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março 15, 2005

Neoliberalismo e Intelectuais

Como já tive aqui ocasião de observar, o nosso modelo do Estado Providência perverteu toda a sociedade muito para além da simples esfera económica e social. Por exemplo, a principal razão por não haver em Portugal nem Teatro nem Cinema dignos desse nome, é porque estes apenas vivem da dependência dos subsídios. Isso fez com que não tivessem necessidade de obter o favor e a adesão do público. Aliás, desprezam-no. Os agentes culturais portugueses só produzem para os amigos verem, só sabem viver na subsídio-dependência e temem qualquer êxito comercial, que os pode deixar, em definitivo, liquidados culturalmente junto dos seus pares.

Foi um processo rápido. Inicialmente, bastava-lhes obterem os subsídios. Agora, estes tornaram-se a própria razão da sua existência. Já não podem viver sem eles, pois que o público, ignaro e desprezível, os desconhece. A sua produção é em circuito fechado, pois o público é-lhes igualmente despiciendo. Assim, em vez de promover a cultura, o Estado Providência meteu-a num asilo, com a conivência dos asilados. Para definir o nosso regime, melhor que Estado Providência, seria a designação de Estado Asilo.

O liberalismo (ou como o alcunham, o neoliberalismo) encontra uma explicação simples para este divórcio. Os intelectuais (os agentes culturais) menosprezam a actividade empresarial porque esta oferece ao público o que este deseja, enquanto que eles pregam ao público o que ele deve e não deve desejar. “O empresário opera dentro de um sistema de preferências e de juízos de valor que o intelectual pretende sempre modificar”. Por isso não é estranho que o intelectual se sinta identificado com o défice financeiro da sua actividade e pretenda o subsídio estatal para a financiar.

Os intelectuais (os agentes culturais) têm assim um especial carinho pelas instituições deficitárias, pelas institutos ou entidades financiados pela Estado, pelos centros universitários que dependem de subsídios e dotações, pelos periódicos e revistas incapazes de auto-financiar-se. E isto porque sabem por experiência própria que sempre que produzem da forma como julgam que deve ser produzido, verificam que não há coincidência entre o seu esforço e o acolhimento que têm no mercado. Como os intelectuais (os agentes culturais) se auto-incumbiram da missão de evangelizar o público sobre o que é verdadeiro e certo e dado que esse mesmo público não se reconhece nessas verdades e certezas, encontram uma total e absoluta resistência ao escoamento do seu produto o que, pelo sistema de equações que modeliza este caso, levaria o preço de mercado a ser muito inferior ao seu custo marginal. Numa economia de mercado tal situação conduziria à falência imediata do produtor.

Há pois uma explicação microeconómica para este facto. Como deixou de haver relação entre o preço (que é tendencialmente nulo) e o custo marginal, no limite o Estado Providência avoca a si a procura daqueles bens, do ponto de vista da sua transacção, remetendo o seu usufruto para o público, um público reduzido, por este processo de distanciamento, aos amigos e colegas dos produtores intelectuais.

Há aqui uma violação clara das condições estruturais da concorrência, visto o Estado se comportar como um Monopsónio, que compra aqueles bens por critérios que nem ele sabe, visto o Estado ser incompetente em matéria económica e não saber, por via disso, fazer vingar o seu poder económico de monopsonista.

Ora esta situação resulta da existência do Estado Providência. Antes dele não existiam estas violações grosseiras das condições estruturais da concorrência. Rembrandt viveu das encomendas que lhe faziam. Trabalhava para o mercado. Voltaire, Delacroix, Victor Hugo, George Sand, Camilo Castelo Branco (e em Portugal!!), Charles Dickens, Verdi, Renoir (o pintor e o cineasta), Chaplin singraram em mercados concorrenciais. A riqueza acumulada por Chaplin poderia mesmo ter constituído um insulto público, se ele não se tivesse revestido com tintas de esquerda. Houve outros que tiveram mais dificuldade em controlarem custos e prazos, como Miguel Ângelo na Capela Sixtina, mas foram acidentes de percurso. Milhares de artistas produziram as obras maravilhosas que constituem hoje o nosso enlevo. E produziram-nas para o mercado com que estavam confrontados.

Veio o Estado Providência e a cultura preferiu o asilo, reformou-se ...

Publicado por Joana às março 15, 2005 09:56 PM

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Comentários

(...) um especial carinho pelas instituições deficitárias, pelas institutos ou entidades financiados pela Estado (...)

Estará rol citado, o hospital Amadora-Sintra ?

Publicado por: zippiz às março 15, 2005 10:44 PM

O seu é maldizente, mas infelizmente verdade.

Publicado por: Absnt às março 16, 2005 12:39 AM

Õ zippiz não estará a confundir os Hospitais Públicos com o Amadora Sintra?

Publicado por: fbmatos às março 16, 2005 12:40 AM

« (...)Os intelectuais (os agentes culturais) menosprezam a actividade empresarial porque esta oferece ao público o que este deseja (...) ».
.
Tenho a opinião "mitigada" que decorre das audiometrias das TV's :
- "Big Brother's", "Celebridades" ... pena-se para assistirmos a um "Concerto de Violinos de Chopin" ...

Publicado por: asdrubal às março 16, 2005 12:54 AM

De facto, venha o Diabo e escolha!

