. As teocracias começam logo por reduzir metade da população à condição mais indigna, e continuam a partir daqui.
Os EUA destruíram a ditadura militar iraquiana. Substituíram-no pela única coisa que o poderia substituír: uma teocracia. Mas com eleições, e mulheres no Parlamento; parece que isto para a Joana chega. Sugiro-lhe que vá para o Iraque «democrático» exercer a sua profissão no «mercado livre» que os americanos lá estabeleceram: não correrá o risco de ser torturada pela polícia política nem violada pelos filhos de Saddam.

Publicado por: Zé Luiz às março 22, 2005 10:43 AM

Zé Luiz: essa de "antes da invasão o Iraque tinha uma ditadura moderna. Agora tem uma ditadura arcaica (mas com eleições...)" é de morte.
Você devia emoldurar essa frase!
Eu não falei que a "democracia" iraquiana era perfeita. Nem percebo porque me atribui esse pensamento. Apenas disse que aquele ritual da "Audiência ..." era vazio, e que fingia ignorar a realidade iraquiana para construir um "mundo" que pudesse exorcizar.
Não é verdade que todos os profetas da desgraça se têm equivocado? Você acha que o profeta Rosas acertou em alguma coisa?
E se bem me lembro você comungava então de visões proféticas idênticas.

Publicado por: Joana às março 22, 2005 12:47 PM

Segundo escreveu a minha iraquiana favorita,

"What I’m trying to say is that no matter *what* anyone heard, females in Iraq were a lot better off than females in other parts of the Arab world (and some parts of the Western world- we had equal salaries!). We made up over 50% of the working force. We were doctors, lawyers, nurses, teachers, professors, deans, architects, programmers, and more. We came and went as we pleased. We wore what we wanted (within the boundaries of the social restrictions of a conservative society)".

Trata-se da opinião de uma iraquiana educada, com uma licenciatura em engenharia informática, e não a opinião de um qualquer "bonzo" citado pela Joana. É claro que se pode preferir acreditar nas impressões da Joana. Eu prefiro acreditar numa iraquiana, que sente na pele os benefícios da intervenção americana, e os mimos dos fundamentalistas xiitas.

Publicado por: Albatroz às março 22, 2005 04:57 PM

Sobre a "ditadura moderna" do Iraque de Saddam, li em diversas referências de fontes ligadas à ONU que no Iraque de Saddam, sob o boicote, havia um sistema de distribuição racionada de alimentos e bens essenciais que era, de longe, o mais eficiente jamais visto pelos funcionários do ONU. Estes afirmam que jamais teriam sido capazes de fazer melhor, ou sequer comparável, em matéria de repartir pela população os escassos bens disponíveis.

Publicado por: Luís Lavoura às março 22, 2005 06:06 PM

É espantosa a capacidade de olhar para o mundo e apenas ver aquilo que se deseja, apagando factos desagradáveis e ignorando acontecimentos incómodos.
A Srª Joana, como todos os fanáticos, domina esta arte de forma admirável. De acordo com ela, os EUA não apoiaram Saddam, inclusive na criação de um arsenal químico. E não era justamente a esquerda "folclórica" quem, há umas décadas e contra a indiferença generalizada, protestava contra os massacres a que os curdos eram sujeitos no Iraque...
De acordo com a senhora, tudo o que de bom possa vir a acontecer por aquelas paragens - até a "reconversão" da Líbia, processo mais que lançado antes da invasão - é fruto do ataque que matou mais de 100.000 civis iraquianos.
E essa de os eleitores palestinianos terem votado de acordo com o "air du temps made in USA" é mesmo de gritos.
Será que ela acredita mesmo nisto tudo?

Publicado por: Pensativa às março 22, 2005 06:44 PM

Haha a velha foto de Rumsfeld, salamaleques diplomáticos, interessante eu tenho uma foto de um CV-33 no Iraque isso será prova de que Mussolini vendeu armas ao Iraque?

Não, os EUA não apoiaram o Iraque no seu arsenal químico.
Houve sempre um arrastar de pés no Departamento de Comércio em relações a materiais de duplo-uso
que resistia aos avisos do Pentágono (estamos a falar do inicio-meio dos anos 80). Foi no ano da visita

Nenhum complexo quimico foi montada no Iraque pelos EUA foram quase uma dezena pela Alemanha Ocidental(RFA), 1-2 pela Bélgica, França, Inglaterra e Italia que montou a primeira pouco antes de 1980, e RDA. Ou por exemplo o Brazil colaborou com os Iraquianos na modificação dos SCUDs, 12 mísseis chegaram a ser enviados para o Brazil para testes.

Entre os EUA e o Iraque nunca houve um politica de próximidade ao nível de governo ao contrário da França e URSS, mesmo quando a relações diplomáticas foram restabelecidas nos anos 80. As relações com o Iraque sempre foram baseadas em questões estratégicas: contenção do Irão. Por isso quando Iraque esteve em risco de perder os EUA enviaram umas fotos de satelite da disposição de tropas Iranianas.

