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dezembro 19, 2003

Magis movent exempla quam verba

Os espanhóis da Sacyr Vallehermoso vão adquirir o capital que ainda não detêm na Somague. Depois de um aumento de capital que a Sacyr Vallehermoso irá fazer, esta empresa espanhola ficará a controlar 93,97% dos direitos de voto da Somague, enquanto a família Vaz Guedes deterá 5,33% do capital da nova companhia espanhola.

Ou seja, a família Vaz Guedes troca 64,28% da Somague por 5,33% da Sacyr.

A família Vaz Guedes afirma que este processo de concentração, com integração integral do Grupo Somague na empresa espanhola, «incrementará o volume de negócios global em 25% e permitirá uma actuação concertada nos mercados ibérico e ibero-americano, conferindo, por outro lado, a dimensão crítica adequada para poder vir a operar em condições vantajosas noutros países europeus.

Até aqui, tudo bem. Mais uma empresa portuguesa cujo controlo de gestão passa para mãos estrangeiras em troca, aparente, de uma eventual abertura de outros mercados e novas oportunidades de negócio. Todavia, há um lado negativo: a passagem de empresas portuguesas para mãos estrangeiras pode levar ao esvaziamento dos próprios centros de competência que elas constituem ou deveriam constituir.

Porém, o que é caricato nesta questão é Vaz Guedes ter sido um dos impulsionadores do Compromisso Portugal. Isto é, enquanto ele pelejava arduamente para combater a alienação dos centros de decisão representados pelas empresas portuguesas geridas por portugueses, tratava em simultâneo da alienação do seu “centro de decisão” aos espanhóis.

Magis movent exempla quam verba (Os exemplos influenciam mais que as palavras) é o que se extrai de tudo isto, embora Vaz Guedes devesse dizer, de preferência: Faz o que eu digo, não faças o que eu faço

Publicado por Joana às dezembro 19, 2003 09:26 PM

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Comentários

É espantoso que este texto não valha um comentário. Mas eu sinto-me muito pouco à-vontade para o fazer porque pressinto um qualquer equívoco (no Tempo) naquela questão da "mão invisível" e da "astúcia da razão". Alguma coisa me diz que não devo aplicar a fórmula a este caso particular. Convoco o Zé Luís aqui. Ele sabe da poda. Uma coisa é certa : A família Vaz Guedes poderá ser a «mão invisível»... e quem promoveu o «Compromisso Portugal» não prima pela «astúcia»...

Publicado por: Carlos eduardo às dezembro 20, 2003 01:17 AM


Cara Joana,

Compreendo perfeitamente a sua "razão emocional", isto é, compreendo que se sinta ferida perante a manobra económica que Vaz Guedes personificou ao "trocar Portugal pelo estrangeiro".

Todavia, o que não compreendo é a sua súbita cedência ao emocional.

Porque não chama os bois pelos nomes?

Porque não diz que onde Vaz Guedes é abjecto é exactamente ao ter solicitado (em nome da importância da manutenção de centros de decisão em Portugal) o apoio do Estado (de todos nós e dos nossos impostos!) para valorizar o seu grupo de empresas de modo a podê-las vender pelo preço máximo ao primeiro que apareceu?


Porque não diz, afinal, que tudo isto é a Economia a funcionar?

Publicado por: re-tombola às dezembro 20, 2003 05:31 AM

Uops!

"de modo a podê-las vender" ??????

sorry!

"de modo a poder vendê-las"

:-)

Publicado por: re-tombola às dezembro 20, 2003 05:35 AM

re-tombola em dezembro 20, 2003 05:31 AM
Mas eu disse que era a Economia a funcionar.
Apenas achei caricato ser um dos signatários do Compromisso Portugal a vender os seus activos aos espanhóis. E mais caricato porque, tudo o indica, visto negociações deste tipo serem morosas, ele assinou um documento na mesma altura em que agia em sentido inverso.

Publicado por: Joana às dezembro 22, 2003 12:45 AM

(...)não há, de momento e num horizonte próximo, qualquer alternativa viável a ele - o capitalismo - . O que eu pretendo é salvar o nosso sistema, para que ele continue a funcionar e a aperfeiçoar-se e, quando as condições estiverem reunidas, para se superar(...) .

Os Liberais Radicais são os últimos poderem comover-se ou sentirem-se enganados pelos "anti-patriotas" !

Publicado por: zippiz às dezembro 22, 2003 03:30 PM

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