Publicado por: Sa Chico às março 16, 2005 01:18 AM

Se no teatro, no cinema ou noutras formas de expressão artística as produções estivessem apenas condicionadas pelo "favor e a adesão do público", teríamos aí o mesmo que temos na televisão: a total degradação e ausência de qualidade. Num país sem público suficiente para manter a actividade artística apenas pela receita de bilheteira, sem subsídios e sem mecenato não teríamos espectáculos.

Publicado por: Albatroz às março 16, 2005 01:45 AM

O filme português que mais espectadores teve o ano passado, teve lucro e não teve qualquer subsídio

Publicado por: Rave às março 16, 2005 01:53 AM

Como, segundo com Joana, os intelectuais (agentes culturais) portugueses têm uma produtividade baixa e falta de formação profissional, só há uma solução para as indústrias culturais assegurarem um cash-flow progressivo: recorrerem ao out sourcing, isto é, importarem as produções culturais dos Estados Unidos, que são as que apresentam o melhor preço FOB.

Publicado por: solução às março 16, 2005 05:09 AM

"O filme português que mais espectadores teve o ano passado, teve lucro e não teve qualquer subsídio"

E prestava para alguma coisa? Estava acima do nível das telenovelas?

Publicado por: Albatroz às março 16, 2005 08:48 AM

Será assim? No que respeita ao teatro, antes do 28 de Maio, tínhamos grandes actores, os teatros estavam cheios e não me consta que fossem subsidiados. O mesmo se deu com o princípio do cinema.
Mesmo com o salazarismo. Os filmes dos anos 30 e 40 ainda hoje se vêem com agrado.

Publicado por: Hector às março 16, 2005 09:50 AM

Prestava para alguma coisa? Qual é o seu critério para prestar?

Publicado por: Hector às março 16, 2005 09:52 AM

Não: Miguel Ângelo produziu para um mercado dominado pela Igreja, que nesse tempo fazia o papel de Estado.

Para a Joana, e para os liberais em geral, o poder do Estado é sempre mau; mas o poder de, por exemplo, a Igreja, os Médicis, ou o Banco Comercial Português, nada têm de criticável.

Os grandes artistas da Idade Média e do Renascimento foram amplamente subsidiados pelos poderosos da época. O condottiere Coleone era um poderoso. Os Médicis eram os senhores de Florença. Goya pintou para os reis e para os duques, e até para a duquesa de Alba. Rafael viveu à custa dos papas (que esmifravam o povo da forma que a gente sabe). Bach fez uma "oferta musical" a Frederico da Prússia. E assim por diante.

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 10:17 AM

Nos últimos anos têm sido construídos ou recontruídos vários teatros por todo o país num esforço financeiro louvável - principalmente porque estão fora das grandes cidades. Em muitos casos há um esforço por parte das companhias por conhecer, atrair e fidelizar públicos
(como exemplo: http://www.aescoladanoite.pt/paginas/070-PUBLICOS.html ).
Estas salas produzem espetáculos de qualidade e apresentam salas cheias, com uma receita de bilheteira significativa.

É estranho que nas salas de cinema Portuguesas 99% dos filmes tenham origem nos EUA. Torna-se mais estranho quando é notório que grande parte desses filmes não tem qualidade. A situação é de tal forma grave que em Portugal a expressão "filme estrangeiro" significa "filme não americano". Criar uma indústria cinematográfica nacional não me parece fácil, mas impôr quotas para que as salas de cinema passem 30% ou 40% de produção comunitária não era má ideia - em pouco tempo essa produção passaria a ter público no nosso país.

Publicado por: Daniel às março 16, 2005 10:18 AM

Há também que compreender um problema específico da cultura dos nossos dias, que é a extrema variedade da oferta, o que diminui a procura de produtos individuais.

Por exemplo, o cinema. Nos anos 40 e 50, saudosamente referidos pelo Hector, e que ainda hoje se vivem em países como a Índia, não havia oferta cultural nenhuma para além do cinema. Aos domingos toda a gente ia à matinée - não havia outro sítio onde ir, e as pessoas não tinham automóvel para ir passear, televisão não havia. O cinema era então um produto de grande sucesso.

Hoje em dia é difícil um filme ou teatro ter sucesso financeiro, dada a extrema variedade de escolha. Em vez de irem ver um filme específico, as pessoas podem ir ver qualquer outro, ou ir dar uma volta de carro, ou ficar em casa a ver o futebol pela TV.

Nestas condições, só filmes que apostem num mercado massificado e muito grande - no mercado europeu, no mercado americano - podem ter sucesso. E com muito, muito marketing!!!

Em Portugal nos anos 40 e 50 havia cinco milhões de potenciais clientes do cinema. Hoje em dia, para atingir tal número um filme precisa de ser feito para o mercado europeu.

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 10:26 AM

Parece-me que é preciso *muito* boa-vontade para afirmar que Rembrandt e Miguel Ângelo trabalhavam em mercado concorrencial pois, na maioria das encomendas:



1 - os clientes não respodiam perante os seus stakeholders (excepto nos raríssimos casos de sublevação, em que respondiam com a vida),

2 - não havia cadernos de encargos públicos das encomendas - logo, transparência na informação - nem auditoria de conformidade dos resultados.



Pelo contrário, parece-me que estes dois casos são bons exemplos de como o cliente "avoca a si o consumo daqueles bens, do ponto de vista da sua transacção, remetendo o seu usufruto para o público, um público reduzido, por este processo de distanciamento, aos amigos e colegas dos produtores intelectuais (e dos clientes)."


texto entre parêntesis acrescentado por mim.



