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março 07, 2005

A Questão do Desemprego

Portugal não tem um problema do desemprego. Portugal tem três problemas de desemprego:

1 – Tem mais de 400 mil desempregados. Como o pleno emprego admite taxas da ordem de 3% ou 4%, incluindo o desemprego friccional, teremos, estatisticamente, mais de 200 mil desempregados que a nossa economia não consegue actualmente absorver;

2 – Parte significativa da indústria têxtil não é competitiva no actual quadro da globalização e da emergência da China, Índia, etc.. Há, igualmente um excesso de população activa na construção civil e tal não será sustentável a médio prazo. No conjunto estamos a falar de 200 mil a 300 mil efectivos;

3 – Há um excesso de empregados no sector público na ordem dos 200 mil a 250 mil efectivos, quando comparado com a média europeia. Este excesso de emprego, sem qualquer contrapartida a nível de qualidade de prestação de serviço (antes pelo contrário), cria um ónus pesado sobre o sector privado, quer pela fiscalidade excessiva (Daniel Bessa citou, há meses, uma folha do World Economic Forum sobre a competitividade dos países onde se via que entre 59 países, éramos a 57ª carga fiscal mais elevada), quer pelo péssimo funcionamento da máquina do Estado, que, ambos, desincentivam o investimento.

No total, estamos a falar de passar de 7% para 17% de taxa de desemprego (sem falar no desemprego induzido nos serviços pela diminuição dos rendimentos das famílias). A agravar a questão, muito daquele desemprego apresenta um claro sintoma de histerese, isto é, não parece recuperável.

A eficiência do mercado de trabalho consegue-se com a sua liberalização. No caso português é necessário que, para além da liberalização, o sector público seja profundamente reformado, porque só assim será possível o seu downsizing. O papel do Estado, para além de promover o seu downsizing, deverá ser o de remover todos os entraves à mobilidade do factor trabalho, assegurar que não há violações estruturais da concorrência, assegurar os cumprimentos contratuais nas relações entre os agentes económicos e a agilização da recuperação dos débitos.

As derrogações à liberdade contratual e à mobilidade do mercado de trabalho criam situações de imperfeição no modelo concorrencial que afectam a eficiência económica da sociedade como um todo e atingem, perversamente, aqueles que julgavam que essas derrogações os punham a salvo das “injustiças” do modelo concorrencial.

Na sequência do 25 de Abril, com o nobre intuito de proteger os trabalhadores, legislou-se no sentido de impedir qualquer despedimento ou flexibilização da relação laboral. Pensava-se que, com esses institutos legais, os trabalhadores ficariam eternamente protegidos contra a exploração capitalista. Rapidamente o poder político se apercebeu que aquela legislação tinha um efeito perverso na evolução económica, desincentivando os empresários em aumentarem o emprego, mesmo em períodos de expansão económica, colocando o país em estagnação económica, levando empresas à falência ou à deslocalização e diminuindo daquilo que se queria conservar: os efectivos da população activa. E assim, para introduzirem alguma flexibilidade num mercado de trabalho rígido e à beira do estrangulamento, apareceram a lei dos contratos a prazo e a proliferação do sistema de prestação de serviços contra recibos verdes, em completo arrepio ao espírito daquele sistema, inventado para as profissões liberais.

Aliás, a rigidez laboral tem igualmente efeitos negativos no comportamento e produtividade dos trabalhadores, retirando-lhes o estímulo pela inovação e requalificação e estimulando, em contrapartida, a sua aversão ao risco e à mudança.

Aqueles dois novos tipos de relações de trabalho tiveram um notável efeito estimulante na nossa economia e no nível de emprego. Portugal passou a ser, na União Europeia, o país onde o índice de desemprego era menor. Mesmo em períodos de grande crise, como no início da década de 80 ou no início da década de 90, enquanto o desemprego na Europa assumia níveis assustadores, em Portugal mantinha-se quase o pleno emprego.