De qualquer modo existe uma problema intrínseco com a definição de duplo uso. Por exemplo o antrax é endémico no Iraque. Se um Centro de Investigação Iraquianos pede uma estirpe de Antrax
ao Instituto Pasteur de Paris ou a uma Universidade Americana estará a lutar contra a praga ou a preparar-se para desenvolver armas biológicas?

1-É extraordinário que as citações vêm do Blog mais céptico em relação á operação...

2-Luis Lavoura só podes estar a gozar...Havia dinheiro para desenvolver mísseis, construir palácios, corromper meio mundo com dinheiro do petróleo que devia ter ido para os Iraquianos e tu dizes que o sistema de racionamento era maravilhoso!!

Conclusão: Pode-se condenar várias instituições do governo dos EUA (Departamento de Comércio e partes do Departamento de Estado) por inicialamente não ligarem aos avisos do Pentágono soubre equipamento de uso duplo. Mas que dizer quando dezenas de países tiveram um comportamento de aliança activa Governo a Governo com Saddam, instalaram fábricas químicas e a cooperação e negócio foi muito mais estreito?
Quando mais de 20 Países estiveram á frente dos EUA na venda de armas ao regime de Saddam?
Já para não falar dos Comunistas da URSS que venderam armas aos dois lados (quem se lembra da guerra de cidades, quando os dois lados lançavam Scuds?) e ainda lucraram com a alta do Petróleo...

Quem critica os EUA usando o esse argumento têm um problema : Critica-se os EUA por cooperarem com Saddam no entanto quando os EUA mudam a sua politica, critica-se a falta de coerência dos EUA, brilhante racionalidade!!. Apoiaste Saddam deves continuar a apoiar!! É um nível de discurso infantil, primário.
Além do mais porque não é capaz de discernir que os EUA mudaram a sua politica porque o Iraque mudou a sua primeiro. Ataque a um aliado dos EUA na região começou a curva descendente.


Publicado por: Lucklucky às março 22, 2005 08:15 PM

Publicado por: Lucklucky às março 22, 2005 08:15 PM
A única irracionalidade está nas palavras que você põe na boca dos outros. Criticamos os EUA por terem ajudado o Saddam a matar iraquianos, e continuamos a crticar os EUA por serem agora eles quem faz o trabalho sujo (às centenas de milhares, «nota bene»). Você acha isto irracional?!
Andámos em manifestações contra o massacre dos curdos: chamaram-nos folclóricos. Agora andamos em manifestações contra a ocupação militar do Iraque: continuamos a ser folclóricos, com muita honra. Você acha isto incoerente?!
Não gostamos de assassinos em massa. Temos essa mania. Você acha-nos moralistas, não é? Você e a Joana é que são realistas e pragmáticos.
Previmos que Bush não ia instaurar democracia nenhuma no Iraque. Bush conseguiu organizar uma eleições. Tem a certeza de que falhámos a nossa previsão? Acha que umas eleições fazem a democracia?
Vamos a uma aposta. Vamos esperar que as tropas estrangeiras abandonem o Iraque. E vamos ver se:
- As primeiras eleições a seguir à retirada são limpas e participadas;
- Se uma parte razoável dos parlamentares representa verdadeiros partidos políticos e não partidos religiosos ou tribais;
- Se se sedimenta a liberdade de imprensa, de reunião, de associação, etc,
- Se na política, no acesso ao trabalho, nos direitos cívicos, na actividade económica, há ou não há descriminações baseadas no sexo, na religião ou na origem tribal.
Guarde este meu post. Se um dia todas estas condições se verificarem, poderá esfregar-mo na cara e dizer que o Bush instaurou a Democracia no Iraque. Até lá permita-me que continue a pensar que Bush derrubou um regime muito mau para instaurar um regime muito pior.

Publicado por: Zé Luiz às março 22, 2005 10:44 PM

É engraçada a tendência da direita para atacar o «bem». Argumentam sofisticada e inteligentemente, como a Joana, ou de um modo mais primário, como outros dos seus «compagnons de route» - mas a tandência é a mesma: a ética não deve ter nada a ver com as decisões políticas e muito menos com as económicas (que em todo o caso devem sempre prevalecer sobre as políticas).
Esta posição típica da direita é, como já várias vezes tive ocasião de afirmar, irracional: inverte a hierarquia entre os fins e os meios.
No entanto o bem comum é a única razão de existir da política.
Para a direita, o bem não existe, só existe a eficácia. Portanto a política não pode prevalecer sobre a técnica - e a Economia é uma técnica. Mas a eficácia, se não for em ordem a um objectivo eticamente determinado - isto é, em ordem a um «bem» - é uma abstracção vazia.
Esta é a contradição que o liberalismo nunca conseguiu nem conseguirá resolver.

Publicado por: ZéLuiz às março 24, 2005 11:54 PM

ZéLuiz às março 24, 2005 11:54 PM

Apoiado!