Actualmente, o Estado é o cliente por excelência das produções culturais subsidiadas. O que é preciso é saber se os stakeholders - os eleitores contribuintes - estão satisfeitos com essa aplicação de fundos. Eu não estou, mas receio estar em minoria, até porque os montantes são uma gota de água no oceano do défice orçamental... e ninguém quer levantar uma tempestade num copo de água.



A propósito deste tema, lembro-me da argumentação de Sir Humphrey Appleby no Yes, Prime Minister. Citando de memória:

- A Royal Opera House é como a Igreja de Inglaterra: ninguém lá vai, mas é importante saber que ela está lá!

Publicado por: João GM às março 16, 2005 10:29 AM

A Joana dê aí um passeiozinho pela Europa e delicie-se com as belas obras arquitetónicas. Versalhes... o Escorial... o Zwinger... a catedral de Colónia... a igreja de São Basílio... e pergunte-se se essas obras todas tão bonitas, com as quais você se delicia, foram construídas pelo "mercado". Ou se, pelo contrário, foram compradas por atacado, num regime não concorrencial, pelos poderosos da época - os quais viviam em privilégio e roubo, esmifrando sem piedade o povo com impostos e corveias e dízimas.

Houve, sem dúvida, no passado, artistas que viveram do mercado. Os pintores holandeses ou de outras cidades burguesas, por exemplo. (Infelizmente, deve dizer-se que muitos deles morreram na mais abjeta miséria, sendo o seu talento apenas hoje reconhecido.) Mas o facto é que grande parte, a imensa maioria, da arte do passado viveu à custa dos poderosos e dos ricos, e não à custa de um público de massas nem do gosto artístico do povo em geral.

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 10:38 AM

E os tipos que na América recebem 10 milhões de euros para fazer um filme? São pagos por Mecenas?
A indústria americana de cinema, a mais florescente, é subsidiada?
E a inglesa?

Publicado por: David às março 16, 2005 10:39 AM

Pondo o problema de outra maneira, vocês acham que a política de subsídios ao cinema e ao teatro levou à sua melhoria?
A que atribuem a decadência absoluta do nosso cinema? e do nosso teatro?
Ãlgumas das razões que a Joana aponta não serão válidas?

Publicado por: David às março 16, 2005 10:47 AM

O cinema independente americano é subsidiado, só os grandes estúdios é que têm orçamentos milionários.

Publicado por: Daniel às março 16, 2005 10:49 AM

Já agora, li numa obra de Rui Zink que o único escritor da segunda metade do século 20 português que viveu 100% daquilo que escrevia e vendia, foi... José Vilhena (o autor de obras eróticas, burlescas e satíricas, editor da "Gaiola Aberta" e outras revistas e livros que tais).

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 11:26 AM

Seja como for, estamos condenados à mediocridade.

Não temos dimensão suficiente para criar um mercado livre que consiga disponibilizar um vasto rol de escolhas. O nosso mercado apenas conseguirá produzir pouco e mau.

Por outro lado, o actual sistema de dependência dos subsidios funciona quase como uma espécie de departamento de propaganda. Os resultados são absolutamente miseráveis.

Ambas as "soluções" são más, mas a primeira é mais barata para os contribuintes.

Publicado por: Mário às março 16, 2005 11:31 AM

Exatamente, Mário: trata-se de um problema de dimensão do mercado.

Creio ser improfícuo pôr a questão em termos de pretender ter um cinema português viável em termos de mercado. Nunca teremos, porque o público português é muito pouco e tem muitas opções na vida para além de ir ver um determinado filme português.

Profícuo é, por exemplo, associar o subsídio recebido por um cineasta ao seu sucesso de bilheteira, exigir que um filme tenha um mecenas privado para além do subsídio estatal, ou outras estratégias que assegurem que, de alguma forma, o filme se dirige a um público minimamente substancial.

Note-se, aliás, que nenhum país europeu tem hoje uma indústria cinematográfica não subsidiada. Dada a dispersão do público potencial por muitas outras atividades, a quantidade de público para um determinado filme individual é sempre demasiado pequena para justificar a sua produção.

As indústrias cinematográficas viáveis em termos de mercado, hoje em dia, são apenas duas: a indiana - uma vez que os indianos pouca mais distração têm do que ir ao cinema ao fim-de-semana, e de qualquer forma são 1.000 milhões - e a americana, que explora uma mercado mundial.

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 12:33 PM

vá lá,,vá lá,,, que a Joana clicando no "rewind" até Hayek já reconheceu que o Liberalismo é agora, por força da evolução estrutural do Capitalismo, qualquer coisa diferente a que "deram" o nome de Neoliberalismo.
Não tardarão muitas décadas e a Joana irá reconhecer a fase de "Neoliberalismo Armado" agora em curso,,,

um ligeiro lapso,,coisa de fracos subsidios, e da correspondente fraca prestação,,dos "intelectuais",,,

Publicado por: xatoo às março 16, 2005 12:57 PM

xatoo em março 16, 2005 12:57 PM
S´os espíritos totalitários abominam a evolução e a actualização de conceitos e de opiniões. O liberalismo económico tem evoluído e adaptado-se às novas realidades.
Coisas que não acontece com outros.
Por exemplo, consigo que repete sempre a mesma cassete, já gasta por décadas de uso inadequado e erróneo.
Quanto à alcunha de neoliberalismo foi aposta por outros

Publicado por: Joana às março 16, 2005 01:04 PM

Se repararem, nos países europeus, quanto maior é a intervenção estatal para salvar o cinema, maior é a decadência deste.
O país europeu cuja indústria cinematográfica é mais florescente (o UK), não me parece que o tenha conseguido com subsídios.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 01:09 PM

Nos EUA a indústria cinematográfica funciona em mercado livre. Formam-se carteis, como é normal nas grandes indústrias, mas há forma de os combater.
Leiam por exemplo a forma como Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D W Grifith criaram a United Artists para combaterem o Cartel das grandes produtoras e distribuidoras e conseguiram destruir essa máquina.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 01:14 PM

Há poucos dias vi um filme chinês...

