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outubro 02, 2003

O Crepúsculo dos Zeuses

Obrigado Zeus! Sei que me fez o maior elogio de que é capaz! Extasiado pela minha “superior cultura”, como diz, não podendo conceber que o nível cultural não esteja total e directamente correlacionado com o nível de testosterona no sangue, olha-me com sublime admiração e exclama: És homem! Tens que ser homem!

Celeste Cardona, a mulher que com férrea determinação subiu a pulso na vida, arrisca-se, no próximo Congresso do PP, a ser interpelada pelo nosso Zeus, com a veneração que ela lhe merece: Cardono! Vieste hoje com traje escocês? O kilt vai-te lindamente! Esse padrão é de algum Imortal? E a Cardona a sorrir-lhe, embaraçada, com aquele arrepanhar de lábios que parece uma cãibra.

E Paulo Portas a levar um abraço, bem possante, e a ser-lhe sussurrado ao ouvido: Paulo, és o máximo! Como está a tua testosterona? Toma atenção, menino!

Porque Zeus, por detrás das novas tecnologias, nets, etc., no que respeita à condição feminina parou no tempo e no espaço em que as sécias, abanando nervosamente os leques, açafatadas nos canapés, chilreavam brejeirices em surdina enquanto os peraltas das redondezas glosavam algum mote galante. E Zeus, de rosto fechado e indiferente a galanteios, vaidoso na sua casaca enchouriçada na gola e fina de abas, com sapato de fivela de latão, areada tão a preceito que parecia de prata.

Lembra-se, Zeus, de acompanhar o Manique a inspeccionar as damas às portas dos templos, avaliando se a cava dianteira descobria o peito a mais, se as pregas da saia deixavam adivinhar a conjunção voluptuosa de qualquer perna e se a fímbria se erguia do solo mais de um ou dois palmos e consentia a ostentação do tornozelo acima dos sapatinhos. E confesse que deve ter ajudado à redacção da circular que intimava as modistas a “não confeiçoarem os trajes femininos com a concisão lacónica que os figurinos indicavam, e que fazia que muitas damas se apresentassem em pública quase nuas”. Tanto a visão dos nossos tornozelos alvejando por baixo da fímbria, lascivamente subida, intimidava o Intendente!

Mas o seu momento de glória aconteceu quando, ao saber que Mme Entremeuse, presa por suspeita de contrabando, se havia queixado com veemência ao camarista do príncipe regente, você lançou as bases de uma teoria alternativa dos caracteres sexuais secundários. Você foi então peremptório: Uma mulher não ousaria nunca tomar semelhante expediente! A vida do regente corre perigo! Não é uma mulher; é um homem!

E o Manique, para lhe sossegar a consciência, lá a mandou prender novamente e determinou que o corregedor do Bairro Alto, acompanhado de um escrivão e de um físico examinassem a recalcitrante francesa para certificar o seu sexo.

Como vê, Zeus, não foi a primeira vez que você aplicou os seus conceitos sobre os caracteres secundários de diferenciação sexual!

Mas onde Manique sobretudo o apreciava era nas paradas, no seu posto de sargento-mor, à frente dos ordenanças, uniforme coçado pelos anos, peruca desbotada ao vento, agitando o bicórneo, bradando, com o seu poderoso vozeirão, vivas ao trono e ao altar, e dardejando imprecações tonitruantes à pedreirada que começava a levantar a cabeça com as ideias que vinham da França. Quantas vezes Manique lhe havia elogiado a postura: portugueses desta têmpera, é o que precisamos!

Pois é Zeus, você, nestas matérias, já era um anacronismo no fim do século XVIII.

21-Abril-2003

Publicado por Joana às outubro 2, 2003 08:41 PM

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Comentários

Nota:
Um comentador do Expresso online, com o nick ZEUS 8441, julgando que o que ele designava como “erudição” minha, indicava, sem margem para dúvidas, que eu seria do sexo masculino, passou a designar-me por D. João II (o meu nick era Joana II).
Este texto foi a minha resposta.

Publicado por: Joana às outubro 15, 2003 12:11 AM

Histórias da Carochinha que fazem a delicia da ociosidade.

O nosso D.João II,disfarçado de Cisne,desliza nas águas do calmo lago,lá no longinquo etéreo.

Publicado por: O PROCURADOR às outubro 21, 2003 02:51 PM


Não posso deixar de ficar satisfeito que o D.João II da minha estimação me tenha dedicado,ainda que acintosamente,um escrito sobre o meu periodo crepuscular.

As múltiplas ofensas sofridas no online do Expresso do meu ódio foram razões,mais do que suficientes,para me afastar de tão pestilento lugar.

Aqui e além ainda surgem algumas flores nesse pantanal,muito possivelmente enganadas pelo vento que, inadvertidamente, ali as depositou.

Há quem não deseje o crepúsculo da sua intervenção e continue a insistir,mau grado o odor de alguns dos escritos.

Até quando resistirão?

Eu resisti até ao momento em que descobri que um "indigena", que se dizia meu conhecido de longa data, me ultrajou.

Um infeliz que merecia tribunal.
Para quê?
Ele é já um maltrapilho de alma e coração.
Nem Deus o quis no seu seio.

Para o meu Principe Perfeito,os votos de felicidades.

E continuo convicto que a cultura demonstrada tem sabor masculino.

UM ABRAÇO

Publicado por: ZEUS 8441 às outubro 22, 2003 01:27 PM

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