Os empresários, em face de expectativas, mesmo medianamente favoráveis, admitiam pessoal com bastante facilidade, pois sabiam que podiam demitir esse pessoal, total ou parcialmente, quer se gorassem as expectativas, quer se o pessoal não satisfizesse profissionalmente. Na maioria dos casos verificou-se que essas admissões se tornaram permanentes porque a economia estimulada pelas decisões desses empresários cresceu o suficiente para assegurar a manutenção desse nível de emprego.

Portanto, a questão da mobilidade do factor trabalho, como regra geral, tem que ser encarada de frente e resolvida. Com a actualidade rigidez laboral do mercado “normal”, o país não é atractivo para o investimento de alta tecnologia, mas apenas para investimento não qualificado, aproveitando os “expedientes legais”.

A avaliação do comportamento económico das sociedades tem mostrado que a política de redistribuição de rendimentos terá que ser concebida de forma a não menoscabar a eficiência do tecido produtivo pois se este perder a eficiência haverá cada vez menos rendimento para redistribuir. É essa a lei do mercado e sempre que se tentaram implementar soluções de índole estatizante fixando preços e quantidades administrativamente, ignorando os equilíbrios que se geram num mercado eficiente, o resultado foi péssimo. A curto prazo os resultados parecem bons, enquanto dura o efeito das medidas estatais e o mercado não desenvolveu as respostas adequadas; a longo prazo é a catástrofe. Desde que existem trocas, que é assim: se se fecha a porta ao mercado ... ele entra pela janela.

Se o governo tomar as medidas certas, o desemprego irá aumentar a curto prazo, mas a economia será saneada e será possível um desenvolvimento sustentado futuro. Foi assim que sucedeu, por exemplo, em Espanha. Se não as tomar, talvez que o desemprego não aumente tanto no curto prazo, mas permaneceremos nesta situação de derrapagem económica, com prognóstico muito reservado, e o desemprego continuará a aumentar, a aumentar sempre. E quanto mais tarde se tomarem aquelas medidas, maior será o seu custo social e económico.


Nota - Ler ainda:
Sócrates e o Desemprego

Publicado por Joana às março 7, 2005 12:20 AM

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Comentários

Joana:
'Menoscabar' é uma palavra assim a modos que um pouco pernóstica (ou prognóstica), não acha?
Eu cá teria usado 'diminuir', 'apoucar' ou até 'menorizar' (já que 'desdoirar' seria exdrúxulo, para além de incorrecto tendo em atenção o contexto).

Desculpe este comentário... vi-me 'helénico' para descobrir o significado de um termo tão escassamente usado...

Publicado por: P Vieira às março 6, 2005 11:42 PM

Pois é pois é, a "receita" que aqui se encontra só pode vir de alguém com muito pouca experiência de vida, reconheço com algum saber e capacidade de trabalho, mas repito, pouca experiência de vida.

É histórico que as modificações repentinas só se deram com revoluções, de direita ou de esquerda, aquilo que a Joana aqui diz é a todo o vapor dar de mão beijada o poder ao capital, eles definem as regras do jogo e aqui o povinho aceita ou não, se aceitar é o escravo deste novo sistema económico de que a Joana é fã, se não aceitar, morre á fome.

Joana acredite em alguém que tem alguns anos a mais de vida, e que já passou por vários lugares de direcção, todos na área comercial e que hoje é empresário de uma pequena empresa com 3 trabalhadores e que factura cerca de 500.000€ com uma rentabilidade na casa dos 70%, com isto quero dizer que não pago ordenados mínimos nem 2 ordenados mínimos, nem 3 ordenados mínimos, mas na ordem dos 4 ordenados mínimos a cada empregado, além disso dou participação nos lucros, ou seja sou um mau exemplo para essa sua sociedade, acredite, porque os conheço bem, os empresários portugueses se tivessem leis dessas, que a Joana aqui tanto apregoa, tínhamos possivelmente pleno emprego, mas ordenados de autentica miséria, mais do que a miséria do nosso ordenado mínimo nacional, os exemplos, bons exemplos, do norte da Europa não passam pelo modelo de sociedade que a Joana tanto apregoa, e são os países com melhor índice de vida.