E para mim parecia claro que dentro de poucos anos podemos esquecer os filmes europeus e os americanos. Estamos a falarm de cadáveres, nada mais.

Publicado por: Mário às março 16, 2005 01:39 PM

Enfim, a cultura, não é só o teatro e o cinema. Na minha terra, que é muito pequena e não prima por pujantes actividades culturais, esteve o Ballet de Moscovo. Para meu espanto, a Casa de Espetáculos esteve à cunha em todas e cada uma das actuações da Companhia. Não me lembro de alguma vez ter visto por cá o Ballet Gulbenkian ... a Orquestra Metropolitana de Lisboa ... a Escola Portuguesa de Arte Equestre ... uma estadia da reconstruída D. Fernando e Glória ...

Publicado por: asdrubal às março 16, 2005 01:48 PM

Na primeira página da United Artists vêm esta frase:
"United Artists, an MGM company".

Há um quartel que domina o mercado, há um oligopólio e não um mercado livre. Se surge uma nova editora e tem sucesso aparece uma editora maior para a comprar. Basta ir a um cinema para nos apercebermos que são sempre as mesmas produtoras.

Se ao cinema fora do mainstreanm americano não permitido chegar às salas de cinema (ou sequer às televisões!), como é que o mercado é livre? Um quartel não é compatível com o mercado livre. Há uma falha de mercado em que é necessário intervir.

Publicado por: Daniel às março 16, 2005 02:12 PM

Publicado por: Daniel às março 16, 2005 02:12 PM

Esse mercado livre existe nos EUA, onde o cinema independente é florescente.

Publicado por: Mário às março 16, 2005 02:20 PM

Joana, o UK não é exemplo. No UK fala-se inglês, eles dispõem de todo o mercado americano. Podem, com um bom marketing, vender os filmes deles à América e, em menor escala, a outros países de língua inglesa. Para além de que em todos os países há bons tradutores de inglês, capazes de traduzir os filmes deles.

Portugal não pode vender os seus filmes a ninguém. (No Brasil o português não é entendido pela maioria da população.) Portugal só tem o mercado português.

Há também o problema das distribuidoras. As grandes distribuidoras são americanas e trabalham com filmes em inglês. E dispõem de um mercado de 300 milhões de pessoas "to start with".

A Joana devia alargar os seus horizontes. Em vez de só estudar os casos da Inglaterra e dos EUA, deveria estudar os casos da Itália, da Suíça, da Suécia, da Alemanha, da Polónia... Eu sei que é difícil aprender línguas, mas...

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 02:27 PM

Luís Lavoura em março 16, 2005 02:27 PM:
Está equivocado. Falo razoavelmente bem o italiano e o alemão. Nunca consegui perceber o alemão falado pelos suiços, mas segundo parece, nem os alemães percebem.
Todavia não falo polaco, nem sueco (embora já estivesse na Suécia).
Aqui há dois anos estive na Rússia, em visita profissional, com dois alemães, e quando andávamos a passear por Sampetersburg, tornei-me na cicerone. Como conheço o cirílico e há muitas palavras semelhantes, derivadas do francês ou alemão, e outras que eu sabia, era eu que decifrava o nome das ruas, as inscrições nos monumentos, os nomes das paragens do metro ... os alemães estavam abismados! Nunca nos perdemos. Soletrava a inscrição na base de um monumento na Kazanskaya e dizia: este tipo é o Kutusov ... Kutusov foi aquele general que ... ia eu explicando ... e os alemães que nem a história alemã sabiam (apenas sabiam de transacções bancárias ... e bem), olhavam-me com o ar de quem olha um alienígena.
Cometi apenas uma gaffe: não queria acreditar que aquele barquito pequenino atracado no cais Sampsonievsky fosse mesmo o Aurora! Então aquele cruzador gigantesco, do Outubro do Eisenstein, era afinal ... aquilo? Não teria encolhido com a crise??

Há todavia uma língua onde, exceptuando a palavra "Hotel", qualquer palavra que se aprenda esquece-se no minuto seguinte: é o finlandês.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 03:01 PM

"O liberalismo económico tem evoluído e adaptado-se às novas realidades" dito por: Joana às março 16, 2005 01:04 PM,,, até parece que o Neoliberalismo não é um sistema Totalitário (ao subordinar todos os aspectos Económico e Social aos mandatários da vontade supra-terrena das Empresas-todas-Poderosas, que claro está por "milagre" têm de ser quasi todas origem made-in-USA)- e isto tb serve para o "debate" em curso sobre a nossa colonização no Audiovisual,,
Juro por minha honra que a primeira vez que escrevi "Neoliberalismo Armado" foi hoje aqui,, pelo que a Joana ao arrogar-se apontar-me o uso da "kassete" mais não fez do tocar a "contra-kasséte"
e já agora,,,
sobre o tema, "franconizem-se",,veja-se como faz este "tuga": -))Paulo Branco foi o mais activo produtor "francês" em 2004"
http://jornal.publico.pt/noticias.asp?a=2005&m=03&d=16&id=11326&sid=1230

Publicado por: xatoo às março 16, 2005 03:04 PM

Joana, sim, o alemão falado pelos suíços é incompreensível para a maioria dos alemães, com a exceção dos do Baden-Wuertemberg, o estado alemão que fica logo a norte da Suíça.

