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novembro 03, 2003

Hábitos enraizados

Portugal é, na verdade, um país eterno, uma singularidade no espaço e no tempo, como diria o nosso filósofo das luzes, um “Reino velho sem emenda”.

Relativamente a este tema, e para verem como há coisas que estão enraizadas nos nossos hábitos, que fazem parte dos nossos genes, cito excertos do artigo “Le Portugal au dix-neuvième siècle” da Revue des Deux Mondes, de Julho 1837, pags 79-112. Esta revista foi porventura a mais importante publicada em França no século XIX (chegou ao século XX, mas já em decadência):

“------------------------------------
Em vão revoluções se sucederam. Em vão cada constituição destronou a anterior. O país olha e deixa fazer, opondo a sua força de inércia às inovações sem que, por isso, preste qualquer apoio aos retrógrados (*).

Era mais fácil promulgar essas belas legislações do que pô-las em execução …

Se não houve, como em Espanha, sublevações populares, foi porque a população portuguesa raramente age com paixão. Mas tem uma força de inércia muito mais difícil de vencer que uma resistência à mão armada. Como obter de um povo uma cooperação à qual ele se recusa? … Que fazer de um país onde os costumes resistem tão vivamente às leis?
-------------------------------------“


Vocês não acham que estas observações sobre a forma como a opinião pública (não a opinião que aparece nos meios de comunicação) portuguesa se comporta perante a política e as instituições em geral, se mantém com uma certa actualidade, quase 170 anos depois e com diversas revoluções de permeio (Maria da Fonte, Regeneração, República, Estado Novo, 25 de Abril, sem falar das revoluções menores)?


(*) O autor (o sr. Louis de Carné) refere-se aos adeptos do absolutismo, à reacção clerical, etc..

Publicado por Joana às novembro 3, 2003 12:18 AM

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Comentários

sim mantém uma certa actualidade...há até quem defenda que deviamos mudar de povo !

Publicado por: zippiz às novembro 2, 2003 11:09 PM

...mas a culpa é do povo ou das "elites" ?

Publicado por: zippiz às novembro 2, 2003 11:10 PM

Recuando ainda mais no tempo:

"Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar". (Gaius Iulius Caeser)

Penso que a citação não está totalmente exacta, mas estará bastante próxima.

Cumprimentos!

Publicado por: Paulo Pedroso às novembro 3, 2003 04:12 PM

De facto não parece que tenhamos mudado muito

Publicado por: GPinto às novembro 3, 2003 09:24 PM

Se esse Carré cá voltasse ficava admirado pela perseverança dos nossos hábitos

Publicado por: anonimo às novembro 6, 2003 11:36 PM

É o jardim florido, à beira mar pasmado

Publicado por: Daniel às novembro 11, 2003 09:38 PM

É o jardim florido, à beira mar pasmado

Publicado por: Daniel às novembro 11, 2003 09:38 PM

Foi pena o Carré não ter conhecido o Pinto da Costa. Senão ainda escrevia mais umas duzentas páginas de má língua sobre Portugal

Publicado por: Vitapis às novembro 12, 2003 12:41 AM

Não há dúvidas que as idiosincrasias de um povo não mudam facilmente.

Publicado por: Rui Sá às dezembro 8, 2003 04:40 PM

Esta revista era muito citada pelos escritores portugueses do século XIX e Herculano tentou fazer uma cá, com o mesmo título, mas durou poucos números

Publicado por: Ricardo às dezembro 9, 2003 11:48 PM

Esta revista era muito citada pelos escritores portugueses do século XIX e Herculano tentou fazer uma cá, com o mesmo título, mas durou poucos números

Publicado por: Ricardo às dezembro 9, 2003 11:48 PM

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