Publicado por: Gato Fedorento às março 7, 2005 12:15 AM

Concordo com a flexibilização das leis laborais desde que o Estado assuma a responsabilidade de proporcionar uma actividade útil e remunerada no campo não produtivo a todos aqueles que ficarem sem emprego no sector produtivo. Refiro-me, por exemplo, a tarefas assistenciais, a tarefas no campo da protecção do ambiente, no apoio educativo a minorias com dificuldades de integração, etc. O que permitiria também acabar com os subsídios de desemprego. Estas tarefas seriam remuneradas abaixo da tabela no sector produtivo, mas a um nível compatível com a preservação da dignidade das pessoas. O que encorajaria as pessoas a continuarem a procurar ocupação no sector produtivo. Com este sistema beneficiariam as empresas e a competitividade da economia nacional, sem que os trabalhadores fossem prejudicados.

Publicado por: Albatroz às março 7, 2005 12:33 AM

O problema é que o Estado não sabe fazer isso, Albatroz.
O Estado tem revelado uma grande incapacidade de decisão e de gestão. Era capaz de sair mais caro que pagar-lhes o subsídio de desemprego

Publicado por: VSousa às março 7, 2005 01:24 AM

V Sousa,

Talvez fosse mais caro do que o subsídio de desemprego, mas não se estaria a pagar a pessoas para não fazerem nada e evitava-se o desastre psicológico de as pessoas se sentirem inúteis e excluidas.

Publicado por: Albatroz às março 7, 2005 08:32 AM

P Vieira em março 6, 2005 11:42 PM:
Eu uso muito a expressão "sem menoscabo de" e, à pressa, foi a 1ª palavra que me veio à tecla. Reconheço que não é usual.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 09:01 AM

Um mercado de trabalho em concorrência permite que os equilíbrios se formem de acordo com a produtividade do factor trabalho. Não beneficiaria só as empresas, mas todos, incluindo os trabalhadores.
Escrever que os trabalhadores ficariam com "ordenados de autentica miséria" significa passar um atestado de incompetência aos trabalhadores e dizer, por outras palavras, que se ganha muito acima da produtividade, ou que se é verdade para alguns segmentos laborais, não o é para todos.
É claro que teria que continuar a haver um ordenado mínimo nacional, como o que existe nas condições actuais. Isso e os impostos progressivos assegurariam alguma redistribuição de rendimento, ao nível salarial e de prestações sociais, como é actualmente o caso.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 09:09 AM

Eu sou físico e, em física, histerese é um fenómeno em que a matéria se "lembra" do seu estado passado. Dizer que o desemprego tem histerese porque não é recuperável, parece-me um uso inapropriado da palavra.

Concordo claramente com a Joana no diagnóstico dos pontos 2) e 3): há excesso de emprego no setor têxtil, na construção civil, e na função pública, e é de prever que boa parte desse excesso de emprego se transforme IRREMEDIAVELMENTE em desemprego no curto ou médio prazo. Cabe acrescentar que esses três excessos de emprego radicam todos eles no modelo de baixa formação da mão-de-obra e baixos salários no qual a economia portuguesa, com a cumplicidade do Estado, se especializou. Todos esses três excessos de emprego entroncam em pessoas com baixo nível de escolaridade e recebendo baixos salários.

Publicado por: Luís Lavoura às março 7, 2005 09:31 AM

O agora designado "dumping social" da China e da Índia no âmbito do comércio internacional (e nomeadamente na área dos têxteis), não é afinal uma "violação estrutural da concorrência" ? Quantos milhares de desempregados vamos ainda ter na já deprimida Beira Interior, sem que aparentemente o Estado accione a figura da "cláusula de excepção" prevista no Tratado UE ?

Publicado por: asdrubal às março 7, 2005 10:20 AM

Como todos os problemas sociais, não existem receitas infalíveis nem caminhos seguros.

Ter um país com uma elevada formação profissional não chega, e por isso temos imigrantes do leste por cá. Ao mesmo tempo, de pouco serve ter instituições fortes e legislação apropriada se não há competências suficientes, empresários empreendedores, etc.

A situação portuguesa faz lembrar a de um homem que está atascado num pântano, mas por enquanto apenas até ao joelho. Por um lado, apetece-lhe sair dali para piso seguro, mas ao mesmo tempo receia poder dar um passo para um sítio que o faça afundar num ápice. Quando estivermos já "pelo pescoço" pode ser que joguemos mão a alguma bóia de salvação... se ela existir ainda.