Cirílico, é elementar. Aprende-se nas calmas. Basta estudar um mapa que tenha os nomes das cidades na versão original e na traduzida.

O húngaro também é totalmente incompreensível. E o basco, já agora.

Mas o que está em questão não é isso. A questão é usar essas línguas para perceber os problemas e para as doutrinas desses países. A Inglaterra e os EUA são dois países antropologicamente idênticos. As pessoas têm mentalidades e costumes semelhantes ou iguais. Economicamente também são muito semelhantes. Repare, por exemplo, que são ambos países com grandes e persistentes deficits externos (os EUA bastante mais do que a Inglaterra), ao contrário daquilo que acontece com outros países europeus, que têm em geral superavits ou equilíbrio.

Por exemplo, que tal estudar o panorama das artes na Holanda? Alguma vez viu cinema holandês? Faz-se cinema na Holanda? Subsidiado? Ou não? E na Hungria? E na Suécia?

Digo isto porque esses países têm dimensões linguísticas semelhantes à portuguesa. Têm um problema linguístico semelhante ao português. Importa pois estudar os casos deles, em vez de vir dizer que a Inglaterra (e a Irlanda, já agora) é que são exemplos para tudo.

Já agora: eu concordo consigo em que o cinema português precisa de ser muito mais "market-oriented". Só não concordo é quando você sugere que a eliminação de todos os subsídios é uma boa ideia.

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 03:15 PM

Aprendi mais uma coisa hoje. Que o cirílico é de carregar pela boca! Eu que falo e escrevo Russo não tinha essa noção, tem piada...

Publicado por: JMTeles da Silva às março 16, 2005 03:38 PM

Há uma ilusão de base nisto tudo.

Parte-se do princípio que é possível fazer uma espécie de Holliwood mas com coisas boas, profundas, que elevem o espírito. A grande arte será sempre algo minoritário, talvez só reconhecida décadas ou séculos mais tarde. Para quê invejar Holliwood? Holliwood é uma vergonha, uma fábrica de mentiras.

Qual é o objectivo de conceder subsídios? Ensinar o povo? Isso não é propaganda? Enquanto se subsidiam La Férias e actores que nem sabem respitrar ou se movimentar em palco, não era mais proficuo ter uma verdadeira política de conservação do património? O dinheiro não chega para tudo, e enquanto se alimentam as carteiras de uns quantos medíocres (e por vezes abafando assim alguns mais capazes), boa parte do nosso património permanece à beira da ruína.

Publicado por: Mário às março 16, 2005 04:49 PM

Os "Artistas" afastaram-se das "crenças" sociedade e das pessoas, intelectualizaram-se e politizaram-se como nunca. È um circulo vicioso.

Interessante como a música não sofre do mesmo.

Publicado por: lucklucky às março 16, 2005 04:59 PM

Gosto muito de dança. Se não fosse o mecenato da Gulbenkian ou o súbsídio do estado que mantém a CNB, não teria a oportunidade de ver dança em Portugal. As companhias ditas independentes, como a da Olga Roriz e a do Carlos Wellenkamp, quase não actuam e também são subsidiadas. Se reinasse a lógica neoliberal teríamos de nos contentar com os ranchos folclóricos...
Quando é que se aprende, entre nós, a não fazer generalizações desmioladas? Se há campo de actividade onde o "mercado" gera a banalidade, e a qualidade quase que só pode subsistir por via do mecenato e do subsídio, é o campo das artes. Agora, pode e deve-se discutir se os subsídios são concedidos a quem os merece... Mas isso já é outra coisa...

Publicado por: Albatroz às março 16, 2005 05:14 PM

Publicado por: Albatroz às março 16, 2005 05:14 PM

Qual é o seu critério para subsidiar a dança e não outras artes? Há algum critério objectivo que me diga que é mais proveitoso apoiar a dança do que os grafittis, por exemplo?

Quem decide isso? Como escolher quem subsidiar? Porquê? Porque razão não me subsidiam a mim que faço várias artes?

Publicado por: Mário às março 16, 2005 05:26 PM

Mário,

no passado, essas decisões eram tomadas por imperadores, condottieri, papas, senhores da guerra, bispos, ou outros quejandos.

Hoje em dia, trata-se de decisões políticas e/ou técnicas, tomadas por políticos eleitos e/ou por comités de especialistas em arte, e escrutináveis e discutíveis por todos.

Há-de concordar que já se progrediu bastante...

Por exemplo, sugiro que envie uma carta ao Metropolitano de Lisboa perguntando-lhes com que critérios eles escolhem os artistas que lhes decoram as estações. Sugira-lhes que os clientes do metro deviam ter voto na matéria...

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 05:37 PM

Pode também perguntar ao BCP com que critérios é que escolhe os artistas que fazem esculturas para o átrio da sua sede, e sugerir que os clientes do banco deveriam ter uma palavra a dizer sobre a matéria.

