« Bush, Sharon e Arafat | Entrada | Um Pacifista Incómodo »

abril 19, 2004

Dislexias

O ministro da Administração Interna, Figueiredo Lopes disse, numa entrevista à Antena 1 e respondendo a uma pergunta sobre o futuro da GNR no Iraque na hipótese da situação descambar, que «Se, por hipótese, o conflito se agudizar e a GNR não tiver condições para exercer a sua missão a única coisa a fazer é retirar». Questionado sobre a possibilidade de, no caso de agravamento da situação no Iraque, substituir a GNR pelo Exército, o Figueiredo Lopes garantiu que «nem sequer está a ser equacionada a hipótese de enviar as Forças Armadas».

A força da GNR é uma força de manutenção da segurança pública, sem meios militares para se empenhar num conflito militar. Ela foi para o Iraque nessas circunstâncias e só partiu depois de ter sido assegurada a existência de condições no terreno que permitissem a sua acção.

Portanto o que Figueiredo Lopes disse foi o que consta dos acordos que possibilitaram a ida daquele contingente e do protocolo internacional, assinado pelo governo português, estabelecendo as condições em que a GNR operaria no Iraque.

Os nossos meios de comunicação pegaram naquelas declarações e verteram-nas em «comunicacioguês»: Figueiredo Lopes admite retirar a GNR do Iraque.

Figueiredo Lopes, homem tímido, de perfil baixo ... ou melhor, sem perfil para ministro ... apressou-se a desmentir aquela frase que os jornalistas tinham vertido em «comunicacioguês» e a tentar clarificar a sua posição. Debalde. A sua clarificação foi retrovertida em «comunicacioguês» assim: Figueiredo Lopes dá o dito por não dito.

Lendo melhor a frase anterior, verifica-se que ela encerra algo de verdade. De facto, Figueiredo Lopes dá o dito (o dito pela comunicação social) por não dito (ele, na verdade, não tinha dito aquilo).

Não há mesmo nada a fazer. A dislexia dos jornalistas é total e absoluta. A dislexia dos jornalistas e de Santana Lopes e Ana Gomes, os mais mediáticos dos nossos políticos que, por via disso, também foram contagiados pela dislexia mediática, embora cada um com sintomatologia diversa.

Enquanto Figueiredo Lopes foi vítima da dislexia jornalística, Durão Barroso foi vítima de uma crise de incontinência verbal. Durão Barroso criticou o Governo espanhol dizendo que «O novo Governo espanhol anunciou que ia retirar as tropas do Iraque e imediatamente disse que ia aumentar a presença no Afeganistão. Sentiu necessidade de o dizer, reparem nisso. Imediatamente a Al Qaeda reforçou as ameaças contra Espanha. E neste momento a situação naquele país não é de forma alguma mais segura do que em Portugal, bem pelo contrário» e, mais adiante, «há muito mais risco em Espanha do que em Portugal, apesar de o novo Governo espanhol ter dito o que disse» e que «não se compra segurança com a tentativa de ceder a qualquer forma de terrorismo».

Eu já fiz aqui acusações mais fortes a Zapatero que as que Durão formulou. Zapatero tem personalidade frágil: na altura das eleições dizia que ia retirar do Iraque; logo a seguir disse que as tropas espanholas permaneceriam a seguir a 30 de Junho, mas apenas se ficassem sob o comando da ONU; ontem, pressionado pelos parceiros radicais da coligação no poder, disse que as ia retirar imediatamente; amanhã, pressionado por Bush e Kerry, fará sabe-se lá o quê; etc.. Todavia Durão não falou na qualidade de «blogueiro». Analistas políticos têm sido severos com Zapatero. Todavia Durão Barroso não é um analista político (pelo menos por enquanto). Durão Barroso é o Primeiro Ministro de Portugal e deve ter sentido de Estado quando faz afirmações públicas sobre Primeiros Ministros de outros países.

Pior, Durão Barroso é o Primeiro Ministro de um país que não tem forças militares no Iraque e que apenas mantém nesse país um contingente insignificante de forças de segurança. Durão Barroso tem o direito de discordar da decisão de Zapatero. Todavia a insignificância da presença portuguesa no Iraque não lhe confere qualquer autoridade para emitir, publicamente, aqueles juízos de valor.

Por outro lado, Durão Barroso asseverou que a situação em Portugal é muito mais segura que em Espanha. Tem sido, é um facto. Mas o terrorismo não tem lógica e vive da surpresa. Os meios de profilaxia e combate ao terrorismo em Portugal são mínimos e, certamente, muito inferiores aos da Espanha. Nada garante que o que foi verdade até agora, continue a ser verdade. Durão Barroso teria feito bem melhor em estar calado sobre esta matéria, tecendo comparações de que poderá um dia arrepender-se.

Esperemos que tal não venha a acontecer.

Publicado por Joana às abril 19, 2004 07:52 PM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/105142

Comentários

Desta vez gostei. Boa análise

Publicado por: Vitapis às abril 19, 2004 11:30 PM

O Figueiredo Lopes é um frouxo e incompetente e o Burroso é um lacaio dos americanos

Publicado por: Cisco Kid às abril 20, 2004 12:08 AM

O Zapatero é um tonto, anda à deriva. Agora diz uma coisa, depois diz outra.

Publicado por: Mocho às abril 20, 2004 12:17 AM

E a grande dor de corno do Burroso é o Zapatero fazer frente ao Bush

Publicado por: Cisco Kid às abril 20, 2004 12:20 AM

O Zapatero não faz frente a ninguém. Só dobra a espinha.

Publicado por: Mocho às abril 20, 2004 12:24 AM

E o governo português, que não se entende?

Publicado por: Cisco Kid às abril 20, 2004 12:27 AM

Você não percebe o que lê. Faz pena

Publicado por: Mocho às abril 20, 2004 12:28 AM

Isso não são maneiras de discutir

Publicado por: Cisco Kid às abril 20, 2004 12:30 AM

Desisto. Você é um muro de betão

Publicado por: Mocho às abril 20, 2004 12:31 AM

Não me parece que este debate tenha sido muito conclusivo. É das horas!

Publicado por: Vitapis às abril 20, 2004 12:36 AM

Um escrito muito bem observado

Publicado por: Botelho às abril 20, 2004 12:55 PM

O homem estava só a querer fazer passar uma mensagem: «Ó Durão, na próxima remodelação põe-me na rua».
CC

Publicado por: Maxou às abril 20, 2004 01:35 PM

Por exemplo: acho esta análise muito lúcida e bem observada. Eu também achei disparatada a forma como os jornalistas aldrabaram as palavras do ministro. O ministro é um banana e um incompetente. Com outro com mais estaleca, a coisa não tinha ficado assim.
Quanto ao Durão, concordo com o que a Joana diz. É muito pertinente.

Publicado por: c seixas às abril 22, 2004 01:02 AM

Por exemplo: acho esta análise muito lúcida e bem observada. Eu também achei disparatada a forma como os jornalistas aldrabaram as palavras do ministro. O ministro é um banana e um incompetente. Com outro com mais estaleca, a coisa não tinha ficado assim.
Quanto ao Durão, concordo com o que a Joana diz. É muito pertinente.

Publicado por: c seixas às abril 22, 2004 01:03 AM

Bem observado, este escrito. O pessoal está porém mais virado para as coisas no Iraque e na Palestina. Isto desperta pouco entusiasmo

Publicado por: Ricardo às abril 25, 2004 12:16 PM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)