Publicado por: Mário às março 7, 2005 10:33 AM

De como se consegue melhorar a eficiência e a competitividade das empresas através da sua racional organização em ambiente neo-liberal. Um exemplo:


LA HORMIGA PRODUCTIVA Y FELIZ

Todos los días, muy temprano llegaba a su empresa la hormiga productiva y feliz. Allí pasaba sus días, trabajando y tarareando una antigua canción de amor. Ella era productiva y feliz, pero ¡ay!, no era supervisada.

El ABEJORRO gerente general consideró que ello no era posible, así que se creó el puesto de supervisor, para el cual contrataron a un ESCARABAJO con mucha experiencia. La primera preocupación del ESCARABAJO
supervisor fue organizar la hora de llegada y de salida y también preparó
hermosos informes. Pronto fue necesario contar con una secretaria para
que ayudara a preparar los informes, así que contrataron una ARAÑITA que
organizó los archivos y se encargó del teléfono.

Mientras tanto la hormiga productiva y feliz trabajaba y trabajaba. El ABEJORRO gerente general estaba encantado con los informes del ESCARABAJO supervisor, así que pidió cuadros comparativos y gráficos, indicadores de gestión y análisis de tendencias. Entonces fue necesario contratar una CUCARACHA ayudante para el supervisor y fue indispensable un nuevo ordenador con impresora a color.

Pronto la hormiga productiva y feliz dejó de tararear sus melodías y comenzó a quejarse de todo el papeleo que había que hacer ahora. El ABEJORRO gerente general, entonces, consideró que era momento de adoptar medidas. Así crearon el cargo de gerente del área donde trabajaba la hormiga productiva y feliz. El cargo fue para una CIGARRA que alfombró su oficina e hizo adquirir un sillón especial. El nuevo gerente del área - claro está - necesitó un nuevo ordenador y - cuando se tiene más de un ordenador- hay que tener una red local.

El nuevo gerente pronto necesitó un asistente (que había sido su ayudante en la empresa anterior), para que le ayudara a preparar el plan estratégico y el presupuesto para el área donde trabajaba la hormiga productiva y feliz. La HORMIGA ya no tarareaba sus viejas melodías y cada vez se le notaba más irascible. "Vamos a tener que contratar un estudio de clima laboral un día de estos" dijo la CIGARRA.

Pero un día el gerente general, al revisar las cifras, se dio cuenta que la unidad de negocios (donde trabajaba la hormiga productiva y feliz) ya no era tan rentable como antes. Así que contrató al BÚHO, prestigioso consultor, para que hiciera un diagnóstico. El BÚHO estuvo tres meses en la empresa y pronto emitió un sesudo informe: "Hay demasiada gente en este departamento...". Así el gerente general siguió el consejo del consultor y... despidió a la hormiga productiva y feliz.

Moraleja: No se te ocurra por nada del mundo en ser una hormiga productiva y feliz. Es preferible ser un inútil e incompetente. Los incompetentes no necesitan supervisores, para qué, todo el mundo lo sabe. Si a pesar de todo eres productivo, no demuestres por nada del mundo que eres feliz. No te lo perdonarán. Invéntate de vez en cuando alguna desgracia, eso genera lástima. Pero si a pesar de todo lo anterior te empeñas en ser una HORMIGA PRODUCTIVA Y FELIZ, instala tu propia empresa, por lo menos que no vivan a tu costa abejorros, escarabajos, arañitas, cucarachas, cigarras y búhos de este mundo.

P.D.: Cualquier parecido con la coincidencia es pura realidad.

Publicado por: Senaqueribe às março 7, 2005 10:35 AM

É como eu lhe digo Joana

Tenho experiência suficiente para reafirmar FICAVAM COM ORDENADOS DE MISÉRIA, e não é passar um atestado de incompetência aos trabalhadores, existe a concertação social, existe as negociações entre as partes, vocês já despedem quando querem e lhes apetece, afinal o que querem mais, querem aquilo que eu digo no meu anterior comentário, quando a procura de emprego é maior que a oferta os preços baixam, é ou não é assim? se vocês tivessem o poder discricionário de pagar quanto quiserem, quando quiserem, como quiserem, por os trabalhadores a trabalhar como quiserem, quando quiserem, onde quiserem.... Olhe Joana, sabe uma coisa porque é que não vai para a China, ali é que as relações de trabalho são assim, vá para a China.