Pode também perguntar à EDP porque é que subsidia a mini-maratona de Lisboa em vez de subsidiar os atletas paralímpicos, e sugerir-lhes que cada cliente da EDP deveria ter o direito de dar ou não dar uma contribuição para cada uma dessas atividades.

Pode perguntar ao Banco Barclays porque é que subsidia um festival de música no Convento de Mafra, e se não acham que estão a distorcer o mercado com esse subsídio.

Eu, por exemplo, que gosto de música clássica indiana, preferia que eles pagassem ao L. Subramaniam para vir cá dar um concerto. E, como sou cliente do Barclays, deveria ter o direito de sugerir isso. Acha que deva?

Publicado por: Luís Lavoura às março 16, 2005 05:46 PM

Em Portugal não há, e duvido que alguma vez houvesse, políticos liberais. No actual governo, que se diz ter três ou quatro liberais, só um veio da iniciativa privada.

Um abraço,
Francisco Nunes

Publicado por: Planície Heróica às março 16, 2005 05:59 PM

Daniel às março 16, 2005 02:12 PM:
Chaplin e os outros venderam posteriormente a United Artists. De memória não sei.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 07:20 PM

Luís Lavoura às março 16, 2005 05:46 PM:
Julgo que está a fazer confusão. Quem comprou as gravuras e as decorações foram as empresas, BCP, Metro, etc.. Quando o fazem ocorrem num custo de que esperam vir a tirar algum proveito: publicidade, um ambiente mais agradável, etc.. Compram essas obras, mas escolhem-nas certamente, ou aprovam o seu design, no caso de ainda não estarem feitas. Como são entidades com fins lucrativos, parte-se do princípio que ao pagarem essas obras, não estão a deitar dinheiro à rua. E se deitarem ... é deles.

O mesmo acontece com o facto do Banco Barclays subsidiar um festival de música no Convento de Mafra. Acha que é um evento importante e com prestígio (até eu já lá fui várias vezes) e ao subsidiar está a publicitar a sua imagem. É ao Banco Barclays que cabe decidir se é dinheiro bem gasto ou não, e não aos seus clientes. Não foi você que o subsidiou. A menos que seja accionista do Banco. Então, na próxima reunião de accionistas poderá contestar a decisão se não estiver de acordo com ela.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 07:32 PM

Muitos dos clientes de diversos artistas eram ricos ou poderosos. Voltaire viveu alguns anos na corte de Frederico o Grande da Prússia, até se chatearem um com o outro. Mas isso não influenciou em nada a obra de Voltaire. Os artistas de maior nomeada tinham encomendas de gente de posses. Outros viviam do dia a dia. Alexandre Dumas escrevia folhetins para jornais. O Conde de Monte Cristo, Os 3 Mosqueteiros, etc, foram publicados em folhetins. Camilo Castelo Branco vivia do que escrevia.
Händel, embora tivesse alguma protecção da casa real inglesa, vivia das produções que levava à cena. Mozart compunha, em parte, por encomenda, em parte, as óperas, para as levar à cena. Até ao fim da 2ª Guerra Mundial os artistas e agentes culturais não eram subsidiados, excepto nos regimes totalitários.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 07:42 PM

Beaumarchais, por exemplo, vivia do êxito das suas produções teatrais e ainda tinha que arrostar com a possibilidade da censura régia, que ocorreu várias vezes e até o levou à Bastilha. Mas viveu do que produziu.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 07:45 PM

Mas os artistas e agentes culturais que eram subsidiados nos regimes totalitários, eram-no para fazer obras com determinados objectivos. Estaline tomou posições sobre os filmes de Eisenstein, nomeadamente os dois últimos: Alexandre Nevsky e Ivan o Terrível.
Em Portugal os artistas são subsidiados para produzirem de acordo com o gosto de uma reduzida tertúlia de amigos (mas que esfaqueiam nas costas uns dos outros).
Nem querem outra vida.

Publicado por: Joana às março 16, 2005 07:50 PM

Publicado por: fbmatos às março 16, 2005 12:40 AM

Caro fmatos :
quem está a confundir é o senhor.
O hospital Amadora-Sintra é um hospital Público, com Gestão Privada.

Espero que tenha percebido a diferença entre o proprietário da Vaca e ... o dono do Leite !

Publicado por: zippiz às março 16, 2005 10:07 PM

Já que veio a rentabilidade da"cultura dos mortos" á baila
já agora,Joana, para não pecar por falta de isenção, convem dizer que José Saramago tambem vive apenas daquilo que escreve,,,
e o rapaz ainda tá vivo,,,Haverá aqui pelo blogue alguma apetência para falar de alguma coisa actual, excepção feita aos Títulos dos posts?

Publicado por: xatoo às março 16, 2005 11:00 PM

Mozart morreu na miséria, Joana. E não foi o único. Rembrandt também morreu na miséria. E muitos outros. Goya. Eu sei lá. Foram tantos os maiores artistas que morreram na ruína!

Quanto aos argumentos sobre o BCP e o Barclays, está visto: este pessoal liberal de direita é mesmo assim. Opressor, só o Estado. As empresas privadas, por grandes e opacas que sejam, nunca são opressoras, nunca são um perigo para a liberdade.

(É claro, o Estado só é opressor enquanto não chega a hora de lhe estenderem a mão.)

