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julho 15, 2004

Futebol e Política

O futebol tem sido anatemizado pela baixa estatura ética dos seus dirigentes, pelo trogloditismo das claques, pelo mercenarismo dos jogadores, pela corrupção na arbitragem, etc., etc..

Simultaneamente, quando um clube português está numa competição europeia, nomeadamente na sua fase final, com o pódio à vista, todos, independentemente da cor clubista, torcem por ele. Haverá elementos desgarrados nas diversas claques que não alinharão nessa onda. Mas o que é visível, o que pontifica, é a unidade de todos em torno desse clube. O que emerge é o desígnio nacional de uma vitória portuguesa seja ela obtida por um qualquer clube, mesmo que não seja o nosso.

Em política também pareceu que poderia ser assim. Quando surgiu a possibilidade de António Vitorino ser indigitado Presidente da Comissão Europeia, todo o espectro partidário, excepto alguns marginais da esquerda radical, se uniu no desígnio nacional de levar Vitorino à presidência.

A correlação de forças dentro do Parlamento Europeu inviabilizou essa hipótese e, entretanto emergiu, de forma surpreendente, o nome de Durão Barroso para aquele cargo. A partir dessa altura, para os outros clubes políticos, a sua candidatura era irrisória, pois é «do mais tacanho provincianismo supor que a indicação de um português seja em benefício para o país», porquanto Barroso foi escolhido por ter um “perfil baixo”, pelas razões sólidas de que a sua indigitação «condiz com a relativa desvalorização da Comissão», pela vergonha de que tal não passou da quarta escolha, etc., etc.. Mário Soares, para não falar do seu filho, tem sido em extremo depreciativo sobre as motivações da escolha e sobre a incompetência de Barroso para desempenhar o cargo. As previsões de M Soares sobre o futuro desempenho de Barroso são absolutamente sinistras.

Ontem, à saída da audição do grupo socialista do PE, as declarações dos parlamentares do PS português foram em total desabono da prestação do candidato português. Quem os ouviu e quem ouviu outros membros não portugueses do grupo socialista do PE e leu os jornais estrangeiros de hoje, diria que houve duas reuniões diferentes: uma entre Barroso (um camaleão incompetente para o cargo) e o grupo PS português, e outra entre Barroso (um líder hábil, com domínio da situação e com charme) e o restante grupo socialista do PE que elogiou a sua prestação, mesmo discordando dele em diversos pontos.

Verifica-se assim que os líderes dos clubes da esquerda política portuguesa têm uma estatura ética mais baixa que os dirigentes do futebol, que as suas claques são mais trogloditas que as dos clubes desportivos e que demonstram menos amor pelo seu país e pelo sucesso internacional dos seus compatriotas, que a desacreditada classe dos dirigentes e fãs desportivos.

Deixo apenas uma pergunta: como é que quem não ama o seu país, o pode governar bem?

Publicado por Joana às julho 15, 2004 08:22 AM

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Comentários

Atenção Joana,

O líder é sempre responsável pelo que se passa na organização que dirige, o operacional é responsável pelas suas acções perante o líder, mas em última análise, o líder é responsável.

As pessoas, portugueses, que de um modo ou de outro, simpatizam com as ideias, como a Joana refere, da esquerda, não devem ser confundidos com as acções dos supostos líderes da "esquerda" ou de esquerda.
Recomendo alguma contenção de modo a não colocar todas as pessoas com ideias próximas da ala esquerda do espectro político no mesmo saco.

Como português, custa-me ler o modo como se classificam as pessoas porque são "de esquerda" ou porque são "de direita", mais me custa ainda o modo como são tratados e como se tratam.

Assim, como país, desunidos não vamos lá, nunca mais saímos da cepa torta.

Publicado por: Alves às julho 14, 2004 10:19 PM

De acordo Joana, embora esteja de acordo com o Alves que há uma esquerda, que talvez apareça agora com a mudança de líder do PS, que é diferente.

Publicado por: Gustavo às julho 14, 2004 10:32 PM

Alves:
Se ler os meus posts anteriores, há de reparar que eu falo sempre ou de uma certa esquerda, ou da «ala esquerda» da esquerda.
Infelizmente trata-se da esquerda que, actualmente é a mais visível mediaticamente

Publicado por: Joana às julho 14, 2004 10:39 PM

Esperemos que, com a mudança do secretário geral este panorama se altere.

Publicado por: Joana às julho 14, 2004 10:41 PM

O que me parece é que há uma esquerda, de natureza respeitável mesmo quando utópica, e uma falsa esquerda, de cariz oportunista.

Infelizmente a esquerda é, ou tem sido, dirigida pela falsa esquerda, não só cá mas em muitos outros lados. Muitas vezes com consequências dramáticas.

Publicado por: Senaqueribe às julho 14, 2004 11:20 PM

A hipocrisia de PS actual é um nojo. Espera-se que mude

Publicado por: Hector às julho 15, 2004 12:26 AM

Troglodita será você

Publicado por: z às julho 15, 2004 10:58 AM

Bem dito

Publicado por: uv às julho 15, 2004 11:59 AM

Como é que o Vitorino, um tipo sério e cauteloso, se ia meter naquele ninho de víboras?

Publicado por: duarte às julho 15, 2004 01:24 PM

Duarte: tem toda a razão. O PS está num estado lastimosos.
Como era possível pensar um partido naquela situação, governar o país?

Publicado por: Sa Chico às julho 15, 2004 01:28 PM

O PS só é bom na oposição.
Quando está no governo é um desastre.

Publicado por: Senaqueribe às julho 15, 2004 09:06 PM

:-)

Senaqueribe, o PS de Ferro Rodrigues não foi um desastre como oposição?

Publicado por: Ch'ti às julho 15, 2004 09:29 PM

Ch'ti:
Sim, mas como oposição o desastre caiu-lhe em cima.
Se no governo, caía em cima de nós...
:-)

Publicado por: Senaqueribe às julho 16, 2004 12:11 PM

De facto a política ainda é pior que o futebol.
E não dá tanto gozo

Publicado por: fbmatos às julho 20, 2004 04:41 PM

fbmatos: basta ver o comportamento da maioria dos deputados europeus do PS.
Uma vergonha

Publicado por: senoir às julho 23, 2004 01:56 PM

Uma vergonha

Publicado por: senoir às julho 23, 2004 01:59 PM

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