Publicado por: Gato Fedorento às março 7, 2005 10:40 AM

Afixado por: VSousa em março
Pobre estado tão largas tem as costas! Atirando com as culpas para o estado, o que fazem é branquear as responsabilidades dos governos dos últimos 30 anos. Se o Estado tem todos esses problemas é porque os governos o não têm adequado às necessidades actuais. A regionalização tinha sido um passo importante para racionalizar o aparelho do Estado e acabar com a confusão reinante que impede a correcta informatização de muitos serviço. Foi chumbada porque ia acabar com o possibilidade de o Governo nomear o Governador Civil e um combóio de Boys sem qualquer controlo.
Almada pertence simultaneamente ao DISTRITO de Setúbal, à Área Metropolitana de Lisboa e à Comissão Coordenadora de Lisboa e Vale do Tejo.
Faz bem em juntar-se à Joana, atacando moinhos de vento e lutando pelo regresso de uma sociedade medieval sem direitos para quem trabalha. Um paraíso selvagem!

Publicado por: elmano às março 7, 2005 11:07 AM

A Joana quer pôr mais um milhão de portugueses no desemprego. Entretanto sabemos, por outros posts, que considera insustentáveis os nossos níveis de segurança social: há portanto que reduzir ou eliminar os subsídios de desemprego.
Temos portanto que a Joana quer pôr uma grande parte dos portugueses na miséria - temporariamente, diz ela.
E isto para quê? Para aumentar a produtividade e a competitividade do país e para optimizar a «eficiência» da economia.
Oram digam lá se isto não faz lembrar a anedota do fulano que vendeu o televisor para comprar um DVD?

Publicado por: Zé Luiz às março 7, 2005 11:12 AM

A estupidez não paga imposto, pois não?

Publicado por: Mário às março 7, 2005 11:34 AM

Histerese é uma palavra da física que foi apropriada pela economia para descrever um efeito no mercado de trabalho. No meu entender significa que o desemprego aumenta rapidamente e leva muito tempo a diminuir.

A estrutura sectorial do emprego muito provávelmente é o maior problema do país. A ela se deve ,em parte, uma produtividade mais baixa, pois são dominantes sectores trabalho intensivos.
Em sectores trabalho intensivos o custo do trabalho tem um peso enorme, daí que a nossa capacidade para competir com alguns países seja escassa.


Talvez a palavra histerese não tenha sido bem utilizada - afinal pressupõe que o desemprego diminui, o que poderá não ser o caso para os sectores apontados. Não foram apontadas medidas para resolver este problema, que pouco se relaciona com a flexibilidade ou rigidez do mercado de trabalho. Se um trabalhador do sector têxtil com 50 anos ficar desempregado dificilmente encontrará novo emprego, seja o mercado de trabalho rígido ou flexível.

Publicado por: Razio às março 7, 2005 12:24 PM

Luís Lavoura em março 7, 2005 09:31 AM :
Você escreveu: “Eu sou físico e, em física, histerese é um fenómeno em que a matéria se "lembra" do seu estado passado. Dizer que o desemprego tem histerese porque não é recuperável, parece-me um uso inapropriado da palavra”

Essa palavra é usada em Macroeconomia e tem origem na Física. A ideia é que há perdas quando a acção que deu origem a um certo estado, desaparece.

Falei com o meu pai, que é electrotécnico, e ele disse-me que de facto é assim e uma das perdas ligadas aos transformadores, são as perdas de histerese, que dependem do núcleo de ferro dos ditos. Não sei se estou a repetir exactamente o que ele me disse, mas se for assim, a adaptação que os economistas fizeram desse termo é correcta. Ou seja, nem todo o emprego é recuperável

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:50 PM

Razio em março 7, 2005 12:24 PM:
Entretanto li o seu comentário. Julgo que está respondido no meu comentário anterior.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:52 PM

Nem que de propósito. Leiam, s.f.f. o dossier do Público de hoje:
Valores do desemprego poderão continuar elevados durante anos
http://jornal.publico.pt/noticias.asp?a=2005&m=03&d=07&id=10127&sid=1080
e os restantes artigos do dossier.

Nomeadamente o Zé Luiz em março 7, 2005 11:12 AM que afirma que a "Joana quer pôr mais um milhão de portugueses no desemprego. Entretanto sabemos, por outros posts, que considera insustentáveis os nossos níveis de segurança social: há portanto que reduzir ou eliminar os subsídios de desemprego.
Temos portanto que a Joana quer pôr uma grande parte dos portugueses na miséria - temporariamente, diz ela.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:55 PM

E para concluir algumas citações do Daniel Bessa, na entrevista de hoje, ao DN:
E o desemprego?

Vai continuar a aumentar. Diria mais. Se a economia portuguesa seguir no bom caminho passaremos por um período de aumento do desemprego. Se se mantiver este modelo de águas mornas, talvez diminua. O perigo maior que Portugal corre é de se tornar numa espécie de Sicília. Proteccionista, muito dependente do Estado, pouco liberal, pouco aberta, com pouca concorrência ou espaço para o mérito e para a afirmação. Todos sabemos a rota descendente que a Sicília cumpre e cumprirá enquanto continuar assim. A minha convicção profunda é que, se as coisas correrem bem, o desemprego aumentará.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:56 PM

Outra:
Aumento para quanto?

Não sei, mas não estou a inventar nada. Os países que seguiram trajectórias mais afirmativas e ganhadoras fizeram-no com aumento do desemprego a curto prazo. A Espanha pagou um preço elevadíssimo e hoje é o que é. A Irlanda, onde hoje temos talvez o melhor resultado da Europa nas últimas décadas. Um dos maiores economistas de todos os tempos, Joseph Schumpeter, defendeu uma das teses mais válidas - a da destruição criadora. Não é possível criar sem se destruir algo. Pode ser politicamente incorrecto, mas não há colega meu nenhum que chegue a ministro da Economia ou das Finanças que não o saiba. Pode não o dizer, mas aprendeu nos bancos da escola e com a vida que é assim. Essa é a força do capitalismo, a coragem de romper e de destruir para criar. A Sicília não destrói, mas também cria muito pouco.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:57 PM

Ainda outra:
Socialmente não é bem-visto.

Para isso é que há políticas sociais, a protecção devida a todas as vítimas do sistema. Posso ser eu amanhã. Pessoas que eu gostaria que fossem também o mais pró-activas possível. Acredito sempre em condicionar os apoios à obrigação de formação, a um mínimo de trabalho pessoal e de retribuição.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 12:59 PM

Daniel Bessa foi ministro socialista. Outro ex-ministro socialista que tenho citado com frequência é Medina Carreira.
Porque não vão, aqueles que dicordam de mim com fervor, fazer o mesmo, na praça pública, contra aqueles senhores?

Foi coincidência, eu escrever aquilo ontem à noite e aparecerem hoje aqueles artigos nesses 2 jornais, mas foi uma coincidência feliz.
É bom uma pessoa sentir-se acompanhada

Publicado por: Joana às março 7, 2005 01:03 PM

A Joana teve sorte. Se se tivesse atrasado 12 horas com este post, estaria a repetir quase ipsis verbis muito do que veio escrito no Público e DN

Publicado por: Diana às março 7, 2005 01:36 PM

Há 3 formas de discutir esta questão. A racional, a mesqunha e a ideológica.

A primeira é baseada na realidade e naquilo que se conhece dela, fazendo raciocínios lógicos sem piruetas à mistura.

A segunda é aquela que fazem quase todos os portugueses. Podem estar muito atentos, mas aúnica coisa que lhes interessa é se vão ser afectados ou não no curto prazo. Não se preocupam se no longo prazo vão direitos ao abismo ou se algo que os pode benificiar pontualmente é bastante prejudicial ao conjunto.

A terceira, a ideologica, repudia as anteriores na prática mas reclama-as na retórica. Diz-se a favor do bem global e que utiliza a razão, mas a única coisa que lhe interessa é mostrar repúdio por tudo o que lhes cheire a liberal ou capitalista. Para isso, investe-se de um moralismo, que condena facilmente, reservando para si todas as virtudes.

Publicado por: Mário às março 7, 2005 01:54 PM

O seu post está excelente e teve sorte na coincidência, porque assim, muitas das críticas que lhe fazem estão respondidas naqueles artigos de hoje.

Publicado por: Hector às março 7, 2005 02:31 PM

Não sei se o conceito de histerese tem cabimento no contexto em que a Joana o aplicou. Histerese (relativamente a desemprego) diz respeito à permanência de uma situação de desemprego depois dos efeitos de um choque externo, que causou esse desemprego em primeiro lugar, terem passado. Ora as causas de desemprego que a Joana assinala não podem ser vistas como um choque temporário. Logo a questão da histerese, a meu ver, não se coloca. Por outro lado, considera-se actualmente que o fenómeno de histerese ocorre porque, no seguimento do choque externo, a função produção é permanentemente alterada, com substituição do factor trabalho por outros factores de produção, o que impede a recuperação dos níveis anteriores de emprego. Também não é essa a situação da economia portuguesa.

Publicado por: Albatroz às março 7, 2005 04:38 PM

Albatroz em março 7, 2005 04:38 PM:
Se o despedimento teve origem na perda de competitividade de um trabalho de baixa qualificação, tal significa que a função de produção se alterou, i.e., para uma dada isoquanta, o custo do factor trabalho tem que ser inferior.
Por outro lado está a ver o factor trabalho em termos de unidades físicas, quando a questão se põe em termos da diferença de custos dessas unidades, supostas com idêntica qualificação, em Portugal e na China.

Publicado por: Joana às março 7, 2005 07:45 PM

A situação, tal como a Joana a descreve, e os jornais de hoje confirmam, é negra. Só que não vejo as pessoas conscientes disso.

Publicado por: Sa Chico às março 7, 2005 08:38 PM

Repare que mesmo nos comentários, as pessoas tentam iludir a realidade, criticando-a. É como antigamente, com os mensageiros das más novas.

Publicado por: Sa Chico às março 7, 2005 08:40 PM

A solução final

Só com medidas radicais poderemos efectuar em Portugal o downsizing necessário à eficiência da nossa economia. Se Portugal tem 1.700.000 cidadãos excedentários, a solução é só uma: câmaras de gás.
Admitindo uma capacidade de processamento, em velocidade de cruzeiro, de 1.000 excedentários / dia poderíamos ter o problema resolvido em 5 anos. Para optimizar a relação custos/benefícios, os próprios excedentários poderiam ser utilizados como mão de obra na construção das instalações e na remoção e tratamento dos resíduos, libertando para outras tarefas a mão de obra mais qualificada de que o País necessita.

Publicado por: Zé Luiz às março 7, 2005 08:58 PM

Zé Luiz em março 7, 2005 08:58 PM:
Não me parece que essa solução viável. Veja que dificilmente a UE nos daria financiamento para tal. Por várias razões, mas a principal por causa dos estudos de impacte ambiental. Repare que se meia dúzia de hipotéticos linces impedem o financiamento da Barragem de Odelouca, o que diriam do seu projecto de eliminar 1.700.000 cidadãos que você alega serem excedentários

Publicado por: Joana às março 7, 2005 09:33 PM

Não sei, não, Joana.
Para começar, os linces são bem mais importantes do que as pessoas. Pelo menos nunca ouvi ninguém referir-se a eles como «recursos felinos», o que indica que o consenso social lhes atribui alguma dignidade que não atribui aos humanos. Isto para já não falar da lei da oferta e da procura: a Joana concordará que a oferta de linces é mínima, e isto quando anda toda a gente à procura deles. É natural que o seu valor de mercado seja bem mais alto que o de uma mera barragem, não é?
Quanto ao financiamento da UE, tenha em conta que o problema não é só português. Integrado num programa de âmbito europeu, extensível porventura ao Magrebe e à África sub-sahariana, quem sabe se o meu projecto não teria o apoio da Comissão Europeia, do PE e do Conselho de Ministros?

Publicado por: Zé Luiz às março 7, 2005 10:01 PM

Até já tenho uma proposta de nome para o programa: Programa Schumpeter. Que lhe parece?

Publicado por: Zé Luiz às março 7, 2005 10:03 PM

Este post analisa o desemprego em que País ?

Fala em leis laborais de que País?

No País em que eu vivo, que se chama Portugal, e que só tem um vizinho que se chama Espanha, as leis actuais para as empresas são:

- Contratam pessoal através das empresas de trabalho temporário, que já são centenas.
- Podem contratar por 8 dias, 15 dias, 1 mês, etc.
- Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário, fazem contratos de mês a mês, e são dispensados de um dia para o outro, sem mais nada.
- Não têm direito a subsídio de desemprego.
( portanto não contam nas estatísticas oficiais )

Bom..também há outro modo, ainda mais eficiente, é sem contrato nenhum, a recibo verde.

Que mais haverá a mudar em Portugal ?

Ou estavam a falar da Suécia ?

Publicado por: Templário às março 7, 2005 10:37 PM

Só não acredito é nos números oficiais de 400 mil desempregados, pois eu diria mais uns 30% que não se podem lá inscrever, portanto o desemprego rondará os mais de 500 mil.

Publicado por: Templário às março 7, 2005 11:10 PM

Acho que o post da Joana vai ao fundo da questão, tanto quanto se pode esperar de um blog, e que não vale a pena iludi-la.
Podemos contar as histórias da carochinha que inventarmos, mas a solução do problema não passa por essas histórias

Publicado por: Novais de Paula às março 8, 2005 12:27 PM

Há várias definições para o que se entende por desemprego e vários métodos para o calcular.
Em teoria seria a diferença entre a população potencialmente activa e aquela que tem uma ocupação.
No outro extremo são apenas aqueles que estão inscritos nos centros de emprego.

Publicado por: Novais de Paula às março 8, 2005 12:30 PM

Mas cuidado. Muitos desses inscritos têm actividades remuneradas, estilo biscates. Não podem é passar recibo.

Publicado por: Novais de Paula às março 8, 2005 12:32 PM

Quer dizer:
Se aos 400.000 desempregados da Joana somarmos os falsos empregados, que ninguém sabe quantos são, e subtrairmos os falsos desempregados, que também ninguém sabe quantos são, ficamos com um número que ninguém sabe qual é.

Publicado por: Zé Luiz às março 8, 2005 02:56 PM

Acertou! É esse o número exacto!

Publicado por: Coruja às março 8, 2005 03:01 PM

Ando há que tempos a tentar descobrir um mistério, mas ainda não consegui: o que é que provoca o aparecimento dos tontos nos blogues onde se discutem coisas sérias com inteligência...

Publicado por: Detective às março 8, 2005 03:56 PM

Excelente post. Sem pactuar com ilusões fáceis

Publicado por: Absint às março 8, 2005 05:34 PM

É o mesmo mistério que provoca o aparecimento dos inteligentes nos blogues onde se discutem coisas tontas.
É a vertigem do desconhecido

Publicado por: Silva às março 8, 2005 05:34 PM

Ecelente um post que diz que para melhorar a economia têm que despedir mais 600 mil trabalhadores? É uma vergonha.

Publicado por: Cisco Kid às março 8, 2005 07:35 PM

Foi o que aconteceu em Espanha. E toda a gente inveja a Espanha, hoje.

Publicado por: AJ Nunes às março 8, 2005 08:46 PM

Essa apreciação é brutal, mas infelizmente verdadeira. E não vejo, com a situação actual, quaisquer melhoras.

Publicado por: Mauricio às março 18, 2005 02:00 AM

Eu acho que o desemprego leva a todo.

Publicado por: Denise Patrícia Chapua Chicola às junho 7, 2005 06:42 PM

Publicado por: Mortgage Refinancing às junho 11, 2005 11:28 PM

Muito bem, Joana. Segurança servida por sentido de humor e belo domínio do português. Só podia ser mulher.

Publicado por: SG Grande às junho 23, 2005 06:36 PM

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