Publicado por: Luís Lavoura às março 17, 2005 11:29 AM

E a propósito, falta aqui um comentário sobre a prisão do antigo patrão da WorldCom, acusado de fraude. Cabe perguntar como é que os proprietários da WorldCom - os seus acionistas - são tão burros que se deixam enganar por aquele tratante. Cabe também perguntar qual a legitimidade da intervenção do Estado que, em vez de deixar o tratante em questão continuar a fazer pela vida, o foi pôr atrás de grades. Decididamente, o Estado norte-americano não é liberal! É evidente que aquilo era uma mera questão interna entre os acionistas da WorldCom, os seus clientes, e o seu administrador - o Estado não tinha nada que intervir!

Publicado por: Luís Lavoura às março 17, 2005 11:50 AM

Os analfabetos
Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte

Éverdade que cada vez há menos gente que queira fazer parte de júris de apoio a novas obras. Espartilhados por uma brigada de juristas totalmente obtusos, que julga que numa selecção estética tudo é objectivável e quantificável, os membros do júri não conseguem tomar a sério um ritual de protocolos patetas. Nalguns casos esforçam-se e perdem dias seguidos para, mal pagos, conseguirem corresponder aos requisitos que lhes são solicitados. Noutros casos, consideram que caíram numa esparrela e têm de levar as coisas em termos de paródia. Já sabem que haverá sempre inúmeros protestos de candidatos a génio que se julgam vítimas de um nefando complot - uma vez que lhes não passa pela cabeça que os projectos que apresentram e o trabalho que fizeram não merecem apoio.
Deu agora um certo brado o documento com que um júri veio justificar as suas decisões. Foi no domínio do cinema. Presidente do júri: Maria José Stock. Membros do júri: José Luís Andrade, engenheiro electrotécnico (?), Nuno Gonçalves, director do departamento comercial da Lusomundo, e António José Martins (da RTP). Não estão em causa os quatro projectos escolhidos entre 58. Uma vez que não conhecemos todos, seria leviandade pronunciarmo-nos sobre eles.
O que é interessante é vermos o que o júri escreveu para dar os seus doutos pareceres: algo que levaria à reprovação severa de qualquer aluno numa escola de cinema. Tendo em conta o nível indigente do português utilizado, podemos concluir que se trata de pessoas duplamente analfabetas, primeiro em português, o que é gravíssimo, e segundo em cinema, o que é também grave, dadas as funções que aceitaram exercer.
Os excertos que o PÚBLICO revelou mostram uma concepção de cinema absolutamente nula, misturada com um sociologismo mais próprio da Feira da Ladra. Parece impossível que a direcção do Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimédia tenha escolhido para júri gente tão desqualificada (mas se eles fossem júri não fariam a mesma triste figura?), tenha aceite um parecer tão rameloso e o Ministério da Cultura tenha dado cobertura a esta desgraçada operação.
Estes trôpegos senhores acham que o que define o público é ser "pagante". Que existe "um espectador urbano depressivo" (devem estar a referir-se aos intelectuais, essa raça nefanda). Que uma personagem não pode ser amnésica porque não comunica com o público (tudo é questão de comunicar para estas esburacadas mentes). Que existem filmes para uma audiência feminina e outros para uma audiência masculina. E que existe "um público entradote, eminentemente masculino, mas de corte não urbano" (aqui atingem o limite da tonteria).
E há mais. Num ano em que tivemos filmes como os de Manoel de Oliveira, João Canijo e Margarida Cardoso, que leva estes analfabetos a escrever sobre "o impasse em que o cinema português se encontra"? Qual seria o parecer destas desditosas criaturas sobre a "Sarabanda" de Bergman? Professor universitário

Publicado por: ********************* às março 17, 2005 12:00 PM

Portanto, segundo esse sujeito, que tem vivido à conta do orçamento do Estado, o cinema em Portugal está pujante!
É um nojo!

Publicado por: Diana às março 17, 2005 12:24 PM

Diana,

Se o EPC for um exemplo de pujança, então o cinema português está pujante, sem dúvida.

Publicado por: Mário às março 17, 2005 04:02 PM

(...) Que uma personagem não pode ser amnésica porque não comunica com o público (tudo é questão de comunicar para estas esburacadas mentes). Que existem filmes para uma audiência feminina e outros para uma audiência masculina. E que existe "um público entradote, eminentemente masculino, mas de corte não urbano" (...)

parece que para além deste,atrasado, júri :
(...)Presidente do júri: Maria José Stock. Membros do júri: José Luís Andrade, engenheiro electrotécnico (?), Nuno Gonçalves, director do departamento comercial da Lusomundo, e António José Martins (da RTP)(...)
há muitos mais ignorantes ...

Publicado por: zippiz às março 17, 2005 11:23 PM

O meu pai é engenheiro electrotécnico e é uma pessoa extremamente culta. E também sobre cinema. Foi por via dele que eu me familariarizei com os grandes nomes do mudo, por exemplo, Griffith, Murnau, Eisenstein, Pudovkin, Pabst etc., e aprendi a gostar deles.
Esse EPC é um nojo e não lhe dou qualquer credibilidade para ajuizar do valimento das pessoas.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 12:01 AM

Já agora, com a má língua que há em Portugal, e para evitar interpretações maldosas, acho preferível dizer-lhe desde já que não conheço esse Engº José Luís Andrade.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 12:04 AM

(...) Esse EPC é um nojo e não lhe dou qualquer credibilidade para ajuizar do valimento das pessoas (...)

Joana é uma boa júiza ! deve dar mais credibilidade ao deputado europeu, intelectual do psd que (já) defendeu a pena de morte !

Publicado por: zippiz às março 18, 2005 12:16 AM

... Vasco Graça Moura

Publicado por: zippiz às março 18, 2005 12:17 AM

Na verdade é de um elitismo bacoco pôr um ponto de interrogação em "engenheiro electrotécnico".
Porque é que um engenheiro electrotécnico não pode estar ali. O Prado Coelho é formado em Filologia Românica. Isso permite-lhe saber mais de cinema?
E se fosse formado em Filosofia? E em História? E em Gestão? E em Medicina? E em Direito? Ou um curso de Economia tribal tirado na Universidade Patrice Lumumba?
Isso prova o nosso provincianismo cultural.

Publicado por: Hector às março 18, 2005 12:41 AM

É curioso que tb sou eng. electrotécnico e não me sinto minimamente atingido por isto. Será por os insultos virem de uma figurinha tão mediocre?

Publicado por: Mário às março 18, 2005 02:16 PM

De facto há gente sem nível nenhum

Publicado por: fbmatos às março 19, 2005 01:37 AM

Julgava que ninguém levava aquele tipo a sério, mas afinal tem adeptos, ou adepto.

Publicado por: fbmatos às março 19, 2005 01:39 AM

Dos Jornais:
A refundação da direita
Vasco Pulido Valente

Aderrota de 20 de Fevereiro provocou por aí uma conversa sobre a "refundação da direita". Uma vez que foi quase integralmente demolida, é natural que a direita se queira refundar. Mas como? Em democracia, a direita portuguesa tem uma espécie de pecado original: o "salazarismo" continua a ser a sua única tradição autêntica. Antes do "salazarismo" não se reconhece verdadeiramente em nada e depois também não. O próprio Salazar se apresentou como um fenómeno sem exemplo e aboliu o século XIX da história do país. Para ele, o Portugal transviado e perdido do parlamento e dos partidos não existia e não podia, portanto, legar qualquer inspiração ou precedente ao recomeço absoluto do Estado Novo. Infelizmente a ideologia do "salazarismo", que, na essência, apresentava a ordem política como "natural", não serve de muito à direita de hoje. Só à superfície os "valores" dessa ordem - Deus, Pátria, família, trabalho, autoridade - parecem ressurgir na América de Bush e aqui e ali em pequenos recantos da "Europa". De facto, na civilização individualista, igualitária e secular do Ocidente inteiro, mudaram de sentido e perderam a força. O Papa, aliás, bem se queixa disso.
Ora, sem Salazar, a direita portuguesa fica num vácuo. Sá Carneiro não durou o bastante para lhe dar forma e a consolidar. O "cavaquismo" , sendo um governo meritório, não deixou uma doutrina ou um método. O ensaio "populista" de Santana e Portas faliu na abjecção. Sobrou o quê? Sobrou um vago liberalismo, que se imagina esperto e na prática repete as banalidades da moda. O liberalismo, de resto, não é fácil num país como Portugal. A pobreza indígena sempre viveu da protecção do Estado e sempre desesperadamente a exigiu: a nobreza e a burguesia, o povo rural e o povo urbano, a Igreja e a Universidade, a agricultura e o comércio, a indústria e os serviços, o funcionalismo e, claro está, a arte. Toda a gente em Portugal espera tudo ou quase tudo do Estado, a começar pelos "liberais" de agora, que esperam do Estado negócios, privilégios, parcialidade e favores. Uma direita liberal portuguesa é uma contradição de termos.
Mas, se a direita não for conservadora, porque Salazar morreu e não há nada a conservar, e se não for liberal, por causa da eterna indigência do país, que será ela? Boa pergunta. Uma pergunta que, ao fim de trinta anos, já merece resposta. No fundo, a direita portuguesa não precisa de se "refundar", precisa simplesmente de se fundar.

Publicado por: David às março 19, 2005 11:08 AM

Aquilo que diz o VPV não anda longe das teses da Joana. A Joana fala mais na possibilidade teórica, VPV fala da "impossibilidade" prática.
Ele é mesmo pessimista

Publicado por: David às março 19, 2005 11:10 AM

Esse artigo do VPV tá giro, mas muito pessimista, como é o estilo dele. Ele é bom no bota-abaixo.

Publicado por: VSousa às março 19, 2005 11:41 AM

Estes comentários têm o pendor de fugirem ao tema inicial. O tema era o neoliberalismo e os intelectuais. E chegou-se a falar do Eduardo Prado Coelho, e tendo em conta que intelectual é aquelçe que usa com bom senso o intelecto, podia fugir-se mais ao tema?

Publicado por: Mário às março 19, 2005 05:43 PM

Interessante, o artigo de VPV. A direita em Portugal - que de facto não existe hoje - defendia valores nacionais, patrióticos, mas num quadro de solidariedade que a levou a procurar uma solução duradoura no corporativismo (e não no salazarismo). A direita, quando existiu, não toleraria a ideia de exclusão social, e procuraria dar uma resposta a esse problema no quadro da doutrina social da Igreja. Aqueles que hoje se reclamam da direita nem defendem valores nacionais nem são solidários nem conhecem a doutrina social da Igreja. Não são, portanto, de direita. São reaccionários e oportunistas.

Publicado por: Albatroz às março 20, 2005 12:43 AM

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