Publicado por: Albatroz às março 25, 2005 11:29 AM

ZéLuiz em março 24, 2005 11:54 PM:
Você não estará a atribuir características à direita, como se a direita fosse uma coisa única, para depois argumentar contra.
Assim é fácil. Atribuem-se ideias aos outros e depois desanca-se os outros.

Publicado por: Hector às março 26, 2005 07:44 PM

Nem é preciso mentir, bastam as meias verdades que têm mais efeito que as mentiras

Publicado por: Hector às março 26, 2005 07:45 PM

Hector:
Eu sei que direitas há muitas, inclusivamente direitas que se fundamentam em valores éticos. Não era a estas, evidentemente, que me referia - até porque o que resta destas direitas folclóricas tem de ser incluído, a par com a esquerda folclórica, naquilo a que a Joana chama «os bonzos do 'bem'».

Publicado por: Zé Luiz às março 27, 2005 03:16 PM

ZéLuiz em março 24, 2005 11:54 PM escreveu:
“Argumentam sofisticada e inteligentemente, como a Joana, ou de um modo mais primário, como outros dos seus «compagnons de route» - mas a tandência é a mesma: a ética não deve ter nada a ver com as decisões políticas e muito menos com as económicas (que em todo o caso devem sempre prevalecer sobre as políticas)”
1 – Obrigada por ter escrito que eu argumento “sofisticada e inteligentemente”
2 – Infelizmente, nunca escrevi isso. O que eu escrevi é que os agentes económicos tomam as suas decisões independentemente de questões éticas ou moralistas. Isto é um dado geral, e não se aplica, obviamente a todos. Por exemplo, eu posso ir a um hipermercado e só querer comprar produtos nacionais. Todavia sei que a generalidade, ou a quase totalidade das pessoas não o faz.
Isso não significa que o Estado não deva intervir, ou não deva ter em conta os valores éticos. Em primeiro lugar nas questões que não são reguláveis pelo mercado, como as ambientais. E estas não são reguláveis justamente porque não existe propriedade desses bens – rios, ar, oceanos, paisagens, etc. Neste caso terá que ser a sociedade (Estado ou grupos de Estados) a definir regras, proibições e inclusivamente a atribuir preços pela utilização desses bens comuns.
Em segundo lugar zelar que não haja crimes, roubos, que os contratos se apliquem, etc., o normal para que qualquer sociedade funcione.
Em terceiro lugar evitar a exclusão social e promover, através de transferências sociais, a possibilidade de todos terem acesso às condições de oportunidades iguais: ensino, saúde, justiça.
Todavia, na prossecução desse desiderato, o Estado tem que ter em conta que deve optimizar essa política em face dos incentivos com os agentes económicos, nomeadamente os empresários e quadros mais qualificados, devem ter no exercício da sua actividade. O Estado, ao exigir demais a esses agentes económicos, está a diminuir os incentivos ao desenvolvimento e, indirectamente, a degradar a longo prazo as transferências sociais, pois se não se produzir o suficiente, não há por one distribuir.

Publicado por: Joana às março 28, 2005 02:22 PM

Todavia, no caso português, nem sequer é a questão do Estado Providência que se coloca, mas a da sua total ineficiência. O nosso Estado só é providencial a sugar o dinheiro. A reembolsar a população em prestações sociais, já não é providencial.
É já a enésima vez que escrevo isso e você me contesta (não o que eu escrevi, mas o que você julga que escrevi). Asseguro-lhe todavia, que tenho sempre o máximo prazer em responder-lhe.

Publicado por: Joana às março 28, 2005 02:25 PM

Essa história do Tribunal para o Iraque foi uma completa palhaçada. Admira o Freitas não ter ido lá.

Publicado por: dirceu às abril 1, 2005 05:37 PM

Ze Luis

Você protesta o massacre dos curdos e ao mesmo tempo diz que os Iraquianos merecem Saddam?
Porque serão sectários religiosos ,tribais e sexuais?

Você diz que que a situação é pior...Importa-se de demonstrar?

As manifestações são um fim em si mesmo?
O que eu penso é que você protesta o que vê na TV,
Quando Saddam mata demasiado isso aparece nas notícias e estraga o seu jantar. Quando Saddam mata em silêncio isso não sucede. E você tem essa visão que não houve violência sectária, religiosa enquanto Saddam esteve no poder e a sua mão de ferro conseguia controlar todos.

-"centenas de milhar" : és capaz de explicar essas contas?

Sabemos que imagens de violência e maus tratos têm muito mais probabilidades de passar nas televisões se forem em conflitos onde estejam os EUA ou Israel
Há uns meses soldados franceses mataram em Africa mais de uma dezena de africanos, imagens existem e mas ninguém as passou ....

Não deixa de ser extraordinário que haja quem festeje o 25 de Abril, o fim de um regime autoritário, mas não o consiga fazer com o fim de um regime totalitário. O 25 de Abril não assegura o futuro tal como o fim de Saddam.

Publicado por: lucklucky às abril 2, 2005 10:20 AM

De acordo, totalmente, lucklucky.

Publicado por: Diana às abril 2, 2005 10